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Introspecção

PoesiaLITERATURAIntrospecção

Protagonista de um mundo urbanizado e imprevisível

debruço sobre minha introspecção em dias de incertezas

e do medo de ter que deixar de sonhar e de acreditar que o bem existe.

Duvidar dos olhos que me veem, mãos que me tocam e lábios que me riem.

Medo de acordar e não encontrar à minha espera a manhã idealizada

transformada em alguma coisa infértil e desamorada.

 

Vejo que os abraços se escasseiam, na solidão crescente de nossa

existência - desafetos camuflados em pequenas desculpas.

Quase não temos tempo para abraçar os pais e mais demoradamente

os filhos, como se os resgatássemos em nossos seios.

 

Quando só, os abraços que em mim se acumulam

dou-os em minha “poodle toy”, chamada “Mag”,

que me abana a pequena cauda num chamego frequente,

sempre colada em mim feito uma sombra e me buscando

a todo instante com seus olhos espertos, como se fosse gente.

 

A cada dia menos crianças subindo em árvores,

pulando amarelinhas, jogando peladas.

Cada vez mais cercas nos muros e casas fechadas.

Ao invés dos galos, nas manhãs, buzinas e freadas.

Cada vez menos contos sobre fadas e violinistas verdes

que acordam, com suas músicas, as árvores encantadas.

 

Não vemos mais estrelas e nem luas românticas e solitárias

ofuscadas pelos holofotes das cidades que se agigantam,

atrapalhando a passagem dos mensageiros dos ventos.

Quase não há mais abelhas, nem favos de mel, nem borboletas

adejando sobre os poucos jardins que ainda existem.

Ainda bem que árvores frondosas e persistentes sombreiam,

enfileiradas, partes das ruas acinzentadas e quentes!

E nelas se urbanizam as pombas, andorinhas e pardais

e pássaros sazonais - porque lhes tiraram as matas.

 

Nos tempos atuais, em que a cada dia mais nos etiquetamos

e vemos com naturalidade se instalar a corrupção e a indiferença.

Num tempo onde os lobos se tornaram mais célebres que os cordeiros

e que a cada dia ouvimos menos a palavra honra.
Tenho medo de que esqueçamos quem somos, perdendo-nos pelos caminhos sinuosos - desse novo esquema pegajoso e corrosivo da desonra.

 

 

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