Cai.
E, no instante em que toca o oceano,
hesita entre a hipótese do fim
e a promessa inaugural do ser.
Desfaz a própria borda,
abandona o peso ontológico do nome,
renuncia ao contorno que a separava do mundo.
Ali, onde tudo é movimento,
apreende a vocação da corrente:
ouve o apelo arcaico das marés,
música sem autor, composta
pela insistência das quedas
Ao dissolver-se, dilata-se;
ao desaparecer, manifesta-se.
Converte-se em espelho, em via,
torna-se memória antecipada
de chuvas por vir.
No corpo do oceano,
compreende, enfim,
que existir não é permanecer intacta,
mas aceitar o eco
E num gesto silencioso,
uma única gota —
ao ceder ao mar —
faz a vastidão inspirar
mais fundo.
