IDEOLOGIAS E AS VERDADES SOB MEDIDA
Cada povo tem sua cultura. Os conhecimentos em grande parte transmitidos oralmente entre as gerações não tem compromisso com o rigor científico. Refiro-me às crendices, às receitas caseiras de medicamentos, cosméticos e tudo o que faz parte do conhecimento popular. Já o conhecimento formal, acadêmico obrigatoriamente deve estar fundamentado na ciência em seus diversos campos: exata, natural, humana e histórica.
A ciência popular, antes ensinada pelos mais antigos e afirmada com tanta certeza, ganhava peso de verdade e isso no senso comum naturalmente veio se perpetuando. Estranhamente agora, não são os antigos os professores da cultura popular. São os influenciadores digitais, ativistas e militantes de variadas ideologias e movimentos.
Acima de qualquer coisa, o respeito pela vida humana é um princípio fundamental numa sociedade. Se essa máxima fosse absoluta, não existiriam vítimas de violência, mas infelizmente entre o ideal e o real existe a maldade humana. Assim, causas identitárias são legítimas, no entanto, pela defesa delas, alguns desonestos buscando mais autopromoção do que o bem comum, criam narrativas. O problema é que muitos de nós ouvimos e validamos sem ao menos fazer uma pesquisa simples para confirmar a veracidade das informações.
Por que o Brasil se contenta com a superficialidade? De que adianta criticar governos que não priorizam a Educação quando o próprio povo também não o faz?
O maior exemplo disso é a censura linguística que temos vivido em razão da popularização de conceitos sem bases científicas. Alguns exemplos:
Gênero neutro: No latim havia os gêneros masculino, feminino e neutro. No latim vulgar, o neutro se funde ao masculino permanecendo assim no português. Dessa forma quando se generaliza ou se usa o plural como em “Bom dia a todos” por exemplo, estão incluídos masculino e feminino. Não se trata de machismo, mas de estrutura linguística.
“Criado-mudo”: a palavra vem de “dumbwaiter”, um pequeno elevador doméstico de carga. Com o tempo passou a designar um móvel auxiliar para pratos e talheres. Passando para o quarto como apoio lateral da cama, no Brasil foi chamado de “donzella” e não há nenhuma comprovação histórica de que essa expressão se refira aos escravizados que tinham suas línguas cortadas.
“Denegrir”: origem do latim “denigrare” que significa “manchar”; “sujar”. A palavra nada tem a ver com questões étnicas.
“Aluno”: tem se propagado pelas escolas que o significado de “aluno” é “sem” (a) “luz” (luno, lumini). Na verdade, a palavra deriva do latim “alumnus”, que significa “criança de peito; lactente; menino”. Estende-se o significado também a “discípulo”.
O que nos faz diferentes das outras espécies é a razão. A capacidade de analisar, decidir e fazer escolhas é preciosa. Ouvir e repetir sem avaliar é inutilizar essa capacidade. A internet é um excelente instrumento de pesquisa ou de alienação. A diferença entre uma coisa e outra está exatamente no uso da inteligência e do bom senso.