UMA BIBLIOTECA ATRAENTE
“A biblioteca da meia-noite”, do autor de best-seller inglês Matt Haig (1975-), vendeu mais de 2 milhões de exemplares pelo mundo e foi um dos livros mais procurados no primeiro semestre de 2024, no Brasil. Vencedor do prêmio Goodreads de Ficção de 2020, entrou para a lista dos maiores jornais internacionais e tem conquistado muitos leitores.
Nora Seed é uma mulher de 35 anos, cheia de talentos e poucas conquistas. Solitária, perdida em meio a muitos projetos abandonados ou fracassados, sem dinheiro e esperança, ela resolve atentar contra a própria vida. É quando tem a oportunidade de visitar a biblioteca da meia-noite. Um espaço repleto de livros, um para cada uma das infinitas vidas que poderia ter vivido caso tivesse feito escolhas diferentes ao longo de cada instante de sua existência. Ela é, então, convidada a visitar algumas dessas existências paralelas em busca de uma que a agrade, de fato.
O romance traz muitas referências a estudiosos e intelectuais. Na sua vida “raiz”, Nora é formada em Filosofia e vive citando pensadores. Em especial, Henry David Thoreau, um dos seus favoritos. A obra traz, ainda, várias referências literárias. Uma bela epígrafe de Sylvia Plath abre a história. Uma tentativa, talvez, de sofisticar uma narrativa que certamente foi escrita com o objetivo de conquistar leitores e, eventualmente, ser adaptada para o cinema.
Não quero, com isso, desmerecer o livro. Ele nos leva a interessantes conjeturas. Ponderações sobre os eventuais caminhos que poderíamos ter tomado ao longo de nossa vida ou as inúmeras decisões que tomamos cotidianamente e que podem ser decisivas para rumos sequer cogitados. Veja que a ideia central de “A biblioteca da meia-noite” não se refere às vidas que poderíamos ter tido caso tivéssemos feitos escolhas decisivas diferentes. Ela se refere às escolhas que fazemos a todo o instante, por mínimas que sejam, e que poderiam funcionar como variantes para novos destinos.
O livro retoma ideias da Física Quântica, que parecem estar em voga nos últimos tempos, tais como os estudos que levantam hipóteses de que a realidade seria uma projeção. Aliás, um dos pontos que chamou a minha atenção, no livro, é a alusão à experiência mental do Gato de Schrödinger, desenvolvida pelo físico austríaco Erwin Schrödinger. Uma reflexão que envolveu Albert Einstein e que alude à suposta existência de mundos sobrepostos.
Nesse aspecto, Matt Haig foi certeiro ao resgatar para a sua ficção essas (complexas) teorias que se esbarram na filosofia e se mostram interessantes em tempos em que vários mundos estão em convivência. Eu me refiro aos universos virtuais que fazem com que sejamos, por vezes, personagens de nós mesmos.
“A biblioteca da meia-noite” se apoia em uma ideia atraente. Sedutora, na medida em que parece nos transportar para além do banal e do comum. Uma diversão que, acredito, você verá em breve nos cinemas!
A BIBLIOTECA DA MEIA-NOITE
Matt Haig
Editora: Bertrand Brasil (2021)
Páginas: 308
Preço: R$ 59,90 (Em sebos virtuais a partir de R$ 30)