Nilton Stuqui é uma referência do espiritismo no interior paulista, atraindo centenas de visitantes todos os finais de semana à Casa Espírita Gabriel Martins, em Neves Paulista.
Nascido em Monte Aprazível, Nilton conviveu desde criança com uma mediunidade extremamente sensitiva, que só começou a compreender plenamente aos 15 anos.
Em 2005, fundou o Centro Espírita Allan Kardec, que, em 2013, passou a se chamar Casa Espírita Gabriel Martins. Atuando na psicografia desde 2000, Nilton já recebeu centenas de mensagens espirituais, oferecendo conforto, orientação e esperança às pessoas em momentos de dor e luto.
Ao longo da entrevista, Nilton explica como o verdadeiro espírito do Natal inspira fé, amor e esperança. Ele também compartilha suas reflexões sobre mediunidade, autoconhecimento e a importância de seguir os ensinamentos de Jesus Cristo, mostrando que a prática espírita é um caminho de transformação interior e de solidariedade.
Leia a seguir:
BE – Nilton, como começou sua trajetória como médium? Houve algum momento marcante que o fez compreender que esse seria o seu caminho?
Nilton Stuqui – Eu nasci médium. Desde sempre estive envolvido por eventos espirituais, embora não soubesse, pois, de origem católica, esses fenômenos naturais se passavam por atitudes estranhas, passíveis de acompanhamento médico.
Minha mãe, que sempre foi um pouco mais ligada às crenças espirituais, sempre me levava para “benzer” em senhoras católicas que atendiam crianças e, de certa forma, isso me ajudava muito.
Aos 15 anos, comecei a ter episódios de mudanças bruscas de humor, depressão e instabilidade emocional, e aí surgiu de maneira mais clara a mediunidade ostensiva. Começaram a me levar para atendimentos em centros espíritas, e tudo foi se equilibrando por meio de passes, estudos e tarefas no campo da caridade.
Nunca tive uma noção exata de que este era o caminho, mas me entreguei ao que já gostava, e faço isso até hoje.
Meu primeiro contato com a Doutrina Espírita começou aos 13 anos; a mediunidade mais ostensiva, aos 15; o equilíbrio, aos 19 anos. Mas nada disso foi tão fácil. Exigiu uma série de esforços, erros, até chegar aos ajustes mais acertados. Até hoje, me considero um aprendiz que necessita de estudos acerca da mediunidade e da Doutrina Espírita, além de um esforço contínuo de autoconhecimento e iluminação interior, no rumo da aquisição de valores morais.
Só chamo de “missão” depois que uma vida inteira foi feita corretamente em nome de Jesus Cristo, quando não há mais caminhos para se perder. Missão foi a de Chico Xavier. A mim, é um trabalho que amo e no qual identifico a necessidade de exercê-lo para o meu bem e para o bem de quem o buscar.
BE – Quais foram os maiores desafios que você enfrentou no início da sua jornada espiritual? Como os superou?
Nilton Stuqui – O maior desafio é sempre interior: entender que sou instrumento, que devo estudar constantemente, que esta vida requer abnegação, recolhimento espiritual e doação de si mesmo, e que tudo isso só se adquire com o esforço de uma vida inteira.
No começo, eu era apenas um jovem desconhecido, desacreditado e imaturo, que se intitulava médium. Mas, com um trabalho discreto, persistente e constante, alicerçado no bem, regado por muita caridade e pelo apoio de muitos amigos, as coisas foram tomando um rumo que não sabíamos qual seria, mas que está trazendo bons resultados para a consolidação, uma característica marcante do Espiritismo.
BE – Você atende muitas pessoas em busca de cura emocional. O que mais te toca no sofrimento humano hoje?
Nilton Stuqui – O que mais me toca no sofrimento humano é o fato de as pessoas não se conhecerem, não conhecerem as próprias forças, não prevêem suas capacidades e, diante da dor emocional, não conseguem enxergar a solução ou o caminho aberto adiante.
Algo que me marca muito é a dificuldade extrema diante do luto, não apenas por parte de quem o sofre diretamente, mas também daqueles que deveriam ser suporte, estando ao lado.
A única certeza que todos temos é a “morte”, ou desencarnação, mas não vejo nas pessoas uma mínima preparação para enfrentar isso.
