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Borderline: quando o emocional vive em turbilhão

COLUNA | SAÚDE MENTALBoderlineBorderline: quando o emocional vive em turbilhão
Instabilidade emocional, medo intenso de abandono e relações marcadas por extremos: o que está por trás do transtorno de personalidade borderline

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“Sinto como se estivesse em um constante turbilhão emocional”. Essa é uma das formas como pessoas com o transtorno de personalidade borderline (TPB) descrevem seu dia a dia. Oscilações de humor intensas, medo de abandono e um desejo profundo por conexões afetivas formam o pano de fundo emocional dessa condição mental que afeta cerca de 1 a 2% da população.

Embora frequentemente mal compreendido, o TPB tem grande impacto na qualidade de vida e nos relacionamentos pessoais. Quem convive com o transtorno costuma viver entre extremos emocionais - do apego intenso à raiva repentina - o que pode dificultar vínculos afetivos estáveis.

“O TPB corresponde a um padrão comportamental de relacionamentos instáveis e dificuldade em manter relações saudáveis e estáveis, impulsividade, desorganização da autoimagem ou senso de si e mudanças repentinas no estado de humor”, complementa a psicóloga cognitivo comportamental Alana Lin.

A complexidade do transtorno também pode ser compreendida sob a ótica psicanalítica. A psicóloga Ana Flávia Ferreira Zaura aponta que, nessa abordagem, o TPB é também conhecido como transtorno limítrofe ou fronteiriço. “É compreendido como um quadro clínico que se situa entre neurose e a psicose. O indivíduo que possui o TPB apresenta dificuldades em lidar com a divisão entre o eu e o outro, com as suas emoções e com a realidade”, afirma.

Quem sofre de TPB pode apresentar uma ampla gama de sintomas, que nem sempre são percebidos de imediato. Entre os mais comuns estão instabilidade de humor, sentimentos extremos, sensação de vazio, medo intenso de abandono, raiva desproporcional, comportamentos agressivos (verbais ou físicos), pensamentos paranoicos e em alguns casos, desrealização e/ou despersonalização.

Além do impacto emocional, o transtorno pode desencadear efeitos secundários no corpo e na rotina. “Como efeito secundário pode ocorrer insônia, dores crônicas, problemas digestivos, abuso de substâncias psicoativas, dificuldade para realizar tarefas diárias e isolamento social”, destaca Alana.

Atenção especializada

O diagnóstico do transtorno de personalidade borderline deve ser feito por profissionais da saúde mental, como psicólogos e psiquiatras. “É necessária uma avaliação completa, incluindo entrevista detalhada, análise dos sintomas e observação do comportamento do paciente a longo prazo. A avaliação deve ser realizada minuciosamente, pois qualquer desatenção pode levar a um falso diagnóstico ou levar o profissional a confundir com outros transtornos devido a sintomas similares”, ressalta Ana Flávia.

Caminhos para o tratamento

O tratamento ideal é interdisciplinar, com atuação conjunta entre psiquiatra e psicólogo “É importante a análise do histórico do paciente, diferenciação de outros transtornos através de avaliações, entrevistas. O tratamento consiste na combinação terapêutica de medicamentos e psicoterapia”, orienta Alana.

A escolha da linha terapêutica deve considerar as particularidades de cada caso. “Vale ressaltar que o profissional é que vai definir a linha de tratamento de acordo com a necessidade desse paciente. A psicoterapia, especialmente a psicanálise, é o tratamento de escolha para o TPB, com o objetivo de ajudar o paciente a desenvolver mecanismos de defesa mais saudáveis e a regular suas emoções”, completa Ana Flávia.

Terapia Dialética-Comportamental (DBT): o padrão ouro no tratamento

Cada abordagem psicológica possui sua própria forma de tratar o transtorno de personalidade borderline (TPB), mas quando o assunto é eficácia comprovada, a ciência é clara: a Terapia Comportamental Dialética, ou DBT (Dialectical Behavior Therapy), é o padrão ouro no tratamento desse transtorno. Desenvolvida especialmente para lidar com os sintomas mais intensos e autodestrutivos do TPB, como automutilação, instabilidade emocional e comportamentos suicidas, a DBT equilibra aceitação e mudança, oferecendo ao paciente não apenas alívio, mas ferramentas reais para transformar sua vida.

Criada pela psicóloga Marsha Linehan nos anos 1980, a DBT surgiu da necessidade de oferecer um tratamento eficaz para pacientes com comportamentos suicidas crônicos, algo até então considerado de difícil manejo clínico. Desde então, a DBT se consolidou como o tratamento com mais evidência científica para TPB.

A filosofia por trás da DBT é a dialética, ou seja, a ideia de que é possível integrar aparentes opostos. O foco é equilibrar duas forças fundamentais: aceitação e mudança. “A DBT é especialmente eficaz na redução de comportamentos suicidas, automutilações e instabilidade emocional; se alicerçou na filosofia dialética, na qual os terapeutas se esforçam para equilibrar e sintetizar continuamente estratégias de aceitação e de mudança”, afirma a psicóloga especialista em DBT Thaysa Molina.

A psicoteraia é individual e, de acordo com Thaysa, consiste em treinamento em habilidades (regulação emocional, tolerância ao estