Há um novo mantra moderno circulando por aí: o das relações leves. Curiosamente, quanto mais as pessoas repetem essa expressão, mais fica evidente que ninguém sabe exatamente o que ela significa.
Vale reconhecer que possa existir algo que sustente esse pedido, afinal, há quem tenha passado por vínculos que foram verdadeiras moendas emocionais. Gente que carregou famílias nas costas, que foi sugada por parceiros frágeis, que viveu em ambientes onde amor significava vigilância, cobrança, sobrecarga. Natural, então, desejar uma presença que não sufoque, que permita respirar.
Mas, e quando não se trata de exaustão e sim de imaturidade? Uma espécie de “passe livre” para não se comprometer com nada além do próprio conforto emocional?
A obrigação de buscar leveza na própria vida é, de fato, individual. Cada um já nasce encarregado da sua própria montanha, das suas pedras, das suas travessias. Ninguém tem a função de se transformar em guia espiritual, psicoterapeuta existencial ou curador das frustrações alheias. Responsabilidades são intransferíveis.
O problema é quando esse princípio legítimo vira desculpa de ocasião. Porque, quando alguém anuncia que agora só aceita relações leves, o que pode estar dizendo é algo bem mais simples: eu só quero entretenimento. A parte divertida, indolor, instagramável. Quero companhia sem demandas, afeto sem contrapartida, presença sem responsabilidade. Amor delivery: chega rápido, não suja nada e se não gostar, devolve sem culpa.
Relações leves são o Papai Noel da vida adulta: Todo mundo conhece alguém que acredita, mas ninguém que realmente tenha visto funcionar.
Se quem procura um relacionamento duradouro estivesse disposto a admitir que não existe convivência humana sem atrito, sem cansaço, sem dias em que o amor pesa mais que anima — talvez aceitasse também que o valor de um vínculo está em outra parte. Não no brilho dos primeiros meses, mas na construção de patrimônio emocional e material. No crescimento mútuo. Na formação de um lar que acolhe filhos, fortalece famílias e sustenta a dignidade de todos os envolvidos. Isso é fé em obras: não um ideal romântico, e sim, um compromisso vivo.
Enquanto isso, assistimos à campanha ativa do colapso familiar, do “eu não estava feliz”. E eu pergunto a vocês, sinceramente:
Com todo esse discurso de leveza, quem é que está feliz realmente?
E talvez seja exatamente isso que esteja faltando: peso. Gravidade. Verdade.
O resultado estamos vendo: vínculos frágeis, promessas de curta duração, afetos que evaporam ao primeiro desconforto. Uma campanha silenciosa de relações que não se firmam porque ninguém quer sentir o peso mínimo da presença do outro. Porque leve é o que boia. O que flutua. O que não cria raiz em nada. Aquilo que sustenta a vida não flutua: finca raiz.
As únicas coisas que valem a pena na vida exigem presença. E presença, minha gente, pesa mesmo.
