DE 0 A 10: O ALUNO POR TRÁS DA NOTA
Fim de ano. Provas finais. Angústia para alguns, alívio para outros e nas escolas a correria para fechar as notas dos alunos para o Conselho Final.
Engana-se quem pensa que só os alunos sofrem com isso. Professores também carregam esse peso, afinal, ninguém quer cometer injustiças. Para alunos que mantém um desempenho linear durante o ano, a situação é mais fácil, mas e aquele aluno que se esforça, se dedica e ainda assim vai mal? Ou aquele que tem bom rendimento, mas que naquela prova específica não conseguiu um bom resultado? Tem também aquele que não estuda, não se dedica, apronta todas, mas que surpreende com um bom desempenho. Alunos com baixo desempenho também nos preocupam, mas ainda assim tentamos de todo o jeito considerar algum acerto. O mais difícil, no entanto, são aqueles alunos que vivem uma realidade tão precária, tão privada dos direitos fundamentais que a escola passa a ter o último lugar em suas vidas. A prioridade é sobreviver mais um dia.
A atribuição de notas, segundo alguns autores, deve se limitar à avaliação dos objetivos pedagógicos alcançados. Parece simples, mas a realidade da sala de aula é muito mais complexa. É quase impossível separar o aluno do seu contexto socioemocional. A estrutura familiar, moradia, alimentação, saúde, bem-estar. Um ambiente de afeto, valorização, importância e segurança, com boas referências e apoio diante das dificuldades, são aspectos que tornam crianças e jovens mais predispostos para o aprendizado formal e com boas expectativas para o futuro.
Diante da realidade em que alguns alunos tem condições favoráveis para o seu desenvolvimento e outros, não; nós, professores, enfrentamos o dilema: como avaliar de forma justa? Como atribuir notas que reflitam o aprendizado, mas que também considerem as dificuldades enfrentadas? A pressão por resultados e as tentativas de quantificar o conhecimento, muitas vezes, obscurecem a complexidade do processo de ensino-aprendizagem.
A maior angústia do professor está em saber que, por trás de cada nota, há uma história de vida. Uma nota baixa pode reforçar ainda mais a sensação de fracasso, mas, por outro lado; aumentar a nota pode desconsiderar as reais dificuldades de aprendizagem.
Nosso trabalho é encontrar nesses alunos algum interesse e a partir disso apresentar-lhes às suas próprias capacidades e potencial. Fortalecê-los e guiá-los por um caminho onde os obstáculos, apesar de grandes, podem ser removidos. Revelar-lhes a Educação como ferramenta poderosa de transformação da realidade.
A verdade é que nossa função vai muito além dos conteúdos curriculares e da atribuição de notas, entretanto, apesar de imersos nas grandes realidades de cada um desses alunos, dadas as nossas limitações, ironicamente nosso problema, muitas vezes, continuará sendo a pequenez das notas de desempenho.