Síndrome nefrótica
Inchaço acentuado e urina espumosa podem parecer sintomas comuns, mas merecem atenção: esses são alguns dos sinais da síndrome nefrótica, uma condição rara que afeta os rins. Recentemente, o cantor Júnior Lima e a esposa, a modelo Mônica Benini compartilharam nas redes sociais o diagnóstico da filha, Lara, de 3 anos, como forma de alertar outras famílias. Apesar de pouco conhecida, a síndrome tem um diagnóstico simples e acessível: basta um exame de urina.
No vídeo, o casal conta que, inicialmente, suspeitou de uma simples alergia, já que a menina apresentava inchaço ao redor dos olhos. No entanto, após consultas com diferentes especialistas e uma investigação mais aprofundada, veio o diagnóstico. “Passamos por um momento muito tenso, mas agora estamos mais aliviados e confiantes”, contou Júnior. Mônica aproveitou a ocasião para fazer um importante alerta a outras famílias: “A síndrome nefrótica é mais comum do que parece e, muitas vezes, é confundida com alergias comuns”.
Condição rara, que atinge 7 em cada 100 mil crianças, a síndrome nefrótica é caracterizada pela perda excessiva de proteínas pela urina, decorrente de um problema em uma área específica dos rins.
“Essa perda de proteínas leva a uma série de manifestações clínicas, sendo a principal delas o inchaço. Existem outras manifestações clínicas que podem estar associadas à perda de proteínas, como um risco aumentado de infecções e eventos tromboembólicos”, afirma o nefrologista pediátrico do Hospital da Criança e Maternidade (HCM) de Rio Preto, Fernando Aguiar Barros Uehara.
O nefrologista Fábio Auriema complementa que a síndrome nefrótica é um conjunto de sinais e sintomas que indicam um mau funcionamento nos glomérulos, as estruturas dos rins responsáveis por filtrar o sangue e reter proteínas essenciais para o organismo. Quando esses filtros são comprometidos, há perda significativa de proteínas pela urina, o que causa inchaços, principalmente no rosto, pernas e barriga das crianças, além de alterações nos níveis de colesterol.
“É muito importante que os pais fiquem atentos a esses inchaços repentinos, que às vezes passam despercebidos ou são confundidos com outras condições”, explica Fábio.
Embora a síndrome pode afetar adultos, a predisposição do surgimento é maior entre os 2 e 6 anos. O médico explica que os rins são responsáveis por filtrar o sangue, controlar o equilíbrio de líquidos e sais, regular a pressão arterial, entre outras funções. “Quando acometidos pela síndrome, perdem a capacidade de manter esse equilíbrio, resultando em retenção de líquidos, redução da urina e aumento do cansaço, que pode passar despercebido nas fases iniciais”, diz Fábio.
Ficar atento ao que o corpo manifesta pode fazer toda a diferença. De uma forma geral, o quadro começa com uma perda de proteínas pela urina. Após alguns dias, inicia-se o inchaço ao redor dos olhos. Em um primeiro momento, é comum haver confusão com um quadro de conjuntivite viral ou alérgica. “Inicialmente, essas crianças recebem tratamentos com antialérgicos. Em um segundo momento, a criança incha o corpo todo e acende o alerta. Por mais que seja uma doença rara, um edema periorbital que não melhora e que começa a progredir com inchaço nos membros inferiores e abdômen deve sempre levantar a suspeita de síndrome nefrótica. Um exame de urina simples e de sangue são capazes de fazer o diagnóstico”, afirma Fernando.
O tratamento da síndrome nefrótica, geralmente, se inicia com o uso de corticoides orais, e a forma como o organismo responde a esse primeiro passo define as próximas condutas médicas.
“Costumo comparar o tratamento a uma escadinha. Se a criança responde bem aos corticoides, muitas vezes não é necessário associar outros remédios. Caso contrário, entramos com diuréticos, imunossupressores e até estatinas para controlar o colesterol”, explica o nefrologista Fábio Auriema.
A boa notícia é que, com o tratamento correto e o controle dos sintomas, as crianças podem levar uma rotina bastante próxima do habitual. “Elas podem frequentar a escola, praticar esportes e tomar vacinas, desde que a doença esteja sob controle. Há exceções apenas em casos de recaída, quando pode ser necessário o afastamento temporário das atividades”, acrescenta o especialista.
Ainda assim, o quadro exige atenção contínua. A perda de proteínas importantes, como a albumina, essencial para o bom funcionamento do sistema imunológico —, aliada ao uso de imunossupressores, torna os pequenos pacientes mais suscetíveis a infecções.
“Febre é sempre um sinal de alerta em pacientes com síndrome nefrótica. Qualquer infecção deve ser investigada quanto antes”, reforça Fábio.
O nefrologista Fernando Aguiar Barros Uehara destaca que crianças entre 2 e 6 anos geralmente respondem melhor ao tratamento, embora outras faixas etárias também possam ter bons resultados. “Na maioria dos casos, o tratamento de primeira linha é com corticoides, mas às vezes há necessidade de outras medicações imunossupressoras. Após o diagnóstico, é importante fazer um acompanhamento de longo prazo com um profissional habilitado em nefrologia pediátrica”, orienta o médico.
Tem cura?
A síndrome nefrótica não tem uma resposta única quando o assunto é cura. Aproximadamente 70% a 75% dos casos são considerados crônicos, alternando períodos de melhora e recaída. Apenas 20% a 25% dos pacientes conseguem alcançar a cura definitiva.
“Mesmo nos quadros mais controlados, o acompanhamento com o nefrologista é essencial, já que a doença pode retornar de forma inesperada”, destaca Fábio.
Em casos mais graves, há risco de falência renal, o que pode levar à necessidade de diálise ou até mesmo de um transplante. Por isso, o diagnóstico precoce e o seguimento cuidadoso são fundamentais para garantir o bem-estar e a qualidade de vida da criança.