A maioria dos sofrimentos ocorre por falta de autoconhecimento. Soma-se a isso o orgulho e a vaidade, que tornam a pessoa insensível à dor alheia e à visão real de si mesma.
BE – Em sua visão, qual é o maior equívoco que as pessoas ainda têm sobre a mediunidade?
Nilton Stuqui – O maior equívoco em relação à mediunidade é vê-la como algo sobrenatural, quando, na verdade, ela é algo inerente à alma: uma facilidade intrínseca que todos possuem, em graus e funções diferentes.
Na mediunidade, o médium deve saber que precisa ser a parte mais invisível, e quem deve aparecer é o trabalho da espiritualidade.
Quando o orgulho sobressai e a vaidade se avolumam, certamente haverá uma desmoralização do médium, que repercute sobre a finalidade de seu trabalho, deixando de ser algo do Mundo Maior para se tornar algo do médium vaidoso.
Alguns médiuns nasceram com tarefas espirituais de projeção, o que não os torna maiores nem melhores; trata-se de uma programação espiritual feita antes de reencarnar. A maioria dos que trabalham com a mediunidade exerce suas funções de maneira incrível e útil, no silêncio discreto das casas espíritas, sem aparecer, e isso não os faz menores nem maiores.
Mediunidade não é atributo de alguns, nem “dom”: é oportunidade de trabalho em favor da evolução do próprio médium e do bem que ele espalha.
BE – Você costuma dizer que cada espírito tem uma vibração própria. Como identifica qual energia está se manifestando?
Nilton Stuqui – Eu identifico a energia dos Espíritos por suas vibrações: os bons trazem sempre uma energia leve e motivadora; os menos bons, uma sensação de peso, desconforto, irritação e medo. Em específico, durante as sessões, eu enxergo os comunicantes e os identifico pelo que vejo, sinto e interpreto.
Cada médium possui características próprias que lhe conferem maior ou menor percepção do mundo invisível que o cerca.
BE – Como funciona o seu processo de preparação antes dos atendimentos espirituais? Existe algum ritual ou rotina essencial?
Nilton Stuqui – Não há rituais na Doutrina Espírita. O que deve ser feito como preparação para um trabalho espiritual é manter, diariamente, uma conduta moral reta, uma ligação constante com a caridade e com os estudos. Fisicamente, no meu caso, procuro estar descansado, ter dormido o necessário e me alimentado de maneira leve, mas com saciedade.
Procuro não ter contato, quando possível, com problemas que podem ser tratados em outro momento. Em geral, o preparo deve conter tudo aquilo que gere tranquilidade física e emocional.
Não digo que sejam necessários privilégios ou ser diferente, mas sim estar consciente da tarefa a cumprir e da responsabilidade de lidar com a maior dor de alguém e com o seu maior amor.
Penso que um pouco de humildade e aceitação do outro geram condições para que haja um preparo íntimo fundamental à tarefa das sessões de psicografia, cujo principal objetivo é consolar os que sofrem, trazendo instruções que acalmem o coração e a razão.
BE – Nos tempos atuais, em que ansiedade e depressão se tornaram tão comuns, como o trabalho espiritual pode ajudar a restaurar o equilíbrio emocional?
Nilton Stuqui – A fé raciocinada, que o Espiritismo prega com sabedoria, é um dos caminhos que podem restaurar a paz interior.
Quando temos a oportunidade de nos enxergar como Espíritos, e portanto imortais, criamos esperança para o futuro: a morte passa a ser um fenômeno de passagem para a Alma, e não o seu fim; as dores da vida são vistas como provações que estimulam o crescimento interior e moral; os prejuízos, como oportunidades de amadurecimento; os amores, como reencontros espirituais; e os adversários, como reajustes que testam nossa evolução, nos permitindo raciocinar se vale a pena permanecer perto.
Entendemos que as obsessões espirituais são a ação persistente de um pensamento sobre outro e podem ser causadas por alguém que já deixou a vida material. Isso explica que nem todo sofrimento tem origem no corpo físico ou no campo emocional: há dores que surgem de causas espirituais e, em alguns casos, a depressão pode ter origem espiritual.
BE – O que você diria para quem tem curiosidade sobre mediunidade, mas ainda sente receio?
Nilton Stuqui – Para quem deseja se aprofundar e se inteirar sobre mediunidade, mas sente medo, sugiro o estudo das obras de Allan Kardec e Chico Xavier, em um Centro Espírita, onde é possível encontrar suporte e convivência com a prática.
