Jamais imaginei que uma fotografia tirada sem pretensão, há mais de 50 anos, se tornaria uma das mais importantes do meu acervo de negativos. Isso aconteceu em 1970, quando adquiri uma câmera fotográfica seminova, uma Yashica Mat. Mal sabia colocar um filme, muito menos calibrá-la. Primeiro, fui ao Foto Studio do amigo Nestor Brandão, comprei um filme preto e branco e saí pelas ruas fotografando.
Deu tudo errado. Segui a bula do fabricante e, embora não tivesse “queimado” o filme, as imagens saíram todas fora de foco. Foi então que Brandão entrou definitivamente na minha história, ensinando-me a focar aquela enorme câmera de duas lentes: uma para focagem e outra para sensibilizar o filme. A partir daí, comecei a fotografar de forma razoável. Errei muito, fiz inúmeras fotos em preto e branco e, buscando melhorar, tempos depois adquiri um fotômetro — aparelho que mede a luz e fornece as coordenadas de calibragem da câmera.
Eram anos difíceis, de importações proibidas, e não havia esse tipo de equipamento nas lojas de fotografia da cidade. Por incrível que pareça, encontrei um modelo básico nas Lojas Bechara, esquecido havia muito tempo na vitrine, sem conseguir comprador. Dali em diante, as imagens melhoraram.
Décadas de 1960 e 1970: anos de rebeldia, as quais a arte aflorava de todas as formas. Fotografar em cores? Nunca! Dizia-se que fotografia colorida não era arte — um grande engano.
Certo dia, ao levar um filme ao Foto Studio, o mestre Brandão provocou:
— Por que você não faz algumas fotos em cores?
Meio avesso à ideia, respondi:
— Coloque um filme colorido e vamos ver o que acontece.
Fotografei a velha Catedral — que depois seria demolida —, a Redentora e mais algumas cenas, completando um filme de apenas 12 poses. Como não dava importância ao colorido, o pacote “sumiu” no meio de uma pasta com métodos de bateria do Gene Krupa.
Só o reencontrei nos anos 1990, depois de já o ter dado como perdido. Em certa noite, sonhei com o Brandão, que me disse:
— Você tem, sim, uma foto da Catedral em cores. Ela está no meio da sua pasta de bateria.
Mas essa… já é outra história.
