O Prêmio Nobel é uma honra internacional criada no testamento de Alfred Nobel, inventor da dinamite. Desde 1901, é concedido anualmente em várias áreas, incluindo Medicina ou Fisiologia. O Instituto Karolinska, uma renomada universidade de medicina em Estocolmo, Suécia, é responsável pela avaliação nessa categoria. Fundado em 1810, o Instituto é conhecido por sua excelência em pesquisa médica e ciências da saúde, sendo um dos principais centros de investigação da Europa. O Prêmio Nobel de Medicina reconhece pesquisas que tiveram um impacto significativo no campo médico e biológico, concedido pela Assembleia do Nobel do Instituto.
A concessão do Prêmio Nobel envolve várias etapas rigorosas. As nomeações vêm de acadêmicos, cientistas e outras pessoas qualificadas. Depois, comitês internos, formados por milhares de acadêmicos, analisam as indicações e o mérito científico das contribuições. Após essa avaliação, os comitês discutem a relevância e o impacto dos trabalhos. A escolha final é feita por votação, reconhecendo descobertas que transformaram o conhecimento médico. Muitas vezes, o Nobel de Medicina premia descobertas feitas há décadas, que foram fundamentais para o avanço da ciência e da prática médica.
Um exemplo é o médico austríaco Karl Landsteiner, que ganhou o Prêmio Nobel em 1930 por descobrir os grupos sanguíneos ABO em 1900. Essa descoberta foi crucial para tornar as transfusões de sangue seguras, permitindo que médicos compatibilizassem tipos sanguíneos e evitassem reações adversas. A identificação dos grupos A, B, AB e O fundamentou a medicina transfusional moderna, possibilitando cirurgias seguras e salvando milhões de vidas.
Outro exemplo famoso é Alexander Fleming, que descobriu a penicilina em 1928 no Hospital St. Mary’s, em Londres. Ele notou que um bolor, o Penicillium notatum, havia contaminado uma cultura de Staphylococcus aureus, inibindo o crescimento das bactérias. Em 1929, publicou um artigo sobre isso. Mais de uma década depois, em 1941, Howard Florey e Ernst Chain, na Universidade de Oxford, purificaram a penicilina, tornando-a o primeiro antibiótico eficaz. Por essa colaboração, Fleming, Florey e Chain receberam o Prêmio Nobel em 1945, iniciando uma revolução na medicina.
Neste ano, o conhecimento sobre as doenças autoimunes foi o tema laureado. Muitas delas são consideradas graves, como a esclerose múltipla, que afeta o sistema nervoso; a esclerose sistêmica, que impacta a pele e órgãos internos; a doença de Crohn, que afeta principalmente o aparelho digestivo; e o lúpus eritematoso sistêmico, que pode comprometer todo o organismo.
Para regular a função do sistema imunológico, o organismo utiliza os linfócitos T reguladores (Tregs). Esses linfócitos foram descritos desde a década de 70 e são o foco dos trabalhos de Shimon Sakaguchi, que investigou doenças autoimunes, câncer e transplantes de células-tronco. O controle das células Tregs é genético e se dá pelo gene FOXP3, com estudos que comprovam essa relação desde 2001, conduzidos pelos pesquisadores Mary Brunkow e Fred Ramsdell. Os três cientistas foram laureados com o Prêmio Nobel de Medicina deste ano.
Ao longo de mais de um século, o Prêmio Nobel de Medicina celebrou não apenas descobertas científicas, mas também seu impacto duradouro na saúde humana. Os laureados, como mostrado, muitas vezes realizaram seus trabalhos décadas antes do reconhecimento, demonstrando que o valor da ciência se revela com o tempo, à medida que a história comprova a profundidade e a relevância de suas descobertas.
MILTON ARTUR RUIZ
Médico, coordenador da Unidade de TMO e Terapia Celular do Hospital Infante Dom Henrique da Associação Portuguesa de Beneficência de Rio Preto, Ex-professor de Hematologia/Hemoterapia da USP
@dr.miltonruiz
