“SIDARTA” E A BUSCA POR ILUMINAÇÃO
“Sidarta” é um livro que encanta gerações. Não sei dizer se é o meu favorito dos que li de Herman Hesse (1877- 1962). Ler “O lobo da estepe” foi arrebatador e “O jogo das contas de vidro” me impressionou pelo engenho e originalidade. Mas “Sidarta”, publicado originalmente em 1922 (os outros dois são, respectivamente, de 1927 e 1943) é, sem dúvidas, um livro marcante.
Hesse era alemão. Nascido em uma família muito religiosa, era filho de missionários protestantes, que pregavam o cristianismo na Índia. Hesse recusou a formação religiosa que esperavam que assumisse. Acabou por se mudar para Suíça, onde se naturalizou. Lá, trabalhou como livreiro e começou a escrever.
No início dos anos 1910, Herman Hesse fez uma viagem à Índia e travou contato com a espiritualidade oriental. De sua vivência nessa incursão pelo Oriente, ele produziria “Sidarta”, romance que se passa na época de Buda e que fala sobre a busca por iluminação e sabedoria.
Ambientado na Índia, “Sidarta” narra a história de um rapaz de origem nobre que busca ascensão espiritual. De início, parece que estamos lendo a história do próprio Gotama que, como sabemos, se chamava Sidarta. Mas não. O personagem de Hesse terá oportunidade de conversar com o “Augusto”, o “Venerável Buda”, mas se recusará a adotar qualquer padrão de comportamento religioso.
O Sidarta de Hesse é um espírito inquieto que se mantém fiel à própria alma. Segue os ensinamentos de Buda sem a devoção de seus seguidores. Sidarta, brâmane de busca incansável, trilhará um caminho próprio. Este vai da busca pelo prazer sensual vivido com uma cortesã, o desfrute dos bens materiais e as diversões mais banais, à reflexão profunda, vivida em meio à renúncia de qualquer prazer físico.
Um traço marcante desse romance de Hesse é a maneira como ele confronta as angústias ocidentais, no que diz respeito ao individualismo, por exemplo. A busca pela sabedoria requer despojamento. Desapego das ambições mais banais do eu. Um culto ao mundo e aos seus fenômenos. Alguns desses questionamentos despontariam com força décadas seguintes. E inserem o autor na ideia de contracultura.
Suas obras se tornaram verdadeiros best-sellers nos Estados Unidos, nos anos 1960. O fato é que Hesse meio que desbravou caminhos do misticismo oriental, muito antes que ele se tornasse tendência e explorou temas que se tornariam relevantes.
O fato é que “Sidarta” é um romance lírico. Onírico ao explorar o lado místico da existência. E que não oferece respostas aos dilemas que traz. Ele instiga a busca. O cuidado com o que nos cerca. As sensações que o mundo nos proporciona. As lições que devem servir de aprendizado. E a alma que deve seguir leve. Em busca de. Recomendo!
SIDARTA
Herman Hesse
Editora: Record (2019)
Páginas: 176
Preço: R$ 69,90 (Em sebos virtuais a partir de R$ 19,90)