METAMORFOSE
Há exatos 112 anos, 17 de novembro de 1912, um rapaz de 29 anos chamado Franz Kafka (1883-1924) começava a compor “A metamorfose”. Uma de suas histórias mais famosas, ela foi escrita ao longo de vinte dias de trabalho intenso e publicada pela primeira vez em 1915.
Muito do processo de criação da novela foi relatado em cartas escritas para sua noiva, Felice Bauer. Sabemos, por meio delas, que sua intenção inicial era escrever o texto de uma só vez. Essa “história repulsiva” (suas palavras) teria extensão curta, mas ganhou uma lógica interna e exigiu três capítulos.
Kafka não gostou do final da narrativa e fez menção a isso mais de uma vez. O fato, porém, é que “A metamorfose” impressiona pela originalidade e estilo, independentemente de supostos (des)gostos do seu autor, um rapaz nascido em Praga, hoje capital da República Tcheca, na época parte do Império Austro-Húngaro.
Ao que consta, Kafka leu a história para os amigos, que teriam gargalhado face ao grotesco que a perpassa. Um belo dia, Gregor Samsa, um bem-sucedido caixeiro viajante, acorda metamorfoseado em um enorme inseto. Trata-se de um ser repugnante, que, pela descrição, seria uma barata gigante. São várias as etapas pelas quais passa Gregor metamorfoseado.
Em um primeiro momento, ele precisa se adaptar ao novo corpo, aprender a se movimentar e a comer, compreender que não pode se comunicar com a família. O fato de ouvir seus membros, porém, lhe proporciona um aprendizado. Ele pouco a pouco se apercebe da dinâmica familiar, dos que frequentavam a casa, dos traços particulares de cada um e do quanto ele, que antes os sustentava, se torna um problema assombroso. Um enorme desgosto se instala na casa e, principalmente, no protagonista. Trata-se de um sentimento que surge simbolizado em uma maçã. Arremessada contra ele, ela fica enfincada em suas costas, apodrece dia a dia e será decisiva para o seu destino.
“A metamorfose” é uma história mundialmente famosa e que continua a conquistar leitores geração após geração. Diferente dos amigos de Kafka que gargalharam face à sua bizarrice, o leitor contemporâneo, talvez mais afeito a composições que beiram o fantástico, caso da história criada por Kafka, experimenta o sentimento de contenção angustiante. Este, aliás, se encontra muito imbricado em toda a obra do escritor.
Como toda narrativa fantástica ou, ainda, literatura do absurdo, como por vezes é chamada, em “A metamorfose” os fatos mais disparatados são descritos como normais. O estranho é parte do mundo. E não provoca espanto. Levada às últimas consequências, a metamorfose de Gregor Samsa se configura como uma espécie de denúncia da irracionalidade do mundo moderno e se torna porta de entrada para profundas discussões filosóficas, culturais, sociais, etc... Um texto que não me canso de ler!
A METAMORFOSE
Franz kafka
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 96
Preço: R$ 59,90 (Em sebos virtuais a partir de R$10)