Não há perigos na mediunidade nem em seu uso, desde que seja compreendida, praticada de forma gratuita e voltada para o bem.
E quem se identifica como médium, mas não tem tempo ou não deseja exercer, não terá problema, desde que siga um bom caminho, gerando assim uma sintonia com espíritos bons que o protegerão por merecimento próprio, adquirido ao levar uma vida moralizada.
Como já disse, todos somos médiuns, mas nem todos reencarnam com uma função específica nesta área.
BE – Estamos próximos do Natal, uma data profundamente simbólica. O que essa celebração representa para os espíritas, dentro da perspectiva cristã?
Nilton Stuqui – O Natal representa o marco principal em que Jesus Cristo nasce entre os homens, trazendo para todos o maior código de instrução: o Evangelho, de onde surgem orientações seguras para nossa evolução espiritual e moral.
Os espíritas não consideram apenas uma data festiva, mas a chegada do mestre, do maior espírito em condições morais que pisou a Terra; e, por ser nosso guia e modelo, Ele nos preenche de vibrações de paz, caridade e amor ao próximo.
Entendo que as festividades, as demonstrações comerciais e decorativas que acompanham esta data são também uma oportunidade para que o Cristo seja lembrado com tanto esforço. Muitas vezes, a apelação provocada pelo interesse comercial funciona como veículo para dar importância a uma data tão significativa. Se não fosse assim, baseado no materialismo que impera atualmente, talvez esta data tivesse sido esquecida ou ignorada.
O Natal é, antes de tudo, uma lembrança de solidariedade e do amor que o Senhor veio nos exemplificar.
BE – Muitas pessoas sentem solidão ou tristeza nesta época do ano. Há uma mensagem espiritual especial para quem enfrenta um Natal mais difícil?
Nilton Stuqui – Para quem atravessa um momento difícil neste período, digo que é transitório: nenhum mal ou dificuldade dura para sempre. Cada um de nós possui forças internas, nascidas na fé, no conhecimento e nas experiências já vividas, capazes de solucionar questões difíceis.
Muitas vezes, a dor permanece porque buscamos a solução na direção errada, presos a um conceito ou crença que nos impede de agir de outra forma.
Aprendi que aquilo em que acreditamos, somos capazes de atrair, pois geramos sintonia com o que cremos de verdade. Para muitos que estão sofrendo e acham que merecem isso ou que Deus os pune, digo: “mudem sua frequência interior”. Mudem a forma de se entender na vida; a simples mudança de como nos vemos e nos sentimos merecedores de coisas boas já transforma muito do que nos cerca.
BE – Quais são seus planos para os próximos anos? Há novos projetos espirituais ou sociais em andamento?
Nilton Stuqui – Para o futuro, temos planos de estudar online os livros do autor Gabriel Martins, que são muito importantes para o entendimento da vida espiritual. Temos vários livros com temáticas sobre mediunidade, luto e conteúdos para crianças que serão lançados.
No geral, nosso objetivo é fortalecer nosso trabalho, buscando oferecer um atendimento cada vez melhor àqueles que sofrem a dor do luto sem respostas.
BE – Que mensagem final você gostaria de deixar para os leitores da Bem-Estar que buscam equilíbrio, fé e esperança para o próximo ano?
Nilton Stuqui – Eu acredito no amor de Deus e na força de suas leis, que guiam a conduta humana para o bem, para sua evolução moral e espiritual. Dessa forma, espero e creio que as instabilidades sociais e políticas se equilibrarão pela força divina, que age constantemente em favor de todos nós.
Devemos ter esperança e trabalhar sem omissão por um mundo melhor. Tudo começa em nós, em nossas escolhas. Precisamos olhar para dentro, nos melhorar e, a partir daí, teremos condições de iniciar mudanças externas.
O mundo externo é um reflexo do que cada um carrega por dentro. Se educamos as crianças com amor e bom direcionamento, se cumprimos nosso papel na sociedade com respeito, se trabalhamos com honestidade, se ampliamos nossa fé em Deus e em Jesus Cristo, e se praticamos a lei da justiça, do amor e da caridade, certamente podemos esperar por um futuro grandioso, onde o Bem impera e a vida se apresenta com características de felicidade e paz para todos. Mas o primeiro passo deve começar em nós.
