A cena se repete há quase 30 anos: em uma casa no bairro Santa Cruz, em Rio Preto, homens em situação de rua encontram não apenas alimento, mas também escuta, cuidado e acolhimento. A Associação Madre Teresa de Calcutá nasceu de um gesto solidário, cresceu com o tempo e hoje é referência regional no atendimento de pessoas em vulnerabilidade social, oferecendo serviços que vão muito além da assistência imediata.
A história começou em dezembro de 1995, quando a rio-pretense Luzia de Jesus Costa, conhecida como Tia Lú, passou a servir refeições noturnas a pessoas em situação de rua, acompanhada por membros do grupo de oração São Lucas, da Paróquia Imaculado Coração de Maria. O impacto daquela ação foi tão grande que, em pouco tempo, surgiu a necessidade de ampliar o atendimento.
Em 1998, com apoio da Associação Beraká, nasceu o primeiro espaço físico da iniciativa, chamado Centro de Atendimento Madre Teresa de Calcutá. Ali, além de comida, os acolhidos passaram a receber atenção, orientação e apoio para buscar um novo caminho. O projeto cresceu, tornou-se independente em 2004 e, em 2006, conquistou sua sede própria na Rua Maximiano Mendes, no bairro Santa Cruz, onde funciona até hoje.
As mulheres por trás da obra
Se a história da instituição se confunde com a de Tia Lú, é impossível não mencionar também a de Maria da Consolação dos Santos Jacobi, a Tia Consô. Amigas de longa data, elas transformaram a fé em ação concreta.
“Fui chamada a uma missão”, costuma dizer Tia Lú, que após viver de perto os efeitos da dependência química em sua família, decidiu enxergar com outros olhos aqueles que eram invisíveis para a maioria. Já Tia Consô lembra que, no começo, “não tínhamos nada, tudo era providência”. Juntas, enfrentaram dificuldades financeiras, preconceitos e desafios estruturais, mas nunca perderam a fé.
Ambas seguem diariamente envolvidas com a rotina da associação. São presença ativa nos acolhimentos, nas orientações espirituais e também nas campanhas para arrecadar recursos, sempre movidas pela frase de Madre Teresa: “Fazemos o trabalho de Deus, Ele fornece os meios”.
Projetos e serviços
Hoje, a Associação Madre Teresa de Calcutá oferece serviços de baixa e alta complexidade, sempre de forma gratuita, voluntária e com caráter temporário, mas transformador.
O Lar São Francisco da Misericórdia de Deus é voltado a homens que desejam recomeçar. Muitos chegam após anos vivendo nas ruas, com laços familiares rompidos e em situação de dependência química. A partir do acolhimento inicial, são encaminhados para tratamento em parceria com o CAPS AD, e recebem acompanhamento técnico e espiritual da equipe da entidade.
O processo de atendimento costuma começar de forma simples: um prato de comida servido na sede. A partir desse contato, voluntários fazem a chamada “escuta qualificada”, conhecendo a história de vida de cada um. A partir daí, inicia-se o processo de sensibilização, orientação e acompanhamento, sempre respeitando a liberdade de escolha de cada acolhido.
Impacto social e espiritualidade
Não há um perfil único entre os atendidos: dependentes químicos, pessoas com doenças, homens e mulheres com laços familiares rompidos ou que enfrentaram perdas profundas.
O que todos têm em comum é a busca por dignidade e por um novo sentido para a vida.
Além do cuidado social, a espiritualidade ocupa um lugar central no trabalho da associação. “Acreditamos que sem Deus não há recuperação”, afirmam Tia Lú e Tia Consô, que fazem questão de unir fé e ação concreta no cotidiano da obra.
