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‘Minha maior ferramenta é a minha intuição’

Entrevista‘Minha maior ferramenta é a minha intuição’
A empresária Mara Cristovam conta como estabelece um relacionamento de confiança com os clientes, aborda as tendências no mercado joalheiro e o impacto da tecnologia na produção e venda de joias

Mara Cristovam, mestre em psicologia com 12 anos de experiência na área, fez a transição para o universo empresarial, no qual descobriu sua verdadeira paixão: a joalheria. Sua trajetória é marcada por vivências memoráveis, incluindo a participação no último desfile de Galliano em Paris e convites VIP para eventos da Dior e Dolce & Gabbana no Brasil. Em 2014, ficou impressionada com a história e a essência da Cartier no Salão de Alta Relojoaria em Genebra e, anos depois, explorou as origens da Bvlgari em um subsolo em Basel na Suiça.

Reconhecida por sua contribuição social, foi homenageada pelo Governo do Estado pela captação de recursos destinados a entidades carentes. Sua joalheria, a Cristovam Joalheria, promoveu eventos beneficentes em sua loja da Redentora, com a totalidade das receitas revertidas para instituições de caridade, consolidando laços com personalidades que se tornaram amigos. Após 20 anos no tradicional bairro rio-pretense, em 2022, mudou as instalações da marca para o Iguatemi Business com o objetivo de tornar o atendimento ainda mais exclusivo.

Indagada se ainda tem objetivos que gostaria de conquistar, ela demonstra todo o seu entusiamo. “Vários! Profissionalmente já realizei muitos, mas queremos sempre mais, e por isso não paro, estou sempre em busca de inovar, pesquiso muito sobre o mundo da alta joalheria para trazer o que tem de melhor para a Cristovam”, acrescentando seus desejos no campo pessoal. “E tenho um sonho, passar mais tempo em um dos lugares que mais me encantam, a Itália. Mostrar cada lugar lindo que tem lá para as minhas netas, curtir minha família por mais tempo. Quero voltar a estudar música, e me aperfeiçoar mais no acordeom, que eu adoro! E um sonho muito especial e inusitado, que quase ninguém sabe, é construir um abrigo para animais abandonados. Tenho uma forte ligação com os meus cachorros, já sofri algumas perdas, então quero muito poder fazer algo nesse sentido”.

A empresária tem uma vida agitada, além dos compromissos profissionais e familiares, pratica atividade física diariamente. “Para mim é como um momento de lazer, me sinto muito bem. Adoro ler temas relacionado a psicologia. E claro, adoro viajar pelo mundo, vivenciar novas culturas e apreciar a beleza de cada lugar”.

Mara nasceu em Rinópolis (SP), é casada com Valdir Willians Cristovam, com quem teve dois filhos, Guilherme e Felipe e é avó de quatro meninas: Catarina, Olívia, Júlia e Laura.

Confira a entrevista:

BE – Como são selecionadas as peças que oferece aos clientes?

Mara Cristovam – A minha maior ferramenta é a minha intuição. Após muitos anos de trabalho nesse segmento, foi ficando cada vez mais claro o que eu busco para agradar minhas clientes, mas a minha intuição sempre foi um ponto chave.

Muitas vezes quando vejo uma joia, já sei quem vai se identificar com aquela peça, afinal o essencial é sempre conhecer o que a cliente gosta.

Estudo muito a cultura da joalheria, busco me aprofundar sempre nos conceitos, já sei que eles se repetem, se refazem e se ressignificam – mas o clássico é atemporal – e isso conta muito na escolha.

BE – Quais tendências a senhora observa atualmente no setor de joalheria e como a Cristovam as incorpora?

Mara Cristovam – Isso depende muito. Atualmente, no setor de joalheria, focamos em criar uma experiência de compra envolvente, mas novamente voltamos na personalização do atendimento. Hoje em dia as joias também traduzem um estado de espírito e bem-estar, as joias contam histórias, e essas histórias são a vida de cada cliente. Não se trata apenas do que está na moda, mas o que faz sentido para cada cliente.

Incorporar tendências não só atende ao desejo dos clientes por peças que realmente ressoem com suas identidades únicas, mas também ajuda a criar uma conexão emocional mais profunda entre a joia e seu usuário.

BE – Que tipo de atendimento você considera essencial para conquistar e fidelizar seus clientes?

Mara Cristovam – O atendimento personalizado sempre é essencial. Conhecer o que minhas clientes gostam, selecionando peças que tem a ver com a personalidade de cada uma delas é um prazer para mim.

O universo da joalheria é infinito, mas entender o que a cliente gosta é vital para satisfação não só delas, mas a minha também.

BE – Como a senhora estabelece um relacionamento de confiança com seus clientes?

Mara Cristovam – Estabelecer um relacionamento de confiança é essencial. Sempre procuro conhecer bem agradando meus clientes. Tento criar um ambiente acolhedor e de respeito, onde eles se sintam à vontade para compartilhar o que realmente desejam. Além disso, acredito na importância da transparência e da honestidade. Sempre forneço todas as informações necessárias sobre as peças. Também faço questão de seguir rigorosamente os prazos acordados e estar sempre disponível para qualquer dúvida que possa surgir.

Por fim, acredito que o atendimento de pós-venda de qualidade é o que gera essa conexão que tenho com as clientes, para manter essa confiança. Gosto de acompanhar a satisfação dos clientes com suas compras e oferecer suporte contínuo, pois muitas vezes uma cliente quer algo que vai combinar com uma joia que ela já tem, ou o inverso, às vezes, ela faz uma compra pensando em algo que quer no futuro, e aí não meço esforços para conseguir atender ao que essa cliente quer.

BE – Como sua joalheria aborda práticas sustentáveis em sua produção e comercialização?
Mara Cristovam –
Estabelecemos parcerias com fornecedores que seguem rigorosas normas éticas e ambientais. Garantimos que todos os nossos materiais sejam adquiridos de fontes responsáveis, respeitando tanto as leis ambientais quanto os direitos dos trabalhadores. Na produção, investimos em tecnologias que minimizam o desperdício e utilizamos processos de manufatura que reduzem o consumo de energia e água. Constantemente buscamos inovações que possam tornar nossos processos ainda mais eficientes e sustentáveis.

BE – Quais são os desafios mais significativos enfrentados ao longo desses 23 anos da marca Cristovam?

Mara Cristovam – No começo foi quebrar paradigmas. Enfrentamos um mercado conhecido por sua intensa concorrência e altos riscos. Investimos nossa paixão e criatividade para nos destacarmos nesse ambiente desafiador, e essa determinação moldou nossa identidade e nosso sucesso desde o primeiro dia. Mas não foi fácil, aliás, não é fácil.

Sabemos que, para nos destacar, precisamos ir além do comum, proporcionando aos nossos clientes uma experiência memorável que reflita suas individualidades.

E um grande desafio, que vivenciei, foi o assalto na loja da Redentora, em 2022. A perda financeira foi muito relevante, mas o que perdi emocionalmente é imensurável, eu tinha um acervo pessoal repleto de memórias, que me foram arrancados. Foram dias refletindo, muitos questionamentos, mas Deus me mostrou outras vertentes, e desta forma segui e deixei o que aconteceu somente no passado mesmo. Sinto uma imensa gratidão pelo apoio da minha família, dos meus amigos e clientes, a quem devo também o meu recomeço após esse momento.

Enfrentar os desafios do mercado e da economia em que vivemos nos tornou mais resilientes. E olhar para um futuro, que a nossa missão é continuar a redefinir a joalheria, que é um mercado dinâmico e muito exigente.

BE – Como você avalia o impacto da tecnologia na produção e venda de joias?

Mara Cristovam – A contínua evolução tecnológica promete ainda mais inovações, que continuarão a moldar a indústria joalheira. Essas mudanças não apenas melhoram a eficiência e qualidade da produção, mas também enriquecem a experiência do cliente.

Há pouco tempo, falei nas minhas redes sociais, sobre uma das inovações desse mercado, que são os diamantes de laboratório, eles ainda não estão disponíveis no mercado, mas já há algo de concreto. Os diamantes “nascem” a quilômetros de profundidade do manto terrestre, sob pressão e temperatura nunca conseguidas reproduzir, mas agora, ao que parece, conseguiram, desta forma um pequeno fragmente de diamante sob essas condições em laboratório expandem o tamanho, o que nos favorecerá no futuro, facilitando o dinamismo da indústria. Às vezes as pessoas acham que é “fácil” encontrar uma gema como essa em um determinado quilate, mas não é!

BE – Como lida com a concorrência no mercado de joias?

Mara Cristovam – Em um mercado tão diversificado e único como o da joalheria, afirmar que “apenas” há concorrência é muito simples, mas eu vejo com outra perspectiva, a diversidade também pode ser vista como uma oportunidade não só para a Cristovam, mas para todos.

Em vez de reafirmar a existência de concorrência, acredito que reconhecer a riqueza desse mercado e destacar que há espaço para todos seja fundamental. A chave de marcas de sucesso é enfatizar o valor único que você oferece, seja através dos produtos, seja pela experiência excepcional que você oferece para seu cliente.

A concorrência existe, claro, mas lidar com ela não pode ser um problema.

BE – Que conselho daria a novos empreendedores que desejam ingressar no setor de joalheria?

Mara Cristovam – Antes de tudo, siga o seu modelo, o que deve ser a sua referência, e não os outros.

Estude o mercado, entenda a cultura da joalheria para entender as tendências atuais mas também identificar os “modismos passageiros”, valorize as preferências dos seus clientes e não fique preso a concorrência.

Proporcione uma experiência incrível aos seus clientes, desde o atendimento personalizado até o pós-venda. Conheça aquela pessoa a fundo, não apenas “troque o dinheiro por uma joia”.

Construa relacionamentos com essas pessoas, e não apenas adquira “clientes”, mas quem sabe amigos.

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