Mulheres e Meninas na Ciência
A desigualdade de gênero nas carreiras científicas é um fenômeno global, evidenciada por vários indicadores, dentre eles condecorações, publicações e posições de destaque e liderança. Conforme relatório da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) de 2021, o percentual de pesquisadoras no mundo é de apenas 33,3%, demonstrando uma significativa sub-representação. A disparidade é acentuada no Prêmio Nobel, que reconhece contribuições para a humanidade em Física, Química, Fisiologia ou Medicina, Literatura e Paz. Desde a criação dos três primeiros prêmios, em 1901, apenas 26 mulheres foram laureadas, representando 4% do total de 653 premiados.
Duas mulheres simbolizam os opostos desse desequilíbrio. Marie Curie, cientista de origem polonesa e cidadania francesa, descobriu a radioatividade. Ela foi a primeira mulher a ganhar o Nobel, a primeira pessoa e a única mulher a recebê-lo duas vezes, além de ser a única a ser agraciada em duas ciências - Física (1903) e Química (1953). Em contraste, a biofísica britânica Rosalind Franklin produziu a imagem de raios X que foi essencial para a criação do modelo da dupla hélice do DNA, mas não foi incluída na publicação desse modelo e nem recebeu o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina, concedido a James Watson, Francis Crick e Maurice Wilkins, em 1962, pela descoberta.
O segundo indicador é favorável para o Brasil: nos últimos dez anos, a presença das mulheres em publicações científicas aumentou de 38% para 49%. Mas ainda há grandes diferenças entre as áreas vistas como "masculinas", ou “duras”, como Física, Astronomia, Matemática, Ciência da Computação e Engenharias, e as consideradas "femininas", como Enfermagem, Nutrição, Farmacologia e Psicologia. Nas primeiras, as mulheres publicaram menos de 30% dos artigos, enquanto nas segundas, mais de 60% (Relatório da Agência BORI-Elsevier #4, de 2024).
A baixa representatividade de meninas entre os alunos com melhor desempenho em matemática no ensino médio no Brasil, e em outros países, pode contribuir para o persistente desequilíbrio nas carreiras "duras" — que estão entre as mais bem remuneradas —, segundo o Relatório de 2022 da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).
Mesmo com os avanços em direção à equidade, as mulheres ainda enfrentam obstáculos para alcançar posições de liderança. Tomemos como exemplo a composição atual da Academia Brasileira de Ciências - dentre os 598 membros titulares apenas 127 são mulheres. Todavia, é importante destacar a existência ações afirmativas destinadas a ampliar a presença das mulheres em carreiras de ciência, tecnologia e inovação. No Brasil, as Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) lideram tais iniciativas. Também as universidades têm programas voltados aos ensinos fundamental e médio, que buscam despertar o interesse das meninas pela ciência. Essas instituições garantem o compromisso do país com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 5 (ODS 5) da ONU, que consiste em promover a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas.