ECOS SURDOS DA INCLUSÃO
Na metade do século XVIII, o abade francês Charles-Michel desenvolveu um sistema de sinais para alfabetizar crianças surdas que serviu como base para que os outros países criassem sua própria língua de sinais, portanto não existe uma língua universal. Cada país tem a sua Língua de sinais e cada Língua não é apenas uma forma de comunicação, mas trata-se de uma Língua de fato, composta por diferentes níveis linguísticos, com expressões e estruturas gramaticais próprias.
No Brasil, a Libras (Língua Brasileira de Sinais) desempenha papel fundamental para a inclusão da pessoa surda. Desde a infância, o acesso a Libras permite que a criança surda comunique-se de forma eficaz com o mundo ao seu redor, expressando-se de maneira autêntica, natural e desenvolvendo habilidades essenciais à sua plena formação.
A família é fundamental nesse processo. Quando todos em casa usam Libras, a comunicação é fortalecida, proporcionando para a criança surda um sentimento de pertencimento, apoio e autoconfiança. A inclusão do surdo começa em casa.
O estudante surdo que se comunica em Libras tem direito a um intérprete que o acompanhe na escola em todos os níveis de ensino. Também tem direito ao AEE – Atendimento Educacional Especializado.
Os surdos, apesar de conquistarem avanços, ainda enfrentam desafios e teriam mais chances se houvesse oportunidades para o exercício de suas capacidades como cursos de Libras; maior número de intérpretes em locais públicos e privados; acesso à saúde; cursos de profissionalização; aparelhos auditivos e fonoterapia além do ensino bilíngue, que possibilita domínio e fluência da Libras como primeira Língua e da Língua Portuguesa como a segunda.
O bilinguismo é uma reivindicação antiga da comunidade surda, porque promove melhor desenvolvimento de habilidades cognitivas, sociais e profissionais, oferecendo ao indivíduo igual oportunidade de acesso e permanência no mercado de trabalho e na vida acadêmica. Além disso, valoriza a cultura e a identidade surda. O Decreto 10.502/2020, que contemplava a Educação Bilíngue seria uma conquista para os surdos, mas por divergências políticas e ideológicas, foi suspenso e em 2023, revogado.
Um equívoco que precisa ser evitado é referir-se à pessoa surda como “surdo-mudo”. Na verdade, a maioria tem capacidade fonatória e só não fala porque não ouve. Com um bom trabalho fonoaudiológico é possível oralizar.
Embora a inclusão dos surdos tenha avançado, os desafios permanecem. Sem um compromisso firme dos governos e da sociedade por oportunidades educacionais adequadas e acessibilidade, as chances de desenvolvimento ficam reduzidas. É preciso que a Educação seja tratada como uma prioridade e não como um joguete político. A inclusão exige esforço e políticas públicas consistentes com foco em resultados reais.