Compromisso com o ensino de qualidade e a inovação na saúde

Em abril deste ano, Helencar Ignácio assumiu a direção-geral da Famerp (Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto), uma das instituições de ensino em saúde mais respeitadas do País. Natural de São Paulo, casado há 34 anos com Ana Rosa Rossi Ignácio, com quem teve uma filha Renata Rossi Ignácio, ele combina experiência acadêmica, trajetória clínica e ampla vivência na gestão de grandes instituições de saúde.
Ortopedista, com especialização em ortopedia pediátrica e também em pé e tornozelo, é professor adjunto da Famerp, onde também atuou como vice-diretor-geral. Graduado em medicina pela Faculdade de Medicina de Catanduva, concluiu seu mestrado e doutorado na Universidade de São Paulo, em Ribeirão Preto. Ao longo da carreira, presidiu a Unimed Rio Preto e a Sociedade de Medicina e Cirurgia de São José do Rio Preto, acumulando um histórico de liderança e compromisso com o desenvolvimento da saúde na região.
A Famerp é uma faculdade pública vinculada à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (SCTI) do Estado de São Paulo, com cursos de graduação em medicina, enfermagem e psicologia, além de pós-graduação em ciências da saúde, mestrado e doutorado. À frente da instituição, que conta com mais de 800 alunos e 240 docentes, Helencar Ignácio projeta um futuro de expansão, modernização e maior protagonismo institucional. Entre suas metas estão a criação de novos cursos, a reformulação do regimento interno, a implantação do plano de carreira para os docentes e o fortalecimento da pesquisa e inovação, com o objetivo de transformar a Famerp em um Centro Universitário.
Leia a entrevista a seguir:
BE – Dr. Helencar, o senhor assumiu a Diretoria Geral da Famerp em abril deste ano. Quais os principais desafios que já identificou nesse início de mandato?
Helencar Ignácio – Temos alguns desafios importantes pela frente. Um deles é a criação do plano de carreira para os docentes, uma demanda antiga que pode estimular os novos concursados a exercerem a docência com mais dignidade e valorização.
Outro desafio relevante é a criação de três novos cursos de graduação: fisioterapia, terapia ocupacional e fonoaudiologia. Isso permitirá transformar a Famerp em um Centro Universitário, conferindo maior autonomia perante o Estado.
Também destaco a necessidade de reformar o regimento interno, modernizando os processos da graduação e pós-graduação, além de promover uma reestruturação administrativa e concluir a implantação da biblioteca digital.
BE – O senhor já atuou na presidência da Unimed de Rio Preto, da Sociedade de Medicina e Cirurgia, e também foi vice-diretor da Famerp. Como essas experiências anteriores moldaram sua visão de liderança para esta nova fase?
Helencar Ignácio – Na presidência da Sociedade de Medicina, tive a oportunidade de lidar com questões relacionadas à defesa profissional e à política médica. Já a Unimed é uma grande empresa, com mais de 1.600 cooperados, 350 mil usuários e um volume significativo de faturamento anual. Além de sua importância assistencial, tem grande responsabilidade social em Rio Preto e região.
Durante meu período no Departamento Pessoal e como vice-diretor-geral da Famerp, pude conhecer de maneira mais aprofundada as necessidades da instituição, seus valores e o potencial de crescimento. Essas vivências foram fundamentais para minha consolidação como candidato à direção-geral da Famerp.
BE – Como o senhor enxerga o papel da Famerp na formação médica e multiprofissional em um cenário de constantes transformações na área da saúde?
Helencar Ignácio – Em um cenário marcado pela abertura indiscriminada de faculdades, muitas sem corpo docente qualificado ou hospitais-escola, a Famerp se destaca pela excelência na formação dos seus três cursos de graduação.
Contamos com o Hospital de Base, o segundo maior do Estado de São Paulo e o que mais atende ao SUS em todo o Brasil, oferecendo suporte de excelência para a formação de nossos residentes e profissionais da área multiprofissional. Também é muito importante lembrar que o curso de Medicina da Famerp recebeu nota máxima (5) no último Enade (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes).
Nossos 66 programas de residência médica e 7 de residência multiprofissional são altamente disputados, atraindo candidatos de todas as regiões do País. A qualidade da preceptoria, aliada à tecnologia, inovação e ao Programa de Fellow, torna a formação na Famerp um diferencial em um mercado cada vez mais competitivo. Em 2024, celebramos os 55 anos do curso de dermatologia da Famerp e do Hospital de Base – nosso Jubileu de Esmeralda. São mais de cinco décadas de inovação, ensino e atendimento de excelência, que ajudaram a transformar São José do Rio Preto em um dos principais polos dermatológicos do Brasil. Com essa tradição consolidada, a residência médica em dermatologia tornou-se uma das mais disputadas do País. Neste ano, foi o curso de acesso direto com maior concorrência da instituição, com 80 candidatos por vaga, atraindo médicos recém-formados de diversas regiões. Isso comprova o alcance nacional da nossa formação e o impacto positivo que ela gera além das fronteiras paulistas.
BE – O senhor também atua como chefe do Serviço de Pé e Tornozelo no Hospital de Base. Como concilia essa atuação clínica com a função administrativa na Famerp?
Helencar Ignácio – A conciliação só é possível porque contamos com uma equipe unida, focada e comprometida com as demandas das diretorias adjuntas. Esse alinhamento permite que o tempo seja bem gerenciado, possibilitando a dedicação às demais atividades profissionais.
BE – Qual a importância da integração entre ensino, pesquisa e assistência à saúde no modelo adotado pela Famerp e pelo Hospital de Base?
Helencar Ignácio – Esses três pilares – ensino, pesquisa e assistência – só fazem sentido quando resultam em benefícios concretos para a população. Para isso, é fundamental que os governos estadual e federal invistam mais recursos financeiros, especialmente na pesquisa. Isso, por sua vez, melhora a qualidade da assistência prestada e tem impacto direto na vida dos cidadãos.
BE – Existe algum plano para aproximar ainda mais a instituição da comunidade de São José do Rio Preto e região?
Helencar Ignácio – Já contamos com programas de extensão voltados à população mais vulnerável, com atuação de profissionais da enfermagem, psicologia e medicina nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e nos Programas de Saúde da Família.
No entanto, buscamos expandir essas ações por meio de novas parcerias, como a que estamos desenvolvendo com a Pediatria no Shopping da Zona Norte, entre outras iniciativas.
BE – Como professor e gestor, qual a sua avaliação sobre o perfil dos novos estudantes de medicina e das demais áreas da saúde?
Helencar Ignácio – Os estudantes de hoje são mais questionadores e participativos nas questões administrativas, buscando fazer parte das decisões das diretorias. Com o avanço da internet e, especialmente, da inteligência artificial, tornaram-se mais rápidos, conectados e colaborativos. Estão mais atentos às questões de diversidade – como cor, raça e gênero – e demonstram habilidades em liderança e resolução de conflitos. Por outro lado, muitos vêm de regiões distantes e enfrentam desafios emocionais, como crises de ansiedade. Por isso, temos acionado nosso departamento de Psicologia para oferecer suporte à saúde mental desses alunos. Nossa diretoria também promove reuniões periódicas com estudantes dos três cursos, fundamentais para fortalecer o diálogo e a integração.
BE – Como o senhor enxerga o futuro da medicina nos próximos 10 a 20 anos, especialmente no que diz respeito à formação dos profissionais e às mudanças no perfil do médico diante das novas demandas da sociedade?
Helencar Ignácio – Diante da abertura indiscriminada de cursos de Medicina nos últimos 15 anos, o profissional que quiser se destacar precisará investir fortemente em sua formação, tanto na graduação quanto na residência e na especialização.
Será necessário um tempo maior de preparação para atingir um nível de excelência. Além disso, o médico do futuro deverá aprender a conviver com a inteligência artificial – que é inevitável – sem perder de vista a humanização do atendimento, tornando-o menos mecanizado e mais centrado no paciente.
A sociedade está cada vez mais exigente, bem informada e disposta a buscar novas opiniões. Por isso, o profissional precisará desenvolver competências técnicas e humanas para se adaptar a esse novo cenário, mais conectado e dinâmico.
BE – A tecnologia tem transformado profundamente a prática médica, com avanços como inteligência artificial, prontuário eletrônico e telemedicina. Como a Famerp pretende incorporar essas inovações no ensino e na prática dos alunos e profissionais de saúde?
Helencar Ignácio – A inteligência artificial não pediu licença — ela simplesmente invadiu o ambiente acadêmico e já está presente na graduação, na pesquisa, na extensão e na administração.
Especialmente com a IA generativa (como o ChatGPT), têm surgido debates importantes sobre seus limites éticos e formas de uso. Não acreditamos na proibição como solução. O essencial é que seu uso seja pautado por pilares como ética, clareza, transparência, respeito aos direitos autorais e combate ao plágio. A IA deve ter como foco o ser humano, garantindo que seus benefícios estejam voltados para a sociedade.
Dentro da Diretoria de Ensino, criamos o Núcleo de Apoio Digital, que coordena ações como design de aulas, ensino à distância, estúdio de gravação e outros recursos tecnológicos. No que diz respeito à humanização, os cursos de extensão promovem a aproximação dos alunos com a comunidade mais vulnerável. Além disso, participam, junto aos preceptores, de atividades de acolhimento a pacientes e familiares.
BE – Qual legado o senhor espera deixar ao final da sua gestão?
Helencar Ignácio – Espero que o principal legado desta gestão seja a modernização da Famerp e sua preparação para o futuro, por meio da reformulação do regimento interno, da abertura de novos cursos, da implantação do plano de carreira e da transformação da instituição em um ambiente mais digital e conectado com as demandas da sociedade contemporânea.