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O ‘MOMENTO DECISIVO’

ArtigoCOLUNA - OLHAR ATENTOO ‘MOMENTO DECISIVO’

Sobre o autor

Todo bom fotojornalista busca captar o chamado “momento decisivo” em seu trabalho diário — a arte de registrar, em uma única imagem, um impacto capaz de transmitir mais do que qualquer texto explicativo. Essa arte ou conceito foi criado pelo fotógrafo francês Henri Cartier-Bresson (1908–2004), considerado o pai do fotojornalismo moderno. Ele se tornou famoso por fotografar o cotidiano de pessoas comuns entre as décadas de 1940 e 1960, não apenas na França, mas também em diversas partes do mundo.

Com seu olhar fenomenal, Cartier-Bresson mudou a história do fotojornalismo mundial. Fotógrafo de uma geração de ouro da arte iniciada por Daguerre, uniu-se a outros ícones — como Robert Capa, David Seymour e George Rodger — na agência Magnum Photos, que se tornaria, por décadas, a maior agência de imagens do mundo.

Por influência de Cartier-Bresson, surgiram — e continuam surgindo — inúmeros profissionais extraordinários, como Sebastião Salgado e Steve McCurry, que frequentemente citam o “momento decisivo” como elemento essencial em seus trabalhos.

Mas como chegar a esse “momento”?

Antes de tudo, é preciso estar sintonizado e profundamente atento ao que acontece ao seu redor. Não basta simplesmente ir e fotografar — é preciso ir com propósito, conhecimento, técnica e pleno domínio do equipamento. A câmera deve estar calibrada com o olhar, como se fosse uma extensão do próprio corpo: um instrumento musical afinado, pronto para tocar; uma arma pronta para disparar. Não pode desafinar o tom, nem errar o tiro. Só há uma chance — e essa chance é o que chamamos de “momento decisivo”. Não se trata de registrar o antes ou o depois, mas o durante. Esse é o X da questão. A cena não volta.

Para ilustrar esse conceito de forma prática, escolhi uma foto feita no Vale do Paraíba, durante um encontro de congadas, em que acredito ter registrado o “momento decisivo”.

Após me familiarizar com o ambiente da festa, percebi muitos fotógrafos tentando reunir, aos gritos, um grupo de congadeiros para uma foto. Era um festival de comandos: “vem pra cá”, “vire pra direita”, “aperta mais pro lado”, “senta”, “agacha”, etc. O ambiente, porém, estava claramente avesso àquela tentativa. Entre os congadeiros, o clima era outro: havia atraso, os adultos queriam se apresentar, as crianças queriam dançar suas coreografias — queriam tudo, menos posar para fotos.

Sem interesse em registrar uma foto posada, e sintonizado com o ambiente, decidi buscar a verdade daquele momento. O outro lado da festa, além da alegria: a tensão, a pressa, a confusão. O resultado foi esta imagem — três crianças, com três expressões distintas.

Se consegui, de fato, captar o “momento decisivo” naquele contexto, não sei. Mas tentei — e está aí, para vocês observarem.

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