Durante anos, fomos ensinados a separar pessoas por idade, como se cada fase da vida fosse um compartimento com valor específico. Jovens seriam “a inovação”. Maduros seriam “a experiência”. E o mercado, por muito tempo, organizou suas escolhas a partir dessa lógica, sem perceber que o futuro exige justamente o contrário: a capacidade de conectar gerações, não de separá-las. Recentemente, tive a oportunidade de fazer um bate-papo com o especialista em diversidade etária Mauro Wainstock, que trouxe uma reflexão profunda sobre o envelhecimento, o etarismo e o papel da liderança na construção de ambientes mais humanos e mais inteligentes.
Hoje, o Brasil possui cerca de 33 milhões de pessoas com mais de 60 anos, e a expectativa de vida continua crescendo. Se viveremos mais, então não faz sentido pensar em vidas profissionais que se esgotam aos 40 ou 50 anos. O mundo do trabalho está mudando, mas nossos imaginários ainda carregam preconceitos antigos. E o mais curioso: o etarismo não atinge apenas os mais velhos. Jovens também são rotulados, comparados, diminuídos, como se precisassem “provar” que têm direito a estar onde estão. Esse ciclo de exclusão fragiliza a relação entre todos.
Segundo Mauro, antes de falar em inclusão, é preciso parar de excluir. E isso começa na linguagem, nos rótulos, nas piadas, nas generalizações. Quando enxergamos cada pessoa em sua singularidade, valorizando sua história, sua trajetória e sua bagagem, abrimos espaço para colaboração genuína entre as pessoas de diversas faixas etárias. E colaboração é a energia vital da inovação.
Quando assumimos que “cada geração tem algo a ensinar e algo a aprender”, o ambiente se transforma. Times mais diversos em idade tendem a ter melhor clima organizacional, maior capacidade criativa e resultados financeiros mais consistentes. Em várias empresas que Mauro acompanhou, a simples criação de espaços de mentoria cruzada (jovens ensinando e aprendendo com maduros, e vice-versa) já gerou ganhos de engajamento, produtividade e confiança. O que antes era barreira se torna ponte.
Mas há um ponto essencial: não basta misturar pessoas de idades diferentes no mesmo ambiente. É preciso criar contexto, linguagem, segurança psicológica e propósito compartilhado. Liderar times intergeracionais exige curiosidade, paciência e humildade. Exige entender que cada pessoa está em um ciclo de vida diferente e que isso não é problema, muito pelo contrário. São justamente estas diferenças que trazem perspectivas diferentes para solucionarem juntos, e melhor, os problemas que enfrentam enquanto equipe.
Como bem reforçou Mauro, estamos entrando em uma era em que o mais importante não é “quantos anos você tem”, mas “como você se relaciona com o tempo que vive”. Quando falamos em diversidade etária, não estamos falando apenas de trabalho, mas estamos falando da nossa própria sociedade. Se queremos construir um futuro mais inteligente e mais humano, precisamos aprender a honrar o tempo e todas as oportunidades de aprendermos com as pessoas de todas as idades.
Daniel Rodrigues
Fundador da CCLi Consultoria Linguística, Empreendedor, Mentor e Palestrante daniel.rodrigues@cclinet.com.br
