Autorregulação
Iniciamos há três semanas uma série de artigos que busca contribuir para aprofundar o olhar para as competências de autoliderança. Ao buscarmos fortalecer o ser humano que lidera, aprofundando seu autoconhecimento, potencializamos a sua própria liderança pela força da conexão com seu propósito e seus valores nas suas ações como líder. No artigo da semana passada, falamos sobre autorresponsabilidade e, hoje, abordaremos o conceito da autorregulação. Para aprofundar o entendimento sobre este tema, recebi o especialista Flávio Neves para um encontro na Comunidade Reinvente.
Mas o que seria a autorregulação? Basicamente trata-se da nossa capacidade de conseguirmos regular nossas próprias emoções, nossos comportamentos e pensamentos para lidarmos com nossos desafios diários em busca dos nossos objetivos. É uma habilidade importante por nos ajudar a lidar com as nossas próprias reações aos estímulos externos, mantendo nosso equilíbrio emocional e comportamental frente aos problemas e às situações adversas no mundo. É a habilidade base da força do desenvolvimento interior para liderar e superar desafios.
No nosso encontro, Flávio nos explicou que não temos controle sobre a realidade externa, mas podemos ter controle sobre os filtros com os quais interpretamos essa realidade. Esses filtros são formados por memórias, convicções, valores, decisões e até hábitos culturais herdados. Por isso, autorregular-se é também ressignificar: transformar um desafio em oportunidade, um conflito em aprendizado, uma tarefa pesada em expressão de propósito. E a construção do sentido é fundamental para nos potencializarmos na nossa liderança, já que quando enxergamos sentido no que fazemos, nos sentimos equilibrados. E este equilíbrio gera não apenas bem-estar, mas um desempenho mais sustentável em nossas atividades.
A partir da autorregulação, entendemos que o outro não tem poder sobre nós e que podemos nos regularmos perante às situações que fogem do nosso controle sem perdermos nós mesmos o próprio controle das próprias emoções. Autorregular-se, na prática, é perceber que cada ação pode ser uma escolha — não uma reação automática como estamos acostumados. É entender que podemos reescrever a história que contamos para nós mesmos sobre uma situação difícil que vivemos no passado e que não necessariamente precisa nos prender no presente.
Um dos principais desafios para desenvolvermos esta habilidade hoje é justamente a aceleração do dia-a-dia que nos faz ter cada vez menos tempo para refletirmos e sairmos das reações automáticas. Nem sempre percebemos que estamos tomando decisões que não resolvem de verdade o problema por apenas serem uma solução automática para resolver os conflitos gerados pelo problema em si. Para desenvolver a autorregulação, precisamos desenvolver nossa capacidade de estarmos presentes e atentos ao que está acontecendo para que possamos perceber nossas reações automáticas a fim de revertê-las com as modificações dos nossos próprios filtros perante tal situação.
É incrível o poder que ganhamos quando nos permitimos ter uma liderança de dentro para fora, sendo exemplos do propósito que defendemos e dos valores que carregamos. Quanto mais conscientes estivermos deste poder, mais espaço abriremos nas nossas vidas para momentos de relaxamento que nos permitam estarmos presentes nos nossos desafios a ponto de conseguirmos nos autorregular para atingir os objetivos que buscamos sem abrirmos mão do nosso propósito nem dos nossos valores. Muito pelo contrário, sendo impulsionados por eles com uma liderança inspiradora de dentro para fora.