Em uma de minhas viagens ao Pantanal Mato-Grossense, ao passar por Corumbá, parei para conhecer a “Casa de Massabarro”. Isso foi lá pelos anos 1990, quando a instituição já se destacava por trabalhar com menores carentes, abandonados ou, como se dizia na época, “meninos de rua”.

Passei um dia inteiro conhecendo e fotografando a cidade, o icônico “Trem da Morte” e a casa educandária, instituição sem fins lucrativos, tocada por voluntários, sem vínculos políticos ou governamentais. Na “Massabarro”, constatei a força transformadora do ato de manusear a argila com as mãos, sem uso de maquinário. O ato de socar e amassar a argila com as mãos acalma, relaxa e educa. Ouvi diversos relatos de crianças recuperadas de vícios e furtos, que, apenas lidando com o barro e a cerâmica, tornaram-se habilidosos artesãos de imagens pantaneiras. Alguns, já consagrados pela habilidade adquirida na casa, chegaram até a possuir computadores — algo raro para a época —, frutos da venda de suas peças.

O trabalho começava com a busca de madeira morta na floresta, usada na construção do pilão e do socador, e seguia com o garimpo da argila abundante nos alagados e barrancos dos rios. O contato com o preparo da massa, segundo os especialistas da “Massabarro”, desfocava a mente do mal e a direcionava ao bem de forma lúdica e saudável. Com o barro socado e pronto, as crianças moldavam figuras pantaneiras que, após serem queimadas em fornos a lenha, eram pintadas com cores inspiradas na natureza viva do local.

Era uma verdadeira higiene mental, capaz de desenvolver o cérebro para o trabalho e a criatividade, eliminando a hostilidade e o ócio que levam à criminalidade. Assim, acreditem: com uma porção de barro, um pilão e um soquete, é possível mudar a índole e o futuro de um cidadão sem perspectivas, desacreditado pela sociedade, e conduzi-lo a conquistar uma profissão digna e de sucesso.

Ao terminar a sessão de fotos, fiz a tão esperada pergunta à assistente social da casa:

— Isso funciona só para crianças?

Sem hesitar, ela respondeu:

— Não. Funciona para todas as idades e classes sociais!