O GUAPURUVU DO BAIRRO IMPERIAL
Sob protestos, uma das árvores mais emblemáticas de São José do Rio Preto, um Guapuruvu, com pelo menos 85 anos e mais de 20 metros de altura, tombado como patrimônio histórico municipal em 2014, foi cortada no dia 28 de fevereiro de 2019. A árvore estava localizada no bairro Imperial, em um terreno da rua Coronel Spínola de Castro, adquirido cinco anos antes por uma construtora que planejava arrancá-la para erguer prédios residenciais.
O arquiteto e urbanista Kedson Barbero, presidente do Conselho Municipal de Turismo (Comtur) e vice-presidente do Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Cultural e Turístico (Comdephact), relembra que o local abrigava, até então, um casarão dos anos 1940 que, com o Guapuruvu, era um marco arquitetônico e ambiental da cidade.
Após a aquisição do terreno pela construtora e a subsequente demolição do casarão, a comunidade reagiu em defesa da preservação da árvore, unindo esforços para garantir seu tombamento. “Devido à mobilização, foram realizados os estudos necessários para o pedido de tombamento pelo Comdephact, presidido na época pela arquiteta Denise Farina. Assim, por meio do Decreto Municipal n.º 17.192, de 7 de novembro de 2014, o Guapuruvu foi reconhecido como mais um patrimônio histórico do município”, explica Barbero.
Apesar do reconhecimento histórico, em 2018, uma vistoria visual da equipe de engenharia da Secretaria Municipal do Meio Ambiente revelou que a árvore apresentava riscos estruturais. Fungos, brocas, cupins e áreas necrosadas indicavam sua fragilidade. Diante disso, foi recomendado à Associação Redentora Residence, responsável pela área, que contratasse uma análise mais detalhada sobre a saúde do Guapuruvu.
A avaliação foi conduzida por uma empresa especializada em consultoria ambiental e analisada pela professora de biologia vegetal Valéria Stranghetti. O laudo, que constatou que a árvore estava em um estágio avançado de degradação, com danos irreversíveis, passou ainda pelo crivo de diversas entidades, incluindo o Comdephact, o Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente (Comdema), a Secretaria Municipal de Cultura, Meio Ambiente e Urbanismo, a Defesa Civil e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
Dias antes de ser cortada, devido ao risco de queda, especialmente em condições de chuva forte e ventos intensos, a Defesa Civil havia interditado a área ao redor da árvore para garantir a segurança de pedestres e moradores da região. Após o trabalho de remoção, especialistas confirmaram a presença de podridão nas raízes, no tronco e nos galhos principais, além de uma infestação por cupins, sem indícios de envenenamento.
Apesar da necessidade de remoção da árvore, Barbero ressalta que a supressão de um patrimônio histórico demanda medidas de salvaguarda para preservar sua memória e importância cultural. Por essa razão, o Comdephact orientou que a área anteriormente ocupada pelo Guapuruvu fosse transformada em um memorial. A iniciativa contou com o apoio do grupo 'Arquitetas Empreendedoras', que doou o projeto do memorial, previsto para ser entregue junto às obras da nova edificação, ainda sem data definida para ser inaugurado.
Segundo Barbero, no local haverá uma escultura central, que será uma reprodução artística da árvore que foi derrubada. “O Guapuruvu sempre foi um marco importante de Rio Preto, por isso se tornou um patrimônio histórico e cultural. Este espaço, além de eternizar a importância dessa árvore para as próximas gerações, também será um equipamento urbano de cultura e lazer”, destaca.
“Tivemos a ideia de preservar a lembrança da nossa Guapuruvu, reservando um memorial no exato local onde a árvore teve o seu ciclo de vida. Esse projeto foi aprovado pela Prefeitura de São José do Rio Preto juntamente com o Comdephact, portanto, toda a obra da praça em questão deverá ser executada pelo condomínio (prédio) e o monumento pelo Comdephact”, explica a arquiteta Juliana Costa, integrante do grupo Arquitetas Empreendedoras.