Quando era professora de uma turma de 4º ano em São Paulo, uma aluna me disse: “Não trouxe caderno.” Perguntei a razão e ela me respondeu: “Minha mãe mandou você me dar um.”
Quando levamos os alunos a um passeio eu ouvi uma aluna de outra turma dizer à professora: “Preciso do seu celular.” A professora perguntou o motivo e ela respondeu: “Minha mãe mandou você me emprestar para eu avisar que cheguei bem”.
Em nenhuma das situações nós cedemos e as alunas tiveram que lidar com a contrariedade.
Outro dia uma mãe brigava na escola porque queria um profissional de apoio para ficar com seu filho. E para quê? Impedir que ele corresse, caísse e se machucasse.
Estou contando tudo isso enquanto penso no que estamos fazendo com nossas crianças e adolescentes. São fracos: não podem se machucar, não podem ser contrariados, não podem se frustrar, não sabem enfrentar o mundo. E esses cristais, ainda tem seus pais incentivando tudo isso. Pais que não querem ser repressores como dizem que seus pais foram, mas caem em outro extremo e se tornam permissivos demais. Agora esperam que seus filhos colaborem em casa, mas precisam oferecer alguma recompensa.
Nas reuniões de planejamento das escolas vemos professores e gestores preocupados em planejar estratégias que despertam o interesse e a permanência dos alunos na sala de aula. Prêmios para os que fazem as provas. Doces, bolos, jogos, permissão para escolher as músicas que irão tocar no intervalo e tudo isso para que cumpram com as suas obrigações de ir à escola, participar das aulas, fazer provas, entregar trabalhos. Chegamos ao ponto de implorar que esses adolescentes cumpram com suas obrigações e ainda os premiamos por fazerem. Governos assistencialistas deixaram muita gente mal acostumada: a escola dá tudo. A escola virou família, professores viraram pais, e os pais viraram a escolta dos filhos de sangue azul.
Quando eu era criança perguntei ao meu pai o que ele me daria se eu passasse de ano. Ele respondeu “Nada. Passar de ano é sua obrigação”. Minha mãe colocava todo mundo para ajudar no serviço de casa e uma vez alguém perguntou: “E o que eu ganho com isso?” E ela: “Experiência no ramo.”
Tirar notas altas era uma exigência dos pais, ter um bom comportamento também era uma exigência e não havia nenhuma recompensa por isso. Os pais tinham vergonha de que seus filhos fossem desrespeitosos e trabalhavam lado a lado com os professores. Hoje são os primeiros a brigar na escola de que seu pobre filho seja o causador de algum problema.
Estamos criando uma geração iludida achando que a vida orbita ao seu redor. Serão adultos despreparados para a vida real, frágeis e incapazes de lidar com frustrações e responsabilidades incrédulos. É necessária uma mudança a partir de nós, do que ensinamos, dos exemplos que damos. Sejam as nossas atitudes o nosso maior legado.
