Publicado em 21/08/2025 às 15:24|Atualizado em 21/08/2025 às 18:25
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Você sabe o que a rotina acelerada da vida moderna com multitarefas, pressões por produção, com duplas ou até triplas jornadas pode causar na sua saúde mental e neurológica? O excesso de estímulos por conta de sobrecargas de trabalho e obrigações fora e dentro de casa pode impactar diretamente no descanso da mente e do corpo e levar a um desequilíbrio neurológico que pode acabar em problemas como irritabilidade, falta de memória, fadiga mental, insônia, ansiedade, como também pode elevar, segundo especialistas, o risco a doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer. As afirmações são do neurologista e neurofisiologista clínico e professor da Faculdade de Medicina Faceres, Breno Gonçalves Medeiros.
Segundo o médico, o ritmo de vida acelerado, marcado pelo excesso de estímulos, prazos curtos e alta demanda por produtividade, pode gerar uma sobrecarga no cérebro. “Isso eleva os níveis de estresse e ansiedade, dificultando momentos de descanso e recuperação”. A longo prazo, de acordo com neurologista, os impactos são mais graves. “Essa pressão constante interfere no equilíbrio químico cerebral, afetando a saúde mental, a regulação das emoções e até o desempenho cognitivo”, alerta.
No cérebro, Breno ressalta que os principais impactos da vida acelerada são dificuldade de concentração, lapsos de memória, aumento da irritabilidade, fadiga mental e insônia. “Em situações prolongadas, o excesso de estresse ativa continuamente o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, responsável pela liberação de cortisol, o hormônio do estresse”, explica. Segundo o neurologista, esse processo pode comprometer áreas importantes do cérebro, “como o hipocampo, ligado à memória, e o córtex pré-frontal, relacionado à tomada de decisões”.
Nestes casos de exposição por longo período, segundo o médico, o estresse provoca um estado de alerta constante no cérebro, sobrecarregando, assim, o sistema nervoso autônomo. “Isso altera funções como batimentos cardíacos, respiração e digestão, além de prejudicar o processamento de informações”, enumera. Já no aspecto cognitivo, essa sobrecarga, segundo Breno, pode reduzir a capacidade de planejamento, raciocínio lógico e memória de trabalho, dificultando a aprendizagem e a resolução de problemas. “Com o tempo, o cérebro passa a operar em 'modo de sobrevivência', priorizando respostas rápidas ao invés de pensamentos complexos e criativos”, alerta.
Como a rotina exaustiva responde diretamente no cérebro, o neurologista alerta que há evidências de que a vida acelerada pode ter ligação com maior risco de doenças neurodegenerativas, uma vez que a sobrecarga e a ativação constante no sistema nervoso podem acelerar processos de degeneração neuronal. “Embora não seja a única causa, o estilo de vida acelerado e estressante é considerado um fator de risco importante quando combinado a predisposição genética e outros hábitos nocivos”.
Principais impactos:
Cansaço e fadiga constante
Ansiedade e estresse (produção de cortisol)
Depressão
Mente agitada, insônia ou sono não reparador
Dificuldades de concentração
Irritabilidade
Dores de cabeça
Tensões musculares
Distúrbios digestivos
Problemas Cardiovasculares
Doenças crônicas
Prejuízo na vida pessoal
Isolamento
Como tratar e prevenir:
Procurar ajuda profissional (psicólogos e psiquiatras em casos mais graves)
Desacelerar
Priorizar qualidade de tempo
Estabelecer limites
Praticar o autocuidado diariamente
Fontes: Neurologista e neurofisiologista clínico e professor da Faculdade de Medicina FACERES, Breno Gonçalves Medeiros; especialista em psicoterapia clínica cognitivo-comportamental Mara Lúcia Madureira e o psicólogo clínico Oswaldo Longo Júnior, mestre pela PUCAMP em Psicoterapia Comportamental e Cognitiva
Você vive no piloto automático? Seu corpo e sua mente podem estar pedindo socorro
Diário da Região
A especialista em psicoterapia clínica cognitivo-comportamental Mara Lúcia Madureira enumera os principais sintomas de que a vida acelerada está interferindo na saúde mental. "Os prejuízos podem ser observados quando há acúmulo e persistência de sintomas como sensação de cansaço físico e mental, fadiga crônica, dores musculares, oscilações do humor, perda do interesse por pessoas e atividades importantes, isolamento social, distúrbios alimentares e do sono, e incapacidade de recuperar o bem-estar após períodos de descanso”, elenca a psicóloga.
A vida acelerada e a sobrecarga de estímulos e demandas cotidianas, segundo Mara, podem provocar uma desregulação emocional, o que pode evoluir para quadros mais graves. “Tais como transtornos de ansiedade, depressão, síndrome de burnout, doenças psicossomáticas e aumento do risco de abuso de substâncias psicoativas. Transtornos que se não tratados podem gerar outros problemas de saúde mental, comprometendo as relações interpessoais e levar à incapacidade ocupacional, acadêmica e isolamento social”, ressalta.
O psicólogo clínico Oswaldo Longo Júnior acrescenta outros sintomas recorrentes dos impactos da vida acelerada, “dores de cabeça e corporais recorrentes, presença de cefaleias tensionais ou dores musculares, como no pescoço e ombros, devido ao estresse acumulado e liberação excessiva de hormônios como o cortisol”. Ele enfatiza ainda que “Esses sintomas surgem em contextos de vida acelerada, como multitarefas no trabalho ou excesso de telas, e podem ser sinais iniciais de problemas mais graves se ignorados”, alerta o psicólogo. Todos os impactos citados acima, segundo Oswaldo são amplificados pela 'podridão cerebral' (brain rot) do consumo digital excessivo, “que pode reestruturar o cérebro e elevar riscos de doenças mentais”.
Como tratar? Um psicólogo pode conduzir a terapia cognitivo-comportamental (TCC), e um neurologista deve ser consultado se houver sintomas neurológicos. O tratamento combina estratégias preventivas e intervenções práticas, com foco na mudança de hábitos e no suporte profissional. “O objetivo é restaurar o equilíbrio, prevenir agravamentos como burnout ou depressão, e promover resiliência. De forma geral, portanto, é importante descansar, gerenciar o tempo, buscar sono adequado, hábitos saudáveis e técnicas de relaxamento e mindfulness (atenção no momento presente)”, recomenda.
E para prevenção? O psicólogo alerta que a prevenção deve ser diária, adotando hábitos que ajudam a mitigar os impactos. É importante evitar excessos digitais, cultivar hobbies, manter o equilíbrio emocional e estar atento aos sinais de alerta. Segundo o psicólogo Oswaldo Longo Júnior, “se os sintomas persistirem por mais de duas semanas ou interferirem na rotina, procure atendimento imediato em serviços como o SUS ou clínicas especializadas”.