Novembro é um mês muito especial para quem trabalha com saúde materno-infantil. É o mês do Novembro Roxo, uma campanha mundial de conscientização sobre a prematuridade, uma condição que, infelizmente, ainda representa a principal causa de mortalidade infantil antes dos cinco anos.
Falar sobre esse tema é essencial. O bebê é considerado prematuro quando nasce antes da 37ª semana de gestação, e cada semana a mais no útero faz diferença enorme para o seu desenvolvimento. No Brasil, os números preocupam: somos o 10º país no ranking mundial de nascimentos prematuros, com cerca de 340 mil casos por ano – o equivalente a seis bebês nascendo antes do tempo a cada dez minutos.
Com o tema “Garanta aos prematuros começos saudáveis para futuros brilhantes”, a campanha de 2025 reforça a importância da prevenção, do pré-natal de qualidade e do cuidado humanizado aos recém-nascidos. Acredito que todo mundo é tocado pela prematuridade de alguma forma, mesmo quem não tem um bebê prematuro na família é impactado. Estamos falando de um desafio de saúde pública que exige empatia, informação e ação.
Cerca de 60% dos partos prematuros acontecem de forma espontânea, muitas vezes por complicações na gestação. Entre os principais fatores de risco estão a gravidez na adolescência, a hipertensão, o diabetes, as infecções e o pré-natal insuficiente ou tardio.
Outros 40% dos casos estão associados a intervenções médicas, como cesarianas eletivas sem indicação clínica. Precisamos repensar nosso modelo de assistência obstétrica e reduzir as cesáreas desnecessárias. Cada semana que o bebê permanece no útero representa ganhos importantes para a maturação dos pulmões, do cérebro e do sistema imunológico.
Os bebês que nascem antes do tempo são mais vulneráveis porque recebem menos anticorpos da mãe e têm o sistema imunológico imaturo. Isso os torna mais suscetíveis a infecções e doenças respiratórias, como bronquiolite e gripe.
Por isso, a vacinação é uma ferramenta essencial na proteção desses pequenos. Além disso, é fundamental que o bebê prematuro receba assistência neonatal qualificada, com protocolos bem estruturados e equipes especializadas. Com um cuidado adequado, conseguimos reduzir significativamente as complicações e garantir um início de vida mais saudável.
O cuidado com o prematuro vai além das incubadoras e dos equipamentos. O contato pele a pele entre mãe e bebê, o toque, o cheiro e o som da voz materna são estímulos poderosos que ajudam na regulação dos batimentos cardíacos, da temperatura e do desenvolvimento emocional.
O método canguru, que promove esse contato precoce, é uma das práticas mais eficazes na humanização do cuidado neonatal. Sempre que possível, esse vínculo deve ser incentivado – ele favorece a amamentação, estabiliza os sinais vitais e fortalece a relação afetiva entre mãe e filho.
O Novembro Roxo é parte de uma mobilização mundial liderada pela Aliança Global para o Cuidado do Recém-nascido (GLANCE), com apoio da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Unicef. No mundo todo, 1 em cada 10 bebês nasce prematuro, o que representa cerca de 15 milhões de crianças todos os anos.
Durante este mês, monumentos, pontes e prédios públicos são iluminados de roxo — cor que simboliza sensibilidade, individualidade e transformação. É uma forma de chamar atenção para a causa e celebrar a força desses pequenos guerreiros e de suas famílias.
Como médica pediatra, vejo diariamente o quanto a atenção integral à saúde da gestante e do recém-nascido faz diferença. Garantir um pré-natal acessível, fortalecer a rede de atenção primária e investir em profissionais capacitados são passos fundamentais para reduzir a prematuridade e salvar vidas.
Gabriela Marcatto
Pediatra formada pela Universidade Brasil, com residência pela Famerp e título de especialista pela Sociedade Brasileira de Pediatria. Atua como preceptora na Faceres e atende na Clínica Amorir
@dragabrielamarcatto
