SOBRE PONTES E MUROS
Impossível avistar a linha do horizonte, onde mora a utopia, pois há muitos muros altos que limitam a visão e por consequência a compreensão e fruição do mundo. Nas ruas repletas de muralhas neomedievais, raras são as gentilezas urbanas, fachadas permeáveis e a possibilidade de convívio social sadio, o novo normal é a onipresença da arquitetura hostil.
Nas cidades, as paisagens urbanas e caminhos agradáveis são raríssimos, há um padrão de fachadas espremidas e desarticuladas, que se encontram ocultas atrás de emaranhados de fios, meios-fios, meias calçadas, muitos buracos, poucas árvores e raríssima acessibilidade.
Propaga-se a melancólica repetição em larga escala da monotonia urbana; no entanto, algumas frestas se abrem nas barreiras físicas e simbólicas que permeiam o espaço urbano, as pessoas sonham e resistem ao legado opressor.
No sonho existem muitas pontes e nenhum muro, invenções humanas que paradoxalmente são constituídas da mesma matéria: o concreto armado, desalmado agregador da matéria que constrói o mundo e separa pessoas.
Na imaginação o poder público e a iniciativa privada conseguem aproveitar o ano que se inicia para criar cidades inclusivas com novos caminhos e sem barreiras ao bem viver.