AS ‘MEDITAÇÕES’ DE MARCO AURÉLIO
Dia desses, eu passeava por uma livraria quando me deparei com um livro de tema bastante comentado ultimamente. Era “Meditações”, de Marco Aurélio (121-180), grande expoente do pensamento estoico. É claro que não resisti.
“Meditações” é composto por escritos do imperador romano, que variam de extensão – de uma única frase a parágrafos longos. O conjunto é composto por 12 pequenos livros que foram escritos por Marco Aurélio em grego, ao que tudo indica entre os anos de 170 e 180, em meio a campanhas militares.
O objetivo de Marco Aurélio era a orientação e a reflexão pessoal. Desnecessário dizer que se trata de uma leitura muito interessante. Quase 2.000 anos nos separam do imperador, cujas reflexões ultrapassam o tempo e atingem o caráter universal que nos conecta enquanto seres humanos.
Chama a atenção a aparente simplicidade dos seus dizeres, cujas implicações, muito além do óbvio, dizem respeito a um viver em acordo com a condição vulnerável do homem face os desígnios cósmicos e naturais.
“Meditações” traz reflexões existenciais: “Para a natureza, que dá e tira todas as coisas, o homem bem instruído e modesto dirá: ‘Dá-me o que quiseres; toma de volta o que quiseres’” e de abrangência cósmica: “Existes como parte do todo. Desaparecerás novamente dentro do que te criou, ou, ainda, mudarás e serás novamente inserido na inteligência criadora”.
São muito os conselhos e ensinamentos: “Deves deixar o pecado alheio por conta do pecador” ou “Não fales mais sobre como deveria ser um bom homem; sê um”, além de conceitos sobre o existir: “Tudo o que é material logo é engolido pela matéria do todo, e cada causa ativa é direcionada para a razão universal.”
“Meditações” não é um livro para ser lido do começo ao fim, pura e simplesmente. É obra a ser degustada. Um livro de cabeceira. Que proporciona refletir sobre fatos do mundo que, por vezes, nos escapam em meio a um cotidiano maçante e apressado.
Devemos nos lembrar, porém, de que o pensamento de Marco Aurélio surge em contexto específico e “Meditações” é uma das melhores fontes para a compreensão da filosofia estoica, corrente filosófica do período helenístico que pregava a necessidade de se viver em harmonia com o cosmos, uma vida simples e disciplinada como meio para alcançar a felicidade e a paz interior.
Fenômeno interessante é que os preceitos estoicos, que, aliás, nunca saíram de cena, acabaram instrumentalizados pela autoajuda, nos últimos anos, e caíram no gosto popular. Mas (óbvio) não podemos perder de vista que reflexões como: “Adapta-te às coisas que teu destino te ofertou” foram ditas por um imperador romano. O poderoso Marco Aurélio e sua “corte” eram, ainda, parte de um mundo muito diferente do nosso, com suas estratégias avassaladoras.
De posse dessa certeza, resta degustar as palavras de Marco Aurélio que tem tanto a nos dizer. Excelente leitura!