O Brasil deve muito ao carro de boi, considerado o primeiro veículo sobre rodas a circular em nosso território. Segundo pesquisas, esses pesados veículos chegaram pelas mãos dos portugueses em meados do século XVI, entre os anos de 1526 e 1545, acompanhando a instalação dos primeiros engenhos de açúcar.
Até então, o pau-brasil – primeira matéria-prima explorada no País – era transportado até as embarcações nas costas de nativos e escravizados. Com a introdução da produção açucareira, tornou-se necessário o envio, a partir de Portugal, não apenas dos carros de boi, mas também dos bois, carreiros, carpinteiros, pedreiros e mestres de obras. A partir daí, teve início um processo de desenvolvimento que envolveu desde a construção de casas, fortalezas e igrejas até o desbravamento de matas para o surgimento de cidades e vilas.
O carro de boi se destacou pela robustez e resistência, alcançando locais onde veículos mais leves, puxados por cavalos ou burros, não conseguiam chegar. Por ser muito pesado e resistente, era capaz de superar obstáculos como pântanos, morros e córregos, podia transportar toneladas de carga, dependendo do número de animais utilizados na tração.
“Tocar” um carro de boi não é tarefa simples: exige prática, habilidade e empatia do boiadeiro com a boiada – um verdadeiro dom, considerado por muitos uma arte.
Ainda hoje, alguns exemplares permanecem em uso pelo País. Em São Paulo, por exemplo, registrei sua utilização em olarias, no transporte de argila, turfa e mucuna. Já em Minas Gerais, observei seu emprego no transporte de feno e pedras.
A fotografia que acompanha este texto foi registrada em um encontro de carros de boi na região de Perdões (SP), onde alguns sitiantes ainda preservam essa tradição em suas atividades diárias.
