Um dos livros mais vendidos, no Brasil, em 2024, foi “A filha dos rios”, do escritor búlgaro radicado no Amazonas, Ilko Minev (1946-). O autor, “Cidadão Honorário de Manaus”, publicou outros títulos, como “Na sombra do mundo perdido” (2018) e “Onde estão as Flores?” (2021), verdadeiros bestsellers que o projetaram Brasil afora.

Minev chegou a frequentar a faculdade de Letras, em Sofia, mas se graduou em economia, na Bélgica, onde viveu como asilado político. Mudou-se para o Brasil em 1972 para trabalhar na Zona Franca, mas acabou se tornando sócio de uma loja de departamentos. Um dado curioso é que ele iniciou sua carreira como escritor depois da aposentadoria, aos 66 anos.

“A filha dos rios”, assim como seus outros romances, retoma a vivência do escritor no Amazonas. Ao que consta, Minev, forte representante da comunidade judaica búlgara no estado, circulou muito pela região e acumulou histórias que ilustram sua ficção.

“A filha dos rios” é Maria que, no início da narrativa, tem 15 anos. Sua mãe, desconfiada dos olhares do marido em direção à filha, pede a Adriano, um jovem viajante que lhe inspira confiança, que a leve da região isolada e sem perspectivas onde viviam.

Maria e Adriano descem o rio Purus e se instalam em Surara. Lá, Maria aprende a cozinhar e a relação com Adriano se torna um relacionamento amoroso. Os dois seguem a Manaus, onde conhecem um casal, Benjamim e Nina Malul, com quem partem para Quatro Ases, um seringal na fronteira do Brasil com a Bolívia.

Mas as coisas não saem como o esperado. Um surto de febre amarela surpreende o grupo alguns anos depois. Cada casal tinha, então, dois filhos. Apenas Maria e três crianças sobrevivem. É necessário recomeçar. E Maria o fará deixando Quatro Ases em direção ao garimpo. Trabalhando como cozinheira em uma boate, ela conhecerá uma família de judeus búlgaros, que trará novos rumos para a sua vida e a de seus filhos.

“A filha dos rios” mostra um escritor de estilo fluido, com pleno domínio do enredo, a organizar o conteúdo de maneira muito particular. Minev tem traquejo técnico. Ele circula pela história e a narra por perspectivas diversas, introduz fatos e personagens sem se perder em meio a eles.

É certo que sua história, por vezes, se esbarra em elementos clichês. Pessoas trabalhadoras e corajosas que conseguem uma vida melhor, mocinhas que descobrem o amor, o recomeço depois de uma perda. Isso sem falar nas cenas de sexo, cheias de lugares comuns e absolutamente dispensáveis.

“A filha dos rios”, porém, é uma viagem pelo interior do Amazonas. Talvez esta seja uma das grandes contribuições do livro. A riqueza com que aborda a região e os fatos mais marcantes de sua história nas últimas décadas. Assim, o enredo de “A filha dos rios” parece se diluir em meio ao cenário, que ganha enorme força na narrativa. Vale a pena conhecer!