O que a dor de cabeça está tentando te dizer? Embora comum na rotina de milhões de brasileiros, a dor de cabeça pode se manifestar como um sintoma de tensão muscular, alteração hormonal ou um quadro gripal, como também pode ser um alerta importante de uma doença neurológica ou vascular. E como diferenciar? Quando a dor de cabeça se torna recorrente, diferente do habitual, com maior intensidade ou associada a outros sintomas como febre, rigidez na nuca, visão embaçada, fraqueza, dormência ou convulsões, é hora de procurar um especialista e investigar as causas.
A recomendação é da neurologista do Hospital de Base de Rio Preto Andressa Regina Galego. Segundo a médica, que também é membro da Sociedade Brasileira de Cefaleia (SBCE), do Comitê de Cefaleia na Infância e Adolescência e da International Headache Society (IHS), antes de falar em causas, temos que saber se a dor de cabeça é um sintoma ou uma doença. “Pacientes com sinusite, dengue ou Covid, por exemplo, tem dor de cabeça como parte dos sintomas, ou seja, a dor não é a doença e você vai conseguir eliminar”, explica.
De acordo com a neurologista, há mais de 150 tipos de cefaleias reconhecidas pela medicina, com uma predisposição da população aos tipos primários, como a enxaqueca e a cefaleia tensional. “E um dos maiores problemas é a automedicação. Paciente com dor de cabeça tensional vai à farmácia, onde tem uma oferta de vários medicamentos, o paciente vai se automedicando e tornando a dor crônica”, alerta.
Já as dores mais frequentes, incapacitantes, intensas, com náuseas, vômitos e sensibilidade à luz e som são as chamadas enxaquecas genéticas. “Temos mais de cem genes na fisiopatologia da enxaqueca e dentro da doença genética temos os gatilhos que despertam as dores”, explica Andressa. No caso das mulheres, segundo a médica, existem os gatilhos hormonais. “Muitas iniciam as dores na menarca, na primeira menstruação e o mesmo vai acontecer depois na menopausa”, afirma. Entre os 20 e 50 anos, os gatilhos, portanto, segundo a médica, é a rotina da vida produtiva. “Ascensão na profissão, constituição da família e tudo que corrobora”, complementa.
Fora das cefaleias e enxaquecas, a neurologista do HB alerta para os sinais de dores de doenças graves. “Quando a dor é recorrente, sem alívio e acompanhadas de excesso de medicação, por exemplo, é hora de buscar o especialista”, orienta. No caso de doenças, de acordo com Andressa, a dor pode ser um alerta de tumores, neoplasias, trombose venosa cerebral (forma rara de acidente vascular cerebral) e meningites, “quadros que se a dor de cabeça não for tratada o paciente pode ir a óbito”, alerta.
Casos graves de dores de cabeça, segundo a especialista, podem vir acompanhados de dores com um padrão diferente do habitual, convulsão, febre, rigidez na nuca, tontura, fraqueza de um lado do corpo, dificuldade para falar e, de acordo com Andressa, são sintomas que em gestantes, puérperas, imunossupressores ou pessoas com 50 anos, ou mais precisam ainda mais de cautela. “São parâmetros que a gente chama de red flags”, orienta. Há também dores de cabeça por conta de aneurismas. “Nestes casos, se há casos em parentes de 1º grau, é muito importante fazer o acompanhamento, principalmente quando há fatores de riscos como pressão arterial não controlada, tabagismo e idade”, orienta.
Diagnóstico
O diagnóstico para saber o que a dor de cabeça está dizendo vai depender da história do paciente, do quadro clínico como a localização da dor, a intensidade, duração e de exames de imagem, como tomografia ou ressonância. “Em alguns casos, o médico pode solicitar angiotomografia ou angioressonância para descartar aneurisma ou dissecção arterial”, explica a médica de Atenção Integral à Saúde (AIS) da Unimed Rio Preto Luane Rodrigues de Paula Ferreira.
Segundo a médica, exames laboratoriais, como hemograma, PCR, função renal, glicemia, função hepática e VHS (Velocidade de Hemossedimentação), também podem ser pedidos. “Podem indicar se existe algum processo inflamatório ou infeccioso acontecendo no organismo”, explica. Outros exames, como o oftalmológico, também pode ser solicitado. “Quando há sinais como febre, rigidez de nuca ou alteração de consciência, pode ser indicada a punção lombar”, complementa Luane.
Já o tratamento, segundo Luane, começa com o descarte, por meio de exames, de condições graves. “Após essa etapa, o médico individualiza o tratamento para cada paciente, reduzindo riscos e melhorando a qualidade de vida”, enumera. Luane explica também que de forma geral, algumas medidas são úteis para a maioria dos casos, “manter a higiene do sono, garantir boa hidratação, principalmente com o tempo seco, controlar a pressão arterial e a glicemia, praticar atividade física regular adaptada à idade e evitar a automedicação”, completa.
A neurologista do HB, Andressa Regina Galego, complementa que atualmente há métodos modernos para tratamentos de enxaquecas crônicas, como o protocolo PREEMPT que usa toxina botulínica tipo A em 31 pontos ao redor da cabeça, do pescoço e do dorso. “Usamos o protocolo PREEMPT a cada três meses”, explica a neurologista. “Temos também as 'vacinas' para enxaquecas mensais com anticorpos monoclonais (mAbs) que são proteínas produzidas em laboratório que imitam o sistema imunológico para atacar especificamente células cancerígenas, vírus e outros invasores que atuam no CGRP. Essas 'vacinas' vão bloquear então o CGRP, substância altamente encontrada nos quadros de enxaqueca”, explica.
