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IGREJA DA REDENTORA: ÍCONE ARQUITETÔNICO E CULTURAL DE RIO PRETO

ARQUITETURAIGREJA DA REDENTORA: ÍCONE ARQUITETÔNICO E CULTURAL DE RIO PRETO
Após o telhado ser danificado por um vendaval em dezembro de 2023, a Paróquia Nossa Senhora do Sagrado Coração enfrenta desafios durante sua reforma, visando recuperar e preservar o seu legado histórico

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Fundada na década de 1950, a Paróquia Nossa Senhora do Sagrado Coração, mais conhecida como Igreja da Redentora, é um verdadeiro ícone arquitetônico de Rio Preto devido à sua beleza e ao papel histórico e cultural. Sua estrutura é marcada pelos imponentes arcos de madeira Hauff que compõem a sustentação do teto da igreja, atribuindo à edificação um profundo valor identitário e afetivo, que não apenas realça a estética da construção, mas também simboliza a história cultural e religiosa para a comunidade católica.

A Igreja da Redentora é a primeira de uma série de reportagens iniciada hoje pela revista Bem-estar a respeito dos prédios de Rio Preto que têm inestimável valor histórico.

Em dezembro de 2023, um forte vendaval danificou severamente o telhado da igreja, e o local foi interditado pela Defesa Civil. Até que a reforma seja concluída, as missas têm sido realizadas no salão paroquial.

“A igreja dedicada a Nossa Senhora do Sagrado Coração se insere em um grupo de prédios históricos da cidade, e seu valor arquitetônico é inegável, considerando a época em que foi construída e os métodos utilizados.

Os arcos, da mesma forma, fazem parte dessa realidade, mas não apenas eles. O prédio, em sua totalidade, tem recebido a atenção de todos os envolvidos em sua recuperação e preservação”, afirma a paroquiana Michelle Magri.

Sob seus arcos de madeira, a igreja verdadeiras abriga obras de arte, como as telas pintadas a óleo pelo saudoso José Antônio da Silva, que compõem a Via Sacra, além de imagens, esculturas e a Via Sacra entalhada pelo escultor Conrado Moser. No entanto, após o destelhamento, parte das peças, como as grandes esculturas em madeira, foram colocadas em áreas da própria igreja que não foram afetadas e possuem laje, enquanto outras, como as telas do Silva e demais obras, foram transferidas para um espaço locado, especialmente projetado para conservação, onde estão guardadas com segurança.

“A igreja é, de certa forma, um espaço cultural, onde todos têm acesso ao acervo. Sempre foi uma prioridade a preservação desse acervo, e nossa fé também é transmitida pela arte, o que, indiscutivelmente, reforça o compromisso com a preservação do patrimônio”, pontua Michelle.

Reforma gera polêmica

A reforma do telhado tem gerado controvérsias, especialmente quanto à substituição dos arcos de madeira por arcos de aço. Apesar de a igreja não ser oficialmente tombada pelo Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Cultural e Turístico (Comdephact), tanto o órgão quanto um grupo de fiéis defendem a manutenção dos arcos de madeira para preservar a identidade histórica e estética da construção. Por outro lado, a Paróquia apoia a substituição por arcos de aço, argumentando que a decisão é baseada em considerações técnicas.

De acordo com a paroquiana Michelle Magri, a comunidade está dedicada a encontrar um projeto que concilie a preservação histórica, respeitando critérios essenciais como a segurança, com as exigências atuais. Ela ressalta que as telhas, por exemplo, não poderão ser as mesmas, pois o material utilizado originalmente não está mais em uso. Essa substituição exigirá ajustes técnicos, sempre mantendo o respeito pela arquitetura original da igreja, conforme estabelecido desde o início.

“Foi uma bênção que, em dezembro passado, a queda das telhas não tenha resultado em nenhuma vítima. A partir desse incidente, todos os levantamentos priorizam a segurança. Quanto aos prazos, ainda não é possível determinar uma data. Ela será estabelecida quando a fase de projetos for concluída”, ressalta Michelle.

AS OBRAS DE ARTE DA REDENTORA
  • A imagem de Jesus Crucificado, localizada no centro do presbitério, a imagem de Nossa Senhora do Sagrado Coração, à direita do presbitério, e a imagem do Bom Pastor, na entrada da igreja, são obras de Golfredo Thaler, de Treze Tílias, Santa Catarina.

  • As imagens de Nossa Senhora das Dores, São João Evangelista, Moisés, Elias, São Pedro e São Paulo, no presbitério; a imagem do Sagrado Coração de Jesus e Santo Antônio, na Capela do Santíssimo; a imagem de São Francisco; a imagem de São Miguel Arcanjo, na entrada da igreja; a imagem de São José, na sala de atendimento do Pe. Leonel; e a Via Sacra e os Anjos ao redor do trono de Nossa Senhora do Sagrado Coração são obras de Conrado Moser, também residente em Treze Tílias, Santa Catarina.

