O prefeito de Belo Horizonte (MG), Fuad Noman, faleceu recentemente, devido a complicações de um linfoma não Hodgkin - um tipo de câncer que se desenvolve no sistema linfático, formado por vasos e nódulos e ligado aos sistemas imunológico e circulatório. No caso do prefeito, a doença iniciou nos testículos, entrou em remissão, mas voltou e levou Fuad Noman a morte, após complicações da doença.
O onco-hematologista e chefe do Setor de Transplante de Medula Óssea (TMO) da Funfarme, João Victor Piccolo Feliciano, explica que o linfoma não Hodgkin é um grupo composto por inúmeros subtipos de linfomas e cada tipo tem seu prognóstico. “Esses linfomas têm origem no linfócito, célula que ajudaria o organismo a se defender de infecções e produzir anticorpos para ajudar na defesa, mas sofre um processo de mutação genética, o que gera o câncer”, explica o médico.
Segundo Piccolo, os linfomas não Hodgkin se dividem em dois grupos: os indolentes e os mais agressivos e com rápida evolução. No caso dos linfomas indolentes, segundo o médico, são aqueles, que, em geral, têm um crescimento mais lento e uma biologia não tão agressiva. “Muitas vezes os indolentes não precisam de tratamento imediato. Em alguns tipos, a gente apenas observa a clínica deles. O problema, porém, é que esses subtipos não são considerados todos curáveis”, afirma.
No outro grupo estão os subtipos com rápida evolução e com avanços mais graves, segundo o onco-hematologista. “Subtipos agressivos e que se a gente não fizer nada, compromete de maneira agressiva a vida do paciente. Casos que precisamos começar o tratamento rapidamente”, explicou. Por outro lado, segundo o médico, esses linfomas, apesar de mais agressivos, têm mais chances de cura. “Porque são subtipos que entram em remissão mais facilmente nos esquemas de terapias propostos”, diz.
O linfoma não Hodgkin tem como sintomas o inchaço dos gânglios linfáticos, os chamados linfonodos: pequenos nódulos que têm como principal objetivo filtrar substâncias do corpo. No caso de câncer, esses gânglios aumentam de tamanho no pescoço, axilas ou virilha. Outro sintoma é febre persistente e sem motivo aparente, perda de peso e fadiga (sentir-se cansado ou sem energia mesmo em descanso).
Sobre o tratamento, segundo o chefe do TMO da Funfarme, hoje há avanços consideráveis que aumentaram as chances de cura da doença. “Nas últimas décadas, a gente tem tido grandes inovações tecnológicas que têm promovido grandes taxas de curas tanto em indolentes como em linfomas agressivos, só que a gente ainda depende de alguns fatores que ajudam no prognóstico”, ressalta o médico.
Entre os fatores, o diagnóstico precoce. “Quanto mais cedo faz o diagnóstico, maiores as chances de cura, tendo em vista que podemos dizer que esses pacientes chegam com menos câncer do que aqueles pacientes diagnosticados mais tarde”, alerta Piccolo. Outro fator é a capacidade do organismo de receber o tratamento. “A gente sabe, por exemplo, que é muito mais fácil tratar pacientes mais jovens do que idosos pelas comorbidades. O paciente mais idoso já passou por algumas coisas que o próprio envelhecimento faz com que o corpo fique mais sensível e vulnerável”, explica.
Já sobre as principais formas de tratamento da doença, segundo o hematologista e professor da Faculdade de Medicina Faceres Flavio Naoum, há inclusão de ciclos de quimioterapia convencional, geralmente associada à imunoterapia, radioterapia e, em alguns casos, o transplante de medula óssea. “Nos últimos anos, novas terapias, como medicamentos biológicos e terapias-alvo, também têm mostrado bons resultados”.
No caso do prefeito, houve anúncio da remissão do linfoma, mas depois o câncer voltou. Segundo o professor, a falta de sinais da doença em exames físicos, de imagem e laboratoriais não significa necessariamente cura. “Existe o risco de recidiva, ou seja, de a doença voltar após um período de controle. Possibilidade de recaída que varia com o tipo, agressividade e resposta ao tratamento inicial”, afirma. Segundo o hematologista, quanto maior o tempo de remissão, especialmente mais do que cinco anos, maior a chance de cura. “Caso ocorra uma recidiva, novas estratégias terapêuticas podem ser indicadas, incluindo tratamentos diferentes dos usados na primeira linha”.
