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Surdez e demência: entenda a ligação e como prevenir o declínio cognitivo

SaúdeSurdez e demência: entenda a ligação e como prevenir o declínio cognitivo
A perda da audição está entre os fatores de risco para demência em idosos, uma vez que a diminuição das ondas sonoras no cérebro pode interferir na capacidade cognitiva

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Pesquisa Nacional de Saúde do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que cerca de 1,5 milhão de pessoas com deficiência auditiva é idoso. Número expressivo que traz um alerta importante: a surdez em idosos é considerada por especialistas como um dos fatores ameaçadores para o desenvolvimento de demências nessa faixa etária. A relação ocorre uma vez que a redução das ondas sonoras no cérebro interfere nas atividades cerebrais e, por consequência, na capacidade cognitiva.

A explicação é da otorrinolaringologista Ana Carla Theororo. Segundo a médica, a relação entre surdez e demência é significativa. “A perda auditiva reduz a quantidade de estímulos sonoros que chegam ao cérebro, o que pode levar ao encolhimento de áreas cerebrais importantes para a cognição como o córtex cerebral”, explica. A afirmação da especialista está amparada em pesquisa liderada pela Universidade de São Paulo (USP). “Pesquisa que demonstrou em publicação recente deste ano que a perda auditiva, isolando outros fatores, leva a um declínio cognitivo geral (como memória e atenção), mais acentuado quando esse paciente tem perda auditiva associada”, afirma a otorrinolaringologista.

A médica diz também que estudos de ressonância magnética cerebral demonstram que o paciente que ouve menos tem áreas menos ativas no cérebro, “como a linguagem, por exemplo”, cita a especialista. Para garantir a audição e prevenir o desenvolvimento de demências, uma das possibilidades de tratamento, segundo a otorrinolaringologista, é o uso de aparelhos auditivos. “Eles têm um papel fundamental na perda auditiva, pois reduzem o esforço cerebral (já que a perda auditiva força o cérebro a trabalhar mais para processar os sons), estimula as vias auditivas, beneficiando a cognição e a função geral do cérebro. Além de manter a atividade cerebral ativa”, explica Ana Carla.

O uso do aparelho, no entanto, deve ser introduzido na rotina gradualmente e com acompanhamento profissional para melhor conforto e adaptação. “Sempre falo para os pacientes que nesse momento que indicamos o aparelho auditivo, não é sobre ele se acostumar ou não, e sim pela necessidade de usar o aparelho. Não é mais uma questão de opção e sim de decisão”, reforça a otorrinolaringologista.

Adaptação que deve ser acompanhada de especialista, como fonoaudiólogos, que irão recomendar o melhor aparelho e escolher, junto ao paciente, o que mais atende as necessidades auditivas e não auditivas. Além da escolha e adaptação, especialistas também atuam no processo de aconselhamento, “não se trata de convencer alguém a usar aparelhos auditivos, mas sim de informar com clareza para que o paciente possa decidir com segurança”, diz a fonoaudióloga e coordenadora da Clínica Binaural, Alessandra Pagliuso.

Segundo a médica, o trabalho do fonoaudiólogo não termina na entrega do kit dos aparelhos auditivos, “pelo contrário, o profissional é um parceiro em toda a jornada auditiva do seu paciente”, disse. Acompanhamento de fonoaudiólogos que não restringe aos idosos. “Para todos, desde os primeiros sintomas, diagnóstico e, por fim, a reabilitação e acompanhamento”, afirma.

Aparelhos auditivos ajudam a prevenir demências e melhorar a qualidade de vida

Os benefícios do uso de aparelhos auditivos vão muito além da prevenção da demência. Isso porque a capacidade de ouvir estimula constantemente diversas áreas do cérebro, especialmente aquelas relacionadas à atenção, memória, linguagem e tomada de decisão.

A fonoaudióloga e coordenadora da Clínica Binaural, Alessandra Pagliuso ressalta que a audição restaurada fortalece também os vínculos sociais, ajudando a evitar o isolamento e, consequentemente, quadros depressivos. “Quando utilizamos aparelhos auditivos, reduzimos o esforço cognitivo necessário para compreender as mensagens, diminuindo o cansaço mental e liberando o cérebro para outras funções”.

Adaptação e prevenção

O aposentado Aldo de Oliveira Ceron, de 74 anos, começou a notar a perda auditiva em pequenas situações do dia a dia, como a necessidade de aumentar o volume da TV ou não entender conversas. Com o tempo, a dificuldade aumentou até que ele decidiu buscar ajuda e começou a usar aparelhos auditivos há seis anos.

“Eu estava praticamente surdo. Minha perda auditiva já estava próxima de 100%. Era muito difícil me comunicar, e isso me deixava cada vez mais isolado”, conta.

O retorno da audição foi, para ele, uma transformação. “Foi como ganhar a vida de novo. Voltei a ouvir as pessoas, os sons da rua, até os passarinhos. Tudo voltou a ter sentido. Ouvir de novo, sem esforço, mudou minha vida. Voltei a participar das conversas, a aproveitar os pequenos momentos. Me sinto mais vivo, mais presente”, relata emocionado.

Ciente da relação entre a perda auditiva e o risco de demência, Aldo explica que essa foi justamente a preocupação que o levou a buscar ajuda quanto antes. Ele destaca a importância do apoio profissional durante todo o processo de adaptação. “Assim que percebi que estava escutando mal, busquei ajuda profissional. Quis me cuidar antes que os danos fossem maiores. Fui muito bem atendido por profissionais comprometidos, que me deram segurança durante todo o processo”.

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