Tamanho da fonte

A saga no pós-Covid

ArtigoA saga no pós-Covid

A pandemia de Covid-19 causada pelo vírus SARS-CoV-2 ainda impõe desafios aos pacientes que tiveram formas graves da doença e necessitaram de ventilação mecânica — em sua maioria, idosos intubados e que permaneceram internados em unidades de terapia intensiva. Muitos desses sobreviventes ainda apresentam efeitos persistentes e enfrentam um quadro crônico devido a alterações funcionais e estruturais nos pulmões.

Ao se avaliar a função pulmonar desses pacientes, observa-se redução da capacidade vital forçada e da capacidade pulmonar total. Estudos demonstram que 30% deles apresentam alterações fibróticas pulmonares residuais (cicatrizes) entre três e seis meses após a infecção inicial, independentemente da idade ou histórico prévio de doença pulmonar.

Além disso, há maior suscetibilidade a infecções e, por vezes, necessidade contínua de cuidados especializados. Publicações acumuladas revelam que a recuperação plena, na maioria dos casos, é lenta e incompleta, com limitações significativas na qualidade de vida, como a perda de massa muscular em grande parte dos pacientes.

A imobilização prolongada a que foram submetidos contribui para a síndrome pós-cuidados intensivos, resultante da perda global de massa muscular, descondicionamento físico e alterações cognitivas, dificultando a reabilitação e, muitas vezes, perpetuando os sintomas respiratórios.

Um dos aspectos mais relevantes na evolução a longo prazo desses indivíduos é a maior suscetibilidade a infecções respiratórias recorrentes. Essa predisposição decorre da combinação entre alterações anatômicas permanentes e da imunoparalisia pós-Covid — um estado de disfunção imunológica caracterizado por linfopenia persistente, redução da resposta fagocítica e disfunção das células apresentadoras de antígenos. Esse estado imunológico comprometido reduz a resposta efetiva a germes comuns e oportunistas, tornando os pacientes vulneráveis a pneumonia bacteriana recorrente, bronquite crônica infecciosa, colonização brônquica por germes hospitalares multirresistentes e infecções virais respiratórias como influenza e vírus sincicial respiratório. Além disso, estudos indicam que a resposta vacinal em alguns desses pacientes pode ser atenuada, especialmente naqueles que utilizaram corticosteroides ou outras terapias imunossupressoras durante a fase aguda da doença. Ressalte-se ainda que os idosos são imunossenescentes, ou seja, possuem uma imunidade naturalmente comprometida.

Do ponto de vista prático, o seguimento desses pacientes exige vigilância clínica estreita, com consultas regulares e avaliações periódicas da função pulmonar e do estado imunológico. Exames laboratoriais e de imagem devem ser solicitados conforme a apresentação clínica, e culturas de escarro e aspirado traqueal são indicadas em casos de sintomas respiratórios recorrentes, febre inexplicada ou piora da oxigenação. A instituição precoce de antibioticoterapia empírica nos casos suspeitos de infecção bacteriana deve considerar o histórico de internação prolongada, a presença de bronquiectasias e os dados microbiológicos prévios, com atenção especial para agentes como Pseudomonas aeruginosa, Klebsiella pneumoniae e Staphylococcus aureus resistente à meticilina. Concluindo, as medidas de prevenção de infecções devem ser priorizadas, com especial atenção à atualização do calendário vacinal. A vacinação contra Covid-19 com doses de reforço, contra influenza sazonal, vacina pneumocócica conjugada e, quando indicada, contra o vírus sincicial respiratório são fundamentais para reduzir o risco de infecções graves. A reabilitação pulmonar é uma das intervenções mais eficazes na recuperação desses pacientes e, iniciada precocemente após a alta hospitalar, preferencialmente em ambiente ambulatorial supervisionado, tem potencial para melhorar a capacidade funcional. O acompanhamento regular deve ser multidisciplinar, com atuação integrada de fisioterapeutas, nutricionistas, psicólogos e outros profissionais da saúde, sendo fundamental o seguimento médico contínuo, preferencialmente por um especialista em pneumologia.

Sem publicações!

Publicações somente aos domingos

Publicações

Não encontramos resultados para sua busca.

Revista digital