O turismo de massa deixou de ser uma atividade incontestável e desejável, mesmo diante de seus impactos econômicos positivos, como a geração de empregos, o fortalecimento da cultura local e os lucros. Com o aumento desenfreado de visitas predatórias que transformaram os turistas em invasores que ocupam e usufruem da cidade inteira em detrimento dos moradores, surgiu um incômodo generalizado. A falta de regulamentação específica para aluguel de curta temporada, o aumento do custo de vida, danos ao meio ambiente e as multidões criaram o cenário para a tempestade perfeita.

Os ativistas anti-turismo organizaram protestos em Barcelona, Palma de Maiorca e Málaga, levaram faixas com o slogan “Tourists go home” (Turistas, voltem para casa), pelo fim da precarização e impedimento de viver em suas próprias cidades, em uma tentativa de mitigar os efeitos do turismo excessivo, quando a cidade alcança o limite máximo suportável, exercendo pressão sobre seus recursos naturais e qualidade de vida urbana.

A questão de ver o outro como um inimigo que invade o espaço e atrapalha a vida é apenas um recorte do individualismo e egoísmo que está infiltrado na matriz do modo de vida moderno. Submetidos à pressão da visitação intensiva, a complacência dos cidadãos desaparece e isso expõe a dificuldade de convivência com o diferente. Aliado à espetacularização do turismo e o consumo massivo e ávido por locais famosos e fetichizados, os visitantes se perdem em itinerários exaustivos e apressados com registros para redes sociais e selfies de costas para os monumentos.

A “turismofobia” é um fenômeno sociocultural com raízes profundas e que permeia a compreensão de territorialidade, fronteiras, posse, imigração e xenofobia. Somos todos visitantes, turistas neste planeta e experimentar a existência plenamente e sem fronteiras deveria ser um direito universal. Porém, temos muito a aprender com relação a coexistência, urbanidade e gentileza com os outros, que no final somos nós mesmos, espelhados, flanando pelo mundo.