O diabetes é uma das doenças crônicas mais prevalentes do mundo e também uma das mais silenciosas. No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, mais de 13 milhões de pessoas convivem com a condição, muitas vezes sem saber. Mas a boa notícia é que, nos últimos anos, a medicina tem avançado não apenas no controle da doença, mas na possibilidade de remissão do diabetes tipo 2, algo que recentemente parecia impossível.
O endocrinologista Antônio Carlos Pires, coordenador do Serviço de Endocrinologia do Hospital de Base de Rio Preto, afirma, no entanto, que é importante deixar claro que não existe cura para o diabetes, mas sim a remissão. Segundo ele, a remissão acontece quando o paciente volta a apresentar níveis normais de glicose após tratamento adequado e mudanças significativas no estilo de vida. “A remissão nada mais é do que remitir, ou seja, voltar do estado de glicose elevada para o estado de glicose normal ou muito próximo da normalidade”, afirma Pires.
Existem alguns tipos de diabetes, mas dois concentram a grande maioria dos casos. O tipo 1, mais frequente em crianças e adolescentes, tem origem autoimune, no qual o próprio organismo destrói as células que produzem insulina, exigindo o uso contínuo desse hormônio. Já o tipo 2, que representa cerca de 90% dos casos, está fortemente ligado à obesidade, sedentarismo e alimentação inadequada.
A diabetes tipo 2 é considerada uma doença traiçoeira, porque apresenta poucos sintomas. Pires afirma que, muitas vezes, o diagnóstico vem por acaso, em um exame de rotina, quando o paciente já tem complicações instaladas. “O grande problema de diabetes tipo 2, tanto para diagnóstico como para tratamento, é que é uma doença assintomática, praticamente ou muito pouco sintomática, então as pessoas não levam muito a sério o seu tratamento”. O médico lembra que o diabetes tipo 2 é a principal causa de cegueira adquirida, insuficiência renal e amputações no mundo. “No Brasil, apesar do grande número de motocicletas, ainda o diabetes é a principal causa de amputações”.
Prevenção
Enquanto o tipo 1 ainda não tem forma conhecida de prevenção, por ser autoimune, o tipo 2 pode ser evitado com atitudes simples e consistentes. Reduzir o peso corporal entre 7% e 10%, adotar uma rotina de exercícios físicos e equilibrar a alimentação já fazem uma enorme diferença, segundo endocrinologista. Segundo Pires, práticas como caminhar entre 150 e 200 minutos por semana, parar de fumar e tratar hipertensão e colesterol alto são medidas que reduzem significativamente o risco de desenvolver a doença. “A prevenção da glicose é um fator fundamental que vai melhorar muito a qualidade de vida e vai melhorar muito o futuro desse indivíduo”.
Da medicação à reversão
Nos programas tradicionais, o tratamento do diabetes tipo 2 busca apenas controlar os níveis de glicose por meio de medicamentos ou insulina. A proposta de clínicas especializadas, como a Doutor DM2 Diabetes, é ir além: trabalhar pela remissão. “O controle tradicional do diabetes tipo 2 tem como foco principal tratar os sintomas da hiperglicemia (glicose alta) mantendo os níveis de glicose em uma faixa aceitável, por meio do uso contínuo de medicamentos e/ou insulina.
Já o tratamento com foco em remissão vai além: ele busca reverter o processo da doença, atuando na causa e não apenas nos sintomas. No programa de remissão da clínica, o objetivo é fazer com que o paciente reduza ou até mesmo elimine a necessidade de medicamentos, a partir de uma mudança profunda no metabolismo e no estilo de vida. Ou seja, o foco deixa de ser ‘controlar a glicose’ e passa a ser restaurar o funcionamento saudável do organismo”, explica Lisandra Esgalha, sócio-fundadora da Doutor DM2 Diabetes.
De acordo com Lisandra, a estratégia envolve um programa multidisciplinar. “O estilo de vida é o pilar central para alcançar e manter a remissão. O diabetes tipo 2 está intimamente ligado à resistência à insulina, e essa resistência é fortemente influenciada por hábitos alimentares inadequados, sedentarismo, sono desregulado e altos níveis de estresse”.
O tratamento eficaz, segundo Lisandra, precisa incluir reeducação alimentar personalizada, com redução de alimentos ultraprocessados e estímulo a refeições de baixo índice glicêmico; atividade física regular, que melhora a sensibilidade à insulina; sono de qualidade e manejo do estresse, fundamentais para equilíbrio hormonal; e acompanhamento multidisciplinar, que mantém o paciente motivado e consistente nas mudanças. “Quando essas áreas são trabalhadas em conjunto, o corpo passa a responder melhor e o metabolismo se reorganiza, abrindo caminho para a remissão”.
Nem todos os pacientes alcançam a remissão, mas a maioria pode melhorar significativamente a qualidade de vida. “A remissão é possível para a maioria dos pacientes, especialmente quando há comprometimento e adesão ao plano terapêutico. Os principais fatores que influenciam o sucesso são: tempo de diagnóstico, que quanto mais recente, maiores as chances de reversão; grau de comprometimento metabólico, devido à instalação de várias outras doenças crônicas; e acompanhamento especializado e adesão às mudanças propostas. Mesmo nos casos mais avançados, é possível obter grande melhora na qualidade de vida, com redução de doses e melhor controle glicêmico, o que já representa um enorme avanço”.
