CASCATINHA E INHANA: UM VERDADEIRO TESOURO DA MÚSICA SERTANEJA
A dupla sertaneja Cascatinha e Inhana, formada pelo casal Francisco dos Santos e Ana Eufrosina da Silva Santos - conhecidos como “os sabiás do sertão” -, marcou a história do cenário musical brasileiro. Com letras e interpretações românticas e emocionantes, seu repertório encantou o público ao unir a tradição da música caipira à guarânia paraguaia. Clássicos como “Índia”, “Colcha de Retalhos” e “Meu Primeiro Amor” conquistaram gerações, perpetuando um legado que atravessa décadas e mantém viva a nostalgia por esse grande fenômeno até hoje.
A história da dupla é cuidadosamente preservada na Sala Cascatinha e Inhana, localizada no complexo de museus do Centro Cultural Prof. Daud Jorge Simão, no prédio onde também funciona a Biblioteca Municipal e outros espaços culturais importantes. Inaugurada em 19 de março de 2005, o acervo inclui objetos pessoais, discos, troféus, medalhas, fotografias, documentos e reportagens.
“São José do Rio Preto é a única cidade do País onde este acervo pode ser visto; nem mesmo em Araras, onde nasceu Inhana, ou em Araraquara, terra natal de Cascatinha, há materiais disponíveis para apreciação ou pesquisa”, destaca o Coordenador de Museus, Carlos Bachi.
“Somos privilegiados em ter em nossa cidade um acervo expressivo, que marcou uma época não muito distante. Tanto pessoas ligadas ao meio artístico quanto o público se encantam com a vida e a obra dessa dupla referência, cuja história de sucesso continua a ressoar no cenário da música sertaneja. Suas vozes são capazes de alcançar altíssimos timbres e possuem uma afinação impressionante”, completa Bachi.
O coordenador artístico da FM Diário, Renato de Paula, ressalta que apesar das facilidades proporcionadas pelo ambiente digital, é fundamental preservar espaços físicos que permitem uma conexão mais profunda e pessoal com a cultura e a história. Segundo ele, acervos como o da Sala Cascatinha e Inhana não apenas mantêm viva a memória dos artistas, mas também oferecem ao público a oportunidade de apreciar seu legado de forma direta e tangível.
“As músicas de Cascatinha e Inhana são frequentemente solicitadas pelos ouvintes da FM Diário nos horários dedicados à programação de músicas raízes. Sempre recebemos pedidos para tocar clássicos como 'Índia', 'Flor do Cafezal', 'Colcha de Retalhos' e 'Meu Primeiro Amor', os quais são canções que despertam uma forte memória afetiva”, afirma.
Segundo Renato, além do acervo exposto, o rádio continua sendo uma ferramenta que atua na preservação e divulgação do legado de Cascatinha e Inhana. “Diferente das plataformas de streaming musicais, o rádio é conduzido por humanos e não por listas baseadas em algoritmos, sendo um canal importante na preservação, pois a história e a cultura são passadas de profissional para profissional, de geração para geração, mantendo viva a obra de grandes compositores e cantores que já se foram. Cascatinha e Inhana sempre estarão vivos na Diário, sendo transmitidos através da frequência modulada (FM) e streaming (áudio via internet)”, finaliza.
O radialista, historiador amador e produtor audiovisual, Arthur Condé, recentemente produziu um documentário sobre a dupla, contemplado pelo prêmio Nelson Seixas 2023. Intitulado “Vida e Obra de Cascatinha e Inhana: Patrimônio Histórico da Música Sertaneja”, a obra, publicada em outubro do ano passado, tem quase meio milhão de visualizações no YouTube.
Segundo Condé, visitas à Sala Cascatinha e Inhana, no complexo de museus do Centro Cultural Prof. Daud Jorge Simão, foram fundamentais para a pesquisa e a construção narrativa do documentário. Ele ressalta que um visitante pode se surpreender com os cartazes que descrevem a trajetória da dupla, repletos de detalhes muitas vezes desconhecidos.
“O acervo inclui objetos pessoais, como brincos, pulseiras e um colar de pérolas que Inhana costumava usar, além de um par de violas caipiras, troféus, medalhas, discos, recortes de jornais da época, fotos diversas, entre outros itens, que ajudam a manter viva a memória da primeira dupla sertaneja a vender três milhões de cópias em um período curto relativamente de sua carreira. Eu não me canso de visitar a Sala Cascatinha e Inhana e, sempre que posso, dou uma passada para conferir o acervo e descobrir um novo detalhe sobre a dupla”, diz.
Francisco dos Santos – o “Cascatinha” – e Ana Eufrosina da Silva – a “Inhana” – nasceram no interior de São Paulo. Ele, em Araraquara, no dia 20 de abril de 1919, e ela, em Araras, no dia 28 de março de 1923. Por volta de 1937, Cascatinha trabalhava como músico no Circo Nova Iorque, onde atuava como baterista e cantor, formando uma dupla com Natalício Fermino dos Santos, conhecido como “Chopp”.
Em 1941, durante as viagens com o circo, Cascatinha conheceu Ana em Araras. Ela, que já se destacava como cantora realizando apresentações na cidade, uniu-se à dupla, formando o Trio Esmeralda. Meses depois, no mesmo ano, casaram-se.
O Trio Esmeralda viajou para o Rio de Janeiro, obtendo relativo sucesso e recebendo prêmios em programas como os de César Ladeira na Rádio Mayrink Veiga, Manuel Barcelos e Papel Carbono, este último de Renato Murce, ambos na Rádio Nacional.
No ano seguinte, após um desentendimento, o trio se desfez e, com a saída de Chopp, surgiu a dupla Cascatinha e Inhana, nome artístico adotado por Ana, uma variação de Sinhá Ana.
A partir de então, a dupla realizou diversas apresentações pelo Rio de Janeiro e em São Paulo, passando por circos renomados como o Estrela D’Alva e o Imperial. Em 1947, assinaram contrato com a Rádio Clube de Bauru, e no ano seguinte, ingressaram na Rádio América, o que os levou a se mudar para São Paulo. Em 1950, foram contratados pela Rádio Record, onde permaneceram por doze anos, consolidando seu sucesso no cenário artístico.
A dupla iniciou a gravação de músicas que se tornariam eternas, como "La Paloma" em 1951 e, no ano seguinte, “Meu Primeiro Amor” e “Índia”, que venderiam milhões de cópias ao longo dos anos. Cascatinha e Inhana percorreram o Brasil se apresentando em circos, teatros e rádios, lançaram mais de 30 discos e receberam diversos prêmios, incluindo dois troféus Roquette Pinto, o maior do rádio.
A parceria chegou ao fim com o falecimento de Inhana em 11 de junho de 1981, aos 58 anos, vítima de um infarto. Sua morte frustrou os planos de comemoração dos 40 anos da dupla, que incluíam um show no Maracanãzinho, no Rio de Janeiro, intitulado A Grande Noite da Viola, programado para o dia 20 de junho e que reuniria grandes nomes da música caipira, como Tonico e Tinoco e Milionário e José Rico. Cascatinha chegou a participar do evento, cantando a música "Índia" para homenagear Inhana.
Após a perda, ele lançou um álbum solo intitulado Canto com Saudade, em 1982. Anos depois, já na década de 1990 e morando em São José do Rio Preto, Cascatinha casou-se novamente, desta vez com Helena Lopes da Silva. Em seus momentos finais, ele solicitou à sua companheira que doasse todos os objetos da dupla à Prefeitura Municipal para a cidade. Ele morreu em 14 de março de 1996, prestes a completar 77 anos, em decorrência de uma cirrose hepática.
O acervo da dupla foi inicialmente exposto na Casa de Cultura Dinorath do Valle, até inaugurar a Sala Cascatinha e Inhana, no complexo de museus do Centro Cultural Prof. Daud Jorge Simão.
O casal teve um filho adotivo, Marcelo José do Santos, que faleceu em 2021, durante a pandemia, vítima de Covid-19.
Serviço:
Sala Cascatinha e Inhana está localizada no complexo de museus do Centro Cultural Prof. Daud Jorge Simão, no prédio onde também funciona a Biblioteca Municipal, situado na avenida Philadelpho Gouveia Neto, nº 1, no 2º andar, e funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h.
Para visitas individuais que não necessitam de mediação, não é necessário agendar.
Para visitas mediadas e em grupo (escolas, projetos turísticos, entre outros), é necessário agendamento prévio, pelo e-mail museumunicipal@riopreto.sp.gov.br ou pelo telefone 17 3202-2313.