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Como funciona a 'caixa preta' que direciona o que vemos nas redes?

LifestyleComo funciona a 'caixa preta' que direciona o que vemos nas redes?
Algoritmos são programações semelhantes a receitas em que os ingredientes são informações processadas com dados e preferências, as quais direcionam conteúdos e produtos e, assim, criam filtros personalizados para cada internauta

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Você já percebeu que quando você pesquisa algo na internet ou começa a curtir, compartilhar ou ficar mais tempo em determinadas postagens, ou vídeos, mais anúncios parecidos com estas buscas surgem na sua tela? Pois é! Nada disso é por acaso. Por trás de cada conteúdo ou anúncio que surge para você ver, há uma programação feita de acordo com suas preferências e interesses, por meio do poder dos famosos algoritmos. Mas afinal, como funciona essa 'caixa preta' que pode direcionar o que consumimos nas plataformas?

A professora da Fatec Valéria Volpe explica que, tecnicamente, algoritmos são sequências de passos, descritos de forma lógica para resolver um problema, "cujo objetivo deve estar bem definido", afirma. Para compreender melhor a afirmação, a Bem-Estar perguntou então como essas ferramentas da computação são utilizadas para direcionar conteúdos. Para detalhar, a professora explica que o direcionamento ocorre porque o algoritmo escolhe e mostra conteúdos específicos para cada usuário baseado em dados que refletem comportamentos, perfis e preferências.

São esses dados que guiam as decisões dos algoritmos e, consequentemente, direcionam os conteúdos. “Os sistemas registram e 'observam' aquilo que você comenta, compartilha, quanto tempo você leva para ler e/ou ver um post, vídeo, artigo, aquilo que você pesquisa, com quem você interage com frequência, sua localização, qual dispositivo usado, qual horário você é mais presente nas redes e, assim, cria seu perfil baseado naquilo que você acessa e busca com mais frequência”, explica Valéria.

Esse direcionamento ocorre em toda a internet, segundo a professora. "Praticamente todo sinal digital que interage com o usuário é usado. E não são necessárias muitas informações para que os algoritmos identifiquem seus interesses. Basta fazer uma busca, assistir a um filme ou pesquisar um produto — você já está alimentando o sistema com dados para que ele 'conheça' seus gostos", ressalta. Isso acontece em sites de busca, lojas online, plataformas de streaming e muito mais.

Afinal, qual é o objetivo dessa lógica? Segundo o professor da Fatec e especialista em Gestão da Tecnologia da Informação (TI) Rafael Eloi embora a função oficial seja 'melhorar a experiência do usuário', o objetivo é manter pessoas engajadas o máximo de tempo possível porque o tempo de tela é diretamente monetizado. “Portanto, gosto de dizer que o direcionamento de conteúdo por algoritmos serve a um propósito duplo: para o usuário, oferecer conteúdo que o mantenha interessado e na plataforma e para a plataforma, criar um ambiente para poder fazer publicidade direcionada, os quais são a principal fonte de renda da maioria”.

O ponto positivo é a personalização dos conteúdos, navegação mais fluída, relevante e direcionada. Por outro lado, o ponto negativo é a formação de bolhas de filtro, “pois você é exposto a conteúdos que confirmam suas opiniões, limitando a diversificação de ideias e assim, polariza as opiniões gerando pessoas menos críticas”, ressalta. Além disso, as plataformas usam os algoritmos para influenciar seu comportamento sem você perceber. “O usuário também corre o risco de ficar desinformado ou ser bombardeado com fake news e acabar acreditando em tudo que recebe sem fazer análise crítica", alerta Valéria.

A forma como os algoritmos influenciam e moldam nossas escolhas se assemelha à manipulação, “especialmente ao explorar a maneira como nosso cérebro processa informações”, afirma o professor Rafael Eloi.

O professor cita a teoria de Daniel Kahneman desenvolvida no livro “Rápido e Devagar” para descrever dois sistemas utilizado pela mente humana. Segundo Kahneman, o primeiro é o rápido, intuitivo e automático e responsável por reações imediatas e emocionais. Já o segundo, é o devagar, racional e analítico, usado para o pensamento crítico. “Os algoritmos são projetados para atuar diretamente no primeiro. Ao nos inundar com conteúdos que geram reações rápidas (curiosidade, prazer, indignação), eles nos mantêm em um estado de consumo passivo, onde o sistema crítico é raramente acionado”.

Programação reversa

Também é possível treinar os algoritmos, em vez de deixar que eles determinem o que será visto. "A chave é treinar o algoritmo, em vez de deixar que ele dite o que será visto”, afirma Eloi. Um exemplo recente foi o alerta do youtuber Felca sobre a exposição de crianças a conteúdos inadequados.

Até os cinco anos, o aprendizado infantil é sensorial e repetitivo. O ideal é oferecer conteúdos que estimulem linguagem, cores e formas, usando plataformas com controle parental e sempre com supervisão.

Dos seis aos dez anos, quando a criança passa a compreender narrativas e regras sociais, o algoritmo pode ser orientado para conteúdos educativos, como ciência e história. “Ensine seu filho a usar o botão 'não estou interessado' para conteúdos indesejados e converse sobre a importância de interagir com canais que agregam”, recomenda.

Entre os 11 e 14 anos, fase de intensa busca por identidade e maior risco de cyberbullying, é essencial desenvolver senso crítico e responsabilidade digital. “Ensine a ser crítico em relação ao que consome, a questionar a fonte da informação e a entender como o algoritmo funciona. O objetivo é que ele aprenda a tomar decisões seguras, considerando o seu bem-estar e o do próximo”, alerta Rafael.

SAIBA MAIS

Como funcionam os algoritmos?

Programações com pesos baseados em interesses e ganhos econômicos

Qual a lógica utilizada?

A lógica é selecionar conteúdos para chegar na sua tela de acordo com seus padrões de consumo, preferências e gostos – uma conceito antigo que a computação traduziu em códigos e previsões lgorítmicas

E como funciona?

O sistema associa ao internauta conteúdos e produtos, leia-se anúncios, de acordo com os padrões do internauta, uma vez que o objetivo é entregar o que você vai gostar, se interessar ou achar relevante para que permaneça mais tempo na plataforma e, assim, lucrar cada vez mais com seu acesso

Quais benefícios e prejuízos?

Esse tipo de programação pode trazer mais fluidez e objetividade na navegação, por outro lado, pode criar bolhas de filtros e conteúdos que dialogam apenas com suas opiniões, sem teor crítico, ou até entregar fake news e outros conteúdos tendenciosos

Fonte: BBC News Brasil

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