O filme “2001: Uma Odisseia no Espaço”, produzido e dirigido por Stanley Kubrick em 1968, traz, em sua primeira sequência, “A Aurora do Homem”, um bando de hominídeos perplexos ao se depararem com um magnífico monólito energético. Na cena seguinte, um deles percebe que pode usar um osso encontrado na savana africana tanto para caçar quanto para disputar um poço de água com tribos rivais.
O lançamento de um fêmur ao espaço nos transporta para gigantescas naves que deixam o planeta ao som de “Danúbio Azul”. O monólito simboliza a origem do Homo sapiens, com o despertar da inteligência e do autoconhecimento; por sua vez, o osso e as naves espaciais representam a invenção de ferramentas e a evolução da ciência e da tecnologia. Entre esses dois momentos da ficção, no mundo real ocorreu um longo processo de produção científica que ampliou o conhecimento estabelecido, sobretudo atribuindo novos significados a conceitos antigos. Revoluções científicas produzidas por teorias como a Heliocêntrica (Nicolau Copérnico, 1543), a da Evolução (Charles Darwin, 1859) e a da Relatividade (Albert Einstein, 1905 e 1915) subverteram crenças sobre nós mesmos, o nosso mundo e o universo.
Também ocorreram revoluções técnico-científicas. A descoberta da estrutura e da função do DNA por James Watson e Francis Crick, em 1953, foi o ponto de partida para o desenvolvimento da biologia molecular, que possibilitou a criação da engenharia genética, área responsável por avanços significativos na vida moderna, como a produção em larga escala de plantas transgênicas resistentes a pragas e de alimentos e medicamentos, além da recente tecnologia de edição de genes que corrige mutações causadoras de doenças.
A máquina a vapor, a eletricidade e a internet transformaram nossa maneira de viver. No entanto, as mudanças atuais, resultantes da integração das tecnologias digitais, físicas e biológicas - como a nanotecnologia, a neurotecnologia, a Internet das Coisas (IoT) e a Inteligência Artificial (IA) -, têm um impacto ainda maior. Esses avanços vão desde o uso diário de aplicativos de navegação e monitores de sinais vitais até a utilização de tecnologias de ponta, como realidade virtual e aumentada, robôs humanoides, veículos voadores e “rovers” em operação no planeta Marte.
“Nos encontramos hoje em novo momento revolucionário”, não devido à proposição de novas teorias, mas “devido à sobreposição de revoluções na Genética, na Biotecnologia, e na IA”, afirma Jamie Metzel, em sua obra “Superconvergence”, de 2024. Há riscos? Segundo o autor, “embora os potenciais benefícios da implementação de sistemas de IA poderosos sejam astronômicos, também o são os riscos, em especial se não formos imensamente ponderados, proativos e cuidadosos”.
Será que assistiremos à reinvenção do HAL 9000, o computador da nave Discovery One em “2001: Uma Odisseia no Espaço”, o qual passou a tomar decisões e impor sua vontade, com resultados catastróficos, tendo de ser desligado? “A adoção de sistemas de governança e regulatórios robustos pode ajudar a maximizar os benefícios e minimizar os potenciais danos” (J. Metzel), quiçá mantendo os riscos restritos à ficção.
