Amor, fé e atitude para poder vencer
Considero difícil escrever em primeira pessoa, mas vou tentar.
Frequentemente, gosto de arrumar um tempinho para ficar comigo mesma, para refletir sobre a vida... Nesses momentos percebo, feliz, que este relacionamento vai muito bem, me proporciona paz e bem-estar.
Então, reconheço esta paz interior como uma das minhas grandes conquistas!
A imaginação me leva aos tempos de infância, onde as dificuldades eram muitas. Era difícil até exercer o direito de ser criança!
Lembro-me bem! Aos domingos, eu e minhas irmãs colocávamos a melhor simples roupa e o melhor simples calçado (eram reservados para isso) e vínhamos a pé, com nossos pais, “à cidade”, para ver a fonte luminosa da Praça Rui Barbosa (que, quem diria, hoje fica defronte à minha janela) e admirar as vitrines das lojas com tantas coisas bonitas, mas inacessíveis para nós!
Nem nos preocupávamos com o cheiro de pipoca, algodão-doce ou pirulito de tabuleiro... Era muito nítido, para todas nós, que o dinheiro da família dava apenas para pagar as despesas básicas de casa e comprar os livros! Nem a inocência própria de criança fazia a gente pensar diferente.
Olhando as vitrines, minha mãe nos animava: quem sabe, no Natal, se passássemos de ano, de preferência ficando entre os primeiros lugares, ganharíamos algo do Papai Noel. Mas teríamos que escrever uma cartinha para ele, além de “colocar capim” para o seu cavalinho...
Nunca me esqueço! O meu grande sonho, muitas vezes, era ter uma “bola bexiga”!
Lembro-me de que, em minha casa, apesar da pouca diferença de idade entre nós quatro (é uma “escadinha”), minha mãe sempre dizia, decidida: “as duas grandes” e “as duas pequenas”.
O problema de eu estar entre as duas grandes (sou a 2ª) é que nunca eu conseguia realizar o meu maior sonho: ter uma “bola bexiga” só para mim!
Nas raras vezes em que meus pais compravam, eu tinha que me contentar conseguindo rebater a bexiga tão linda, colorida, que só vinha para o meu lado, se eu contasse com a sorte...
Aí eu ficava triste por não ser “pequena” também!
Ah! O carrinho de boneca! Esse eu consegui improvisando uma cadeirinha que meu avô Lelo fizera para mim, com pedaços de madeira. Eu a cobria com um pano, colocava a bonequinha considerada uma relíquia (dizíamos “boneca de caixa”), com a qual eu precisava brincar com cuidado, quando minha mãe deixasse, para não estragá-la. Depois eu puxava a cadeirinha como se fosse um carrinho de bebê (com a boneca dentro).
O carrinho era o Tonico e a boneca, a Japonesinha. Ainda estão guardados! São testemunhas de uma infância feliz, apesar de todas as adversidades desencadeadas pelo dinheiro escasso, quase impossível para a realização de sonhos de criança, por mais simples que eles fossem...
Hoje, tenho a certeza de que a fé impulsiona a vida! Minha mãe nunca se entregou às dificuldades. Reagia com trabalho, determinação e coragem! Nunca abandonou seu sonho de ver suas filhas formadas, o que, na época, era privilégio de poucos. Ela sabia que o estudo era o caminho!
Lembro-me de suas proféticas, motivadoras e rotineiras conversas com meu pai, cansado, depois de um dia de trabalho excessivo, mas com salário limitante: “As dificuldades são muitas, José! Mas as meninas estão estudando e, um dia, tudo será melhor!”
Tenho também a certeza de que a mais pura e verdadeira riqueza nunca nos faltou: o amor! Ele tudo vence, tudo supera!
Meu pai já se foi, sorrindo, com a certeza do dever cumprido...
Minha mãe continua linda, apaixonada pelas suas filhas (que para ela, continuam meninas), pela família, pelos livros e pela vida...
Com meus pais aprendi a ser resiliente, a lutar pelos meus objetivos e a agradecer a Deus pelas minhas conquistas.
E hoje, nos momentos em que sou a minha própria companhia, a palavra recorrente que me vem à mente é “gratidão”!