Pouco conhecida pela população, a hidradenite supurativa é uma condição que, para quem convive com ela, pode ser extremamente incômoda. Trata-se de uma condição inflamatória, crônica e recorrente que afeta os folículos pilosos — aquelas estruturas onde nascem os pelos. Quando algo desregula esse processo, inicia-se uma inflamação contínua que pode evoluir para nódulos dolorosos, abscessos e até pequenas fístulas sob a pele.
Segundo a dermatologista Fabrícia Meier, “a hidradenite supurativa é mais do que uma doença de pele; ela afeta profundamente a autoestima e a rotina dos pacientes, especialmente quando o diagnosticada demora e é confundida com outras doenças”.
A condição, geralmente, surge logo após a puberdade e tem predileção por regiões do corpo onde existe atrito natural: “axilas, virilhas, dobras sob os seios e entre as nádegas. Muitas vezes, as primeiras lesões se parecem com furúnculos. Quando rompem, deixam cicatrizes e podem liberar secreção com odor desagradável, o que aumenta ainda mais o desconforto físico e emocional”, explica Mônica Silveira, dermatologista.
Com o passar dos anos, a doença pode piorar caso não seja tratada adequadamente. Embora possa aparecer em qualquer idade, conforme a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), é mais comum em mulheres na faixa dos 20 anos.
Por muito tempo se acreditou que a hidradenite supurativa fosse causada por um mau funcionamento das glândulas apócrinas, que produzem um tipo especial de suor. “Hoje, sabe-se que o processo é mais complexo. O que se entende é que o folículo piloso se obstrui, rompe e desencadeia uma forte resposta inflamatória na região, o que inicia um ciclo contínuo de nódulos, abscessos e formação de túneis sob a pele”, afirma Mônica.
A especialista destaca que: “não existe uma única causa para a hidradenite supurativa; é uma combinação de predisposição genética, fatores hormonais e hábitos de vida que podem agravar o processo inflamatório”. Mônica acrescenta que “é comum que as lesões durem semanas ou meses e reapareçam no mesmo local, característica que ajuda o especialista a fechar o diagnóstico”.
Diagnóstico
O diagnóstico de hidradenite supurativa costuma ser clínico. O dermatologista avalia o histórico, examina as áreas afetadas e observa a repetição das lesões ao longo do tempo. “Em alguns casos, podem ser solicitados exames para descartar outras doenças, mas isso não é regra”, diz Fabrícia.
Riscos
Sociedade Brasileira de Dermatologia, diversos estudos indicam que a hidradenite supurativa pode estar ligada à obesidade e ao tabagismo. “Há também pesquisas que apontam que uma alimentação rica em carboidratos, açúcares e gordura animal tende a piorar o quadro”, destaca Mariana Souza, dermatologista.
Ainda de acordo com Mariana, manter um peso saudável e evitar o cigarro são atitudes importantes na prevenção e no controle da doença. “Além disso, optar por roupas menos apertadas e reduzir o acúmulo de suor nas áreas afetadas pode trazer alívio. Há ainda relatos de que a depilação definitiva a laser, por eliminar os folículos pilosos onde a inflamação se instala, pode oferecer benefícios para alguns pacientes”, conclui.
Tratamento
A boa notícia é que existe tratamento – embora ainda não haja cura. O que se busca é controlar a inflamação, evitar novas lesões e melhorar a qualidade de vida. “Dependendo da gravidade, podem ser indicados antibióticos, medicamentos biológicos, procedimentos minimamente invasivos e cuidados diários com a pele”, afirma Fabrícia. “O acompanhamento contínuo é essencial, já que a doença tende a voltar se não for monitorada”, conclui a dermatologista.
Fatores que aumentam a chance de desenvolver a hidradenite supurativa:
sexo feminino
histórico familiar
tabagismo
obesidade
alterações hormonais comuns na adolescência e início da vida adulta
Os principais sintomas são:
Surgimento de nódulos inchados e avermelhados, que lembram “espinhas internas” ou pequenos furúnculos
Dor e sensibilidade nas áreas afetadas
Caroços persistentes, que podem permanecer por semanas ou até meses
Aumento progressivo do tamanho dos nódulos
Lesões isoladas bastante inflamadas ou vários nódulos espalhados pela mesma região
Após romperem, as lesões costumam demorar vários dias para cicatrizar
Formação de túneis (fístulas) sob a pele
Cicatrizes permanentes deixadas pelos episódios inflamatórios
Liberação de secreção com odor forte e aspecto de pus
Presença de pontos escuros semelhantes a cravos na pele
Fonte: Ministério da Saúde
