Recentemente recebi do Anderson de Andrade um PDF sobre liderança. Quando percebi que era um documento autoral, salvei para ler com mais atenção, já que tenho uma admiração muito grande pelo trabalho dele desde quando nossos caminhos se cruzaram há quase uma década. Depois de mergulhar no conteúdo, respondi a ele o convidando para um bate-papo na Comunidade Reinvente, pois a visão do líder como cientista de si que estava por trás de todo aquele conteúdo era muito convergente com a visão de liderança em uma cultura inovadora humanizada.
A fala do Anderson apenas me reforçou a visão que tenho trabalhado há anos e que realmente é uma virada de chave importante para a liderança se tornar inovadora e humanizada: ninguém pode inovar em seu negócio, em sua equipe ou em sua liderança sem antes aprender a inovar em si. E para isso, necessitamos de desenvolver uma postura ativa, curiosa e investigativa, quase que científica mesmo, sobre quem somos, como reagimos e o que realmente queremos construir. A transformação que buscamos fora só acontece, de verdade, quando ajustamos o olhar para dentro.
A ideia de nos tornarmos “cientistas de nós mesmos”, capazes de observar padrões, testar hipóteses, ajustar rotas e transformar comportamentos com intencionalidade dialoga profundamente com à liderança em uma cultura inovadora humanizada, que defende que toda inovação sustentável nasce de pessoas conscientes de si e responsáveis por sua própria evolução. Assim como um cientista observa fenômenos antes de tirar conclusões, líderes que inovam começam observando suas próprias emoções, crenças e narrativas internas.
Na prática, isso significa tratar o dia a dia como um laboratório vivo. Quando um conflito surge, por exemplo, o líder humanizado não busca culpados, busca entender melhor a realidade a partir de dados e escuta ativa. Ele observa sua própria reação, identifica gatilhos emocionais, questiona convicções automáticas e escolhe responder, e não apenas reagir. Esse pequeno deslocamento do automático para o consciente é, por si só, um ato de inovação pessoal. É assim que se abre o espaço para relações mais maduras, equipes mais seguras psicologicamente e decisões muito mais consistentes.
Outro ponto trazido pelo Anderson é a coragem de experimentar. Assim como na ciência, nem todo experimento vai gerar o resultado esperado e, por isso, é importante estarmos abertos aos erros e às correções de rotas no caminho. Quando um líder se permite testar novos comportamentos, ajustar sua forma de comunicar ou mudar sua abordagem de gestão, ele cria um ambiente no qual as pessoas também se permitem fazer o mesmo. É assim que surgem equipes mais criativas, mais comprometidas e mais capazes de lidar com mudanças constantes.
Mas ser cientista de si também exige outro ingrediente: tempo de qualidade para interpretação. De nada adianta agir sem refletir. Na rotina acelerada, a liderança se habitua a fazer, fazer, fazer… e esquece de integrar o aprendizado. No fim das contas, a ideia é simples: se queremos empresas mais humanas, inovadoras e sustentáveis, precisamos começar por nós mesmos. É no nosso laboratório interno que nasce a coragem para mudar, a humildade para aprender e a sabedoria para liderar com autenticidade. Lideranças que se tratam como cientistas de si mesmas tornam-se líderes mais leves, mais consistentes e muito mais capazes de inspirar transformação ao redor.