  • A pia batismal foi desenhada pelo Prof. Dr. Hélcio José Lins Werneck As 14 estações da Via Sacra foram doadas em memória de: Luciana do Amaral Mendonça Ferraz, Antônio da Silva Faria Junior, Flávio Américo Silva e José Roberto Silva, Alceu Lemos de Medeitos, Irmã Orene Borges, Alzira Valle Rollemberg, Américo Leva e Alice Pacha, Miguel Buchala, Percival Reis Homsi, Vicente de Paulo Barbosa, Guilherme Cícero, José Ferraz, Antônio Neves de Azevedo e Maurílio Augusto Rossetini Mansor.

  • As imagens foram doadas em memória de: Pedro Floriano, Frederico Trevisan, Elias Mahfuz, Fuad Cury, Antônio Custódio Leite, João Sérgio, Marco Constantini, Rosa de Souza Ferrari (Dona Lulu), Francisco Cícero, Regina Maura Baldussi Patriani e Alfredo Abido Maluli.

  • A primeira imagem de Nossa Senhora do Sagrado Coração, oferecida pela Família Chiacchio, está localizada ao lado esquerdo da Capela do Santíssimo.

  • A pequena Via Sacra é de Nicola Zanotto, de Uberlândia.

  • A imagem de Nossa Senhora do Sagrado Coração, utilizada nas coroações e que, após o vendaval, está no Salão Paroquial onde estão sendo realizadas as celebrações, foi doada por um engenheiro de Ribeirão Preto - SP, que ficou internado na UTI do Hospital Beneficência Portuguesa.

  • A imagem mais recente de Nossa Senhora grávida, exposta durante o Tempo do Advento e que permaneceu intacta durante o vendaval (estava próxima a um dos locais mais atingidos), foi
    doada por Myrthes Tomaz.

Fonte: paroquiana Michelle Magri

Questão de História

O professor e historiador Agostinho Brandi expressa seu apoio à manutenção dos arcos de madeira, mas ressalta a importância de um laudo técnico para avaliar a real condição dessas estruturas. Em sua opinião, a discussão sobre uma possível substituição por arcos de aço vai além do aspecto religioso, envolvendo também o valor simbólico, afetivo e visual que a estrutura original representa. Brandi ressalta que os arcos da igreja são a única estrutura de suporte de tiras de madeira que há em Rio Preto, destacando sua importância como um exemplo de tecnologia antiga e um elemento histórico valioso.

“Atualmente, é visível a substituição da madeira por vigas metálicas devido a diversas razões, incluindo a falta de bons profissionais (carpinteiros). Entretanto, em épocas passadas, a madeira era um componente essencial em todas as edificações, especialmente nas igrejas medievais da Europa com o estilo gótico, onde pedra e madeira se complementavam. A esperança é de que o laudo conclusivo seja favorável à preservação desses arcos como condição última e definitiva para um provável tombamento, incluindo-os no rol de bens históricos e arquitetônicos reconhecidos”, pontua Brandi.

A arquiteta e urbanista Delcimar Teodózio destaca que a Igreja da Redentora preservou, até agora, uma significativa obra de engenharia do século 20. Para a profissional, essa preservação é fundamental, pois reflete a história, a cultura e os valores da sociedade, servindo como um testemunho das tradições da comunidade.A arquitetura preservada não só ajuda a manter a identidade de Rio Preto, mas também se torna um marco importante que contribui para a memória coletiva e reforça o senso de continuidade e pertencimento.

“Preservar os arcos oferece às futuras gerações a oportunidade de aprender sobre técnicas de construção, estilos arquitetônicos e a evolução do design e da engenharia, servindo como inspiração para novas criações arquitetônicas. Preservar não é apenas uma questão de estética, mas sim de proteção e valorização da herança cultural de uma sociedade. Nós passaremos (morreremos), mas a arquitetura permanecerá”, enfatiza Delcimar.

A artista plástica Thais de Freitas reforça que a reforma deve ser tratada com muito cuidado, visando preservar as características originais da igreja, pois os aspectos que integram a composição construtiva desse valioso bem arquitetônico já foram apropriados pela comunidade. Segundo Thais, qualquer alteração pode comprometer a identidade histórica, cultural e visual da igreja, prejudicando o valor que já foi estabelecido pelos moradores.

“Patrimônio cultural não é apenas composto por bens materiais e imateriais; é a nossa essência. Preservar o patrimônio cultural é garantir um futuro mais rico, mais justo e mais humano. É fundamental para assegurar a identidade, a memória e o desenvolvimento de uma sociedade. Ao cuidar do nosso patrimônio, estamos permitindo aprendizados com o passado e garantindo um futuro culturalmente diverso e abundante para as próximas gerações”, afirma Thais.

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