Esta é a penúltima coluna do ano que coincide com a semana das festividades de Natal. Na semana que vem, farei uma retrospectiva na coluna de encerramento do ano, mas é uma bela coincidência ter tido um bate-papo sobre renascimento a partir das dores enfrentadas na carreira no encontro de encerramento do ciclo deste ano na Comunidade Reinvente.
Recebi meu xará Daniel Domingues, que teve uma carreira corporativa de muito sucesso, mas que, depois de um burnout, começou a se planejar para uma nova fase, para um renascimento da própria carreira. A experiência de vida que ele compartilhou conosco traz muito do propósito do próprio nascimento da Comunidade Reinvente que não tem este nome à toa. Foi lá, no início da pandemia, quando muitas certezas caíam ao chão e muitas angústias e dúvidas se colocavam no caminho de líderes e profissionais, que começamos a nos reunir para falar sobre a reinvenção nos negócios, na cultura, na liderança e na carreira.
A cultura inovadora humanizada que venho disseminando ao longo dos últimos anos nasce dessa perspectiva de uma cultura que se reinventa continuamente por meio do foco no propósito, tendo o aprender como estrutura de conexão com o propósito e com os resultados que queremos entregar. Trata-se de entender que o trabalho é feito por pessoas, e que pessoas não sustentam alto desempenho quando estão desconectadas de si mesmas. Daniel Domingues destacou, inclusive, que há muita gente sofrendo por dentro e performando por fora. Esse desencontro entre o ser e o fazer destrói a coerência, e sem coerência não existe cultura saudável. Organizações que realmente desejam inovar precisam abandonar o discurso da produtividade a qualquer preço e cultivar um ambiente onde o humano seja visto, ouvido e respeitado, que, aliás, se conecta muito com a questão da saúde mental que discutimos no artigo da semana passada.
Um dos pontos-chave do encontro foi a discussão sobre a relação entre liberdade e autenticidade. Quando ele afirma que “não há nada mais valioso do que viver a própria coerência”, ele toca no cerne da liderança humanizada. Líderes coerentes criam ambientes coerentes. E ambientes coerentes produzem inovação pelo propósito que existimos, pois esta coerência se materializa ao vivermos no dia-a-dia os valores que de fato defendemos enquanto organização, ao buscarmos de fato atingir nossa visão enquanto equipe e tudo isso pautados pelo propósito que nos move coletivamente. Na prática, isso significa permitir que as pessoas integrem sua identidade ao trabalho, em vez de vestir máscaras corporativas para sobreviver ao dia. Um líder coerente não espera que a equipe apareça “pronta”. Ele sabe que é preciso aprender junto e lidar com todas as incoerências que aparecerão nesse caminho.
Este ano trabalhamos temas com foco no ser humano que lidera, cientes de que quanto mais nos conhecemos e nos desenvolvemos enquanto seres humanos, mais fortes ficamos para exercer nossa liderança. Quando um líder se reconhece, ele se torna capaz de contribuir melhor. E não necessariamente com mais esforço, mas com mais sentido. Quando uma equipe se reconhece, ela contribui não por obrigação, mas por pertencimento. E quando uma empresa reconhece a humanidade que a compõe, ela se transforma se apoiando na sua cultura viva, capaz de unir resultados, impacto e bem-estar. A inovação, nesse contexto, deixa de ser um projeto e passa a ser uma consequência natural da coerência vivida no dia-a-dia a partir da própria cultura.
Reinventar-se, portanto, é uma necessidade contínua do nosso tempo. Que na semana que celebramos o nascimento de Jesus Cristo possamos nos permitir olhar para dentro para nos reconhecermos e olhar para o seu exemplo de amor para que possamos nos inspirar para uma liderança mais humanizada guiada pelo amor ao nosso propósito de vida e às pessoas que lideramos. Feliz Natal.
