Com a atualização da NR01 entrando em vigor neste mês de maio, falar sobre estresse no trabalho (que em outras épocas era até um tabu em algumas organizações) passa a ser uma necessidade. E não por acaso, pois as alterações visam influenciar um olhar mais humanizado para as relações de trabalho, já que o nível de adoecimento por estresse excessivo tem aumentado continuamente. E claro que não é uma responsabilidade exclusiva das empresas já que há inúmeras fontes para o nosso estresse. Mas podemos assumir o papel de educar melhor as pessoas nas nossas equipes sobre o próprio tema e ajudá-las a transformarem o estresse em potência em vez de adoecermos com ele.
Para me ajuda com esse tema, convidei o especialista Ticiano Machado para um bate-papo na Comunidade Reinvente. Ele nos trouxe uma reflexão profunda sobre a gestão do estresse e sua ligação direta com a liderança e o empreendedorismo. Mais do que um alerta sobre os riscos do desgaste, ele nos convidou a enxergar o estresse como uma energia natural — que, se bem canalizada, pode se transformar em realização. A metáfora que ele usou foi potente: nosso corpo funciona como um automóvel com dois modos — economia de energia (sistema parassimpático) e potência (sistema simpático). A chave está em saber quando e como acionar cada um deles.
Essa ideia dialoga muito com nossa visão de liderança em uma cultura inovadora humanizada, pois em uma liderança consciente fazemos não apenas a gestão de processos, mas sobretudo a gestão das pessoas, incluindo dos seus estados emocionais. E isso inclui reconhecer sinais de tensão e contribuir para transformá-los em movimentos construtivos: um novo projeto, uma conversa necessária, uma mudança de rota. Como o próprio Ticiano reforçou, "o importante é transformar emoção em ação".
Na prática, empresas que promovem esse tipo de cultura criam espaços para descompressão, estimulam o diálogo interno e externo, e desenvolvem a autorregulação como competência-chave da liderança. Um exemplo simples, mas poderoso: um gestor que, ao perceber sua equipe sobrecarregada, propõe uma pausa estratégica para reorganização das prioridades, em vez de cobrar mais entrega sob pressão. Parece pequeno, mas é um gesto que gera confiança e engajamento e que, cá entre nós, infelizmente ainda é raro de vermos, já que no automático, o líder geralmente cobra e pressiona pelos resultados.
Outro ponto relevante trazido por Ticiano foi o treino da plasticidade neural: pequenas ações que exigem esforço consciente — como trocar a mão dominante em uma atividade cotidiana — ampliam nossa capacidade de adaptação e aprendizado. Para líderes e equipes que vivem em ambientes de constante transformação, esse tipo de treino é muito interessante. Afinal, inovar também é sobre flexibilizar, testar, errar e aprender rápido.
É cada vez mais importante o desenvolvimento contínuo dos líderes já que, além de buscar resultados, precisam aprender a cuidar de si e de suas equipes, especialmente em momentos de alta demanda. Transformar o estresse em potência é uma escolha diária que não é tão fácil assim de se fazer sem o devido preparo e treino, pois começa pelo aprofundamento do autoconhecimento e se reflete em atitudes conscientes deste líder mais consciente do seu papel atual. Ao unirmos inovação com humanização, criamos organizações mais saudáveis, sustentáveis e, acima de tudo, mais preparadas para lidar com as transformações do mundo — começando pela transformação das pessoas que fazem parte da própria empresa.
