A dor nas costas é um problema que atinge milhões de pessoas em todo o mundo, de diferentes idades e gêneros, sendo considerada a segunda causa mais comum de consultas médicas, atrás apenas do resfriado. Estima-se que entre 65% e 80% da população desenvolverá algum episódio de dor na coluna ao longo da vida. No entanto, quando a dor é persistente e contínua, pode indicar uma doença reumática, como a espondilite anquilosante.
Trata-se de uma enfermidade inflamatória que, além da coluna, pode afetar outros órgãos. Apesar de ainda ser pouco conhecida, a espondilite costuma se manifestar cedo, a partir da adolescência, e é mais frequente em homens, contrariando a ideia de que se trata de um problema exclusivo do envelhecimento.
O Dia Mundial da Espondilite Anquilosante é celebrado no dia 7 de maio. No entanto, a Sociedade Brasileira de Reumatologia alerta durante o ano todo que a dor nas costas persistente pode ser sinal da doença reumática crônica. “Esta é uma doença reumática altamente incapacitante, mas que tem controle e tratamento”, afirma o reumatologista José Roberto Provenza.
A espondilite anquilosante, atualmente chamada de espondiloartrite axial, é uma doença reumatológica autoimune que causa inflamação principalmente da coluna vertebral, mas podendo também inflamar outras articulações (como pés, joelhos, mãos), tendões, olhos, pele e até o intestino.
A reumatologista Angélica de Carvalho afirma que ainda não tem uma causa totalmente esclarecida ao desenvolvimento da espondilite. “O que sabemos é que a pessoa nasce com um risco aumentado (uma predisposição) de ter a doença e que após algum gatilho como estresse, traumas, infecções virais (dengue, Covid, etc), o nosso sistema imunológico se descontrola e começa a produzir a inflamação no nosso corpo. Na maioria dos casos esse gatilho não pode ser identificado.”
Outros fatores de risco, segundo a reumatologista, são pessoas com familiares portadores de doenças autoimunes; pacientes com exame HLA-B27 presente; portadores de Psoríase, doenças inflamatórias intestinais (doença de Crohn e Retocolite Ulcerativa), sexo masculino (apesar que o diagnóstico em mulheres tem aumentado bastante) e jovens com menos 40 anos.
Diagnóstico
Angélica afirma que o diagnóstico das doenças reumatológicas autoimunes é feito como se fosse montar um quebra-cabeça. “Temos que investigar sintomas e sinais clínicos (se o paciente tem uma dor lombar pior no repouso, dores em outras articulações, se tem inflamação nos olhos, intestino, pele), analisar alterações nos exames de sangue (aumento de PCR, VHS, presença de HLA-B27) e radiológicos (alterações nos raio-X e/ou ressonância. Não existem exames totalmente específicos, já que podem também ocorrer em outras doenças ou até em pessoas normais. O que pode mais chamar a atenção são algumas alterações no raio-X (coluna em bambu, alterações no raio-X da bacia, inflamações das articulações da bacia (sacroiliite) e presença de HLA-B27”, afirma Angélica de Carvalho.
Tratamento
O tratamento da espondiloartrite axial precisa ser individualizado, levando em conta não apenas os sintomas da doença, mas também o perfil de cada paciente, incluindo a presença de outras enfermidades associadas e fatores psicossociais. O objetivo principal é reduzir dor, rigidez e fadiga, além de preservar a mobilidade e a flexibilidade da coluna, prevenindo danos estruturais que possam comprometer a qualidade de vida.
A reumatologista Angélica de Carvalho explica que, atualmente, o tratamento é feito de acordo com a gravidade e a resposta do paciente. “Podem ser utilizados antiinflamatórios sob supervisão médica, medicamentos que controlem o sistema imunológico, como a sulfassalazina e metotrexate, e tratamento mais direcionado com o uso dos imunobiológicos. Sempre é importante aliar atividade física e atendimento multidisciplinar (psicoterapia, fisioterapia).”
O médico Henrique Noronha, especialista em cirurgia da coluna e intervenção da dor, afirma que a espondilite anquilosante não tem cura. No entanto, o objetivo do tratamento da doença é retardar a progressão, aliviar a dor, a rigidez da coluna e prevenir ou atrasar o desenvolvimento de complicações e deformidade espinhal.
