“Pequenas coisas como estas” é o primeiro livro da aclamada escritora irlandesa Claire Keegan (1968 -) a ser publicado no Brasil. Vencedor do Book Reader de 2022, esse pequeno romance traz, além de uma bela história, um referencial histórico relevante que merece ser conhecido.
A narrativa, que se passa em 1985, tem como foco Bill Furlong, um irlandês nascido na década de 1940. Sua mãe, quando engravidou, tinha 16 anos, era pobre e solteira. Todos lhe viraram as costas. Ela e o filho, porém, foram acolhidos pela viúva Wilson, que cuidou de Bill, mesmo depois que ficou órfão aos 12 anos. Ela o ajudou, o educou e o encaminhou na vida.
Perto dos 40 anos, momento em que se passa a ação de “Pequenas coisas como estas”, Bill está casado e é pai de cinco filhas. Vendedor de carvão, ele faz entregas em toda a região de New Ross. Isso inclui um convento um tanto misterioso que ocupa o topo da colina.
Lá funciona uma lavanderia muito conhecida pelo trabalho impecável e pela reclusão em que vivem as jovens trabalhadoras. E é aí que entra o índice histórico no romance. Essa seria uma das muitas lavanderias de Madalena da Irlanda.
Fundadas no início no século XVIII, essas instituições eram administradas e financiadas pela Igreja Católica em conjunto com o Estado Irlandês e tinham como propósito abrigar as fallen women, jovens que haviam supostamente se desvirtuado dos caminhos de Deus.
O romance traz um apêndice que esclarece que cerca de 30.000 mulheres e meninas foram escondidas, encarceradas e forçadas a trabalhar nessas instituições até o ano de 1996, quando a última foi fechada. Os registros dessas lavanderias foram, em sua maioria, destruídos ou perdidos.
A autora afirma que, em 2021, “o relatório da Mother and Baby Home Comission constatou que 9.000 crianças morreram em apenas dezoito das instituições investigadas”. Muitas internas perderam seus bebês, perderam a vida e as vidas que poderiam ter usufruído não estivessem encarceradas nesses asilos e submetidas a condições desumanas de trabalho.
No Natal de 1985, Bill Furlong, que sabia da existência da lavanderia, mas não das reais condições em que o asilo funcionava, vai fazer uma entrega de carvão na instituição. Lá, ele flagra uma cena deplorável. E uma adolescente lhe pede ajuda.
Furlog educadamente compreende que o que se passa lá não é de sua conta e não dá atenção à garota, porém começa a ficar perturbado com o que testemunhou. Afinal, sua mãe, não fosse a viúva Wilson, teria possivelmente ido para lá.
A história de “Pequenas coisas como estas” é singela, despretensiosa e tocante. Uma espécie de conto de Natal em que se reflete sobre o bem, o amor e as responsabilidades de cada um. Sua história foi adaptada para o cinema e está disponível no Prime Vídeo com título homônimo!
