MÃES DE PET
O termo “mãe de pet” está na moda. É usado para descrever mulheres que tratam seus animais de estimação como se fossem filhos. Certamente, não é a mesma coisa, mas a maneira como elas descrevem o vínculo com seus pets, a responsabilidade com o bem-estar deles, os cuidados, a atenção à educação e a organização da rotina revelam muitas semelhanças com a experiência de criar uma criança. Alguns animais, inclusive, vão até mesmo para a creche enquanto seus tutores ficam fora de casa.
Para muitas pessoas, os pets se tornam uma fonte de alegria, amor incondicional e apoio emocional, especialmente em contextos onde o modelo tradicional de família não é uma escolha ou prioridade. Embora as estruturas familiares tenham se transformado nas últimas décadas, no entanto, assumir o papel “mãe de pet” ainda pode gerar reações negativas e intensificar a pressão social sobre a decisão de adiar a maternidade ou optar por não ter filhos.
O psicólogo Hugo Ramón Barbosa Oddone ressalta que a adoção de pets como se fossem filhos adotivos é uma prática comum em diversas culturas, especialmente nas grandes metrópoles. Ele defende essa abordagem como uma evolução da humanidade, e não como um comportamento distorcido ou patológico. “Contudo, seria ideal que aqueles que adotam animais também considerem a possibilidade de fazer terapia, assim como qualquer outra pessoa, tanto antes quanto durante o processo de adoção”, sugere.
Para o especialista, cuidar de um pet pode ser tão trabalhoso e financeiramente complexo quanto cuidar de uma criança. Além disso, ele destaca que quando a comunicação afetiva é de via única, ela pode ser mais leve, mas isso não significa que seja mais equilibrada. “Com um filho humano, a comunicação é de mão dupla; já com um animal, parece haver um canal mais restrito. Porém, como temos visto frequentemente retratado em filmes e livros, os animais de estimação podem criar laços profundos com seus donos”, completa.
A veterinária Bruna Mendonça, da Bicho Prime, afirma que não é saudável nem recomendado tratar um animal como se fosse humano ou esperar que ele se comporte como uma criança. “Isso pode prejudicar o animal, pois ele pertence à outra espécie, com instintos e comportamentos próprios. Os pets possuem limitações, por isso, é grande a chance de não corresponderem às expectativas do tutor, o que pode gerar frustração”, explica.
Segundo a especialista, tratar o animal como se ele fosse um humano pode provocar problemas como ansiedade, obesidade, compulsão alimentar e comportamentos obsessivos. “É importante lembrar que os pets possuem necessidades diferentes das dos seres humanos, como alimentação adequada, exercícios regulares e cuidados veterinários. Algumas regras também precisam ser estabelecidas, como permitir que tenham liberdade para estimular seus instintos, respeitar o seu espaço e proporcionar momentos de brincadeiras, inclusive com outros animais”, esclarece Bruna.
Amor incondicional
A relações públicas Daniela Maria Ribeiro, “mãe” do Luigi, uma calopsita, e da Jasmine, uma shih tzu, explica que o que motivou sua decisão de não ter filhos e optar por adotar os pets foi a busca por liberdade e seu estilo de vida agitado. “Sempre gostei de sair, de estar com amigos. Além disso, trabalhei por muitos anos na organização de eventos, o que me levou a viajar com frequência. Não teria como ter um filho com essa rotina, nem poderia deixar uma criança nas mãos de outras pessoas para cuidarem”, afirma.
Daniela conta que, hoje, quando perguntam se ela tem filhos, sempre responde que, humanos, não, mas filhos pets, sim, pois o cuidado, a preocupação e o amor são os mesmos. “Não imagino minha vida sem eles, que me acalmam, me divertem, me enchem de amor e nunca me sinto sozinha. A Jasmine é minha companheira de todas as horas, vai ao shopping comigo, a restaurantes, a parques, ao centro da cidade. Procuro sempre os lugares que aceitam a presença dela”, ressalta.
O casal Nayara Caroline Possa e Hugo Cabral de Arruda são “pais” da Maya, uma shih tzu que entrou para a família durante a pandemia da Covid-19. “Estava tudo uma loucura, e acredite, foi ela quem nos escolheu”. Juntos há mais de cinco anos, eles não descartam a possibilidade de ter filhos. No entanto, Maya já é considerada como neta. “Minha mãe a adora. É só falar ‘vamos para a casa da vovó’ que ela fica toda alegre, correndo pela casa toda”, revela Nayara.
Para a tutora, as pessoas que têm um animal de estimação, independentemente de ser cachorro ou não, recebem um amor retribuído sem esperar nada em troca. “Às vezes, o dia está tão cansativo, tão puxado, e eles sabem exatamente o que precisamos. Quando não estamos bem, eles não saem de perto, dando atenção e carinho, e isso não tem dinheiro no mundo que pague. A vida com certeza fica mais leve, eles são seres que realmente fazem a diferença na nossa vida”, conclui.
A partir deste mês, cães e gatos de todo o país podem ter uma carteira de identidade. A Lei 15.046/2024, sancionada recentemente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, permitirá que os tutores registrem seus pets e emitam gratuitamente o RG Animal por meio da conta Gov.br, o portal de serviços do governo federal.
O cadastro contará com informações dos proprietários, como identidade, CPF e endereço, além de dados sobre a procedência e características dos animais, como raça, sexo, idade real ou presumida, vacinas aplicadas, doenças contraídas ou em tratamento, e o local onde o animal é mantido.
Será responsabilidade dos tutores informar sobre a venda, doação ou morte do pet, indicando a causa. A medida visa contribuir para o controle de doenças e o combate aos maus-tratos, além de garantir mais segurança em transações de compra e venda.
(Com Agência Brasil)