Durante a pandemia, muita gente se isolou — dentro e fora de casa. Aqueles que tinham acesso fácil à natureza, em vez de permanecerem trancados, passaram a caminhar no mato. Isso fez crescer um hobby até então pouco conhecido: o de observar pássaros, registrar suas imagens, seus sons e seus hábitos. A atividade ganhou até um nome próprio — “passarinhar”.
Eu, por exemplo, já tinha certa experiência em observar aves, graças a viagens que fiz ao Pantanal nos anos 1990. Foi uma época desafiadora: fui com a cara e a coragem, em meio a turistas que queriam apenas conhecer a região, enquanto eu queria, além de conhecer, fotografar aves. Com uma antiga teleobjetiva de 500 mm dos anos 1960 — que usava pouco — embarquei nessa aventura que me contagiou.
Voltei várias vezes. E, quando não tinha um tema específico para fotografar, as aves eram sempre meu foco. Algo que faço até hoje. Ao começar a postar fotos de pássaros nas redes sociais, percebi quanta gente também estava fotografando e observando aves. Existem até grupos organizados exclusivamente para “passarinhar”.
E que boa transformação essa! As arapucas, estilingues, espingardas e gaiolas deram lugar a binóculos e câmeras fotográficas — uma onda que a natureza agradece.
Pesquisando e trocando comentários com outros observadores, percebi a importância de “passarinhar” para o homem moderno. A prática combate a ansiedade e a depressão, relaxa e reconecta o ser humano à natureza. Ao observar, fotografar, gravar ou simplesmente identificar o canto das aves, experimenta-se uma sensação genuína de bem-estar — como se a mente se libertasse das coisas ruins.
Algumas dicas para passarinhar:
Leve uma caderneta e um lápis, binóculo, câmera fotográfica ou celular, bota de cano longo (se for à mata), roupas camufladas ou escuras, boné escuro, filtro solar, repelente não oleoso (para não engordurar as lentes), garrafinha de água e barrinhas de cereal.
As aves costumam aparecer mais pela manhã e ao entardecer — não gostam de frio nem de ventania. E “passarinhar” não se limita à mata: nas cidades também há muitas aves para observar, nas árvores, fios, antenas, telhados e até nos topos dos edifícios.
Com o tempo, você perceberá que tudo na natureza tem ritmo e horário. As aves são “britânicas” em seus hábitos — talvez até mais que nós, seres humanos. Comece hoje, mesmo que seja apenas da janela de casa, e logo sentirá o quanto seu bem-estar vai melhorar.
A fotografia desta página foi captada em frente ao “SEMAE” de Rio Preto, em uma “Palmeira Imperial” morta, onde um tucano fez seu ninho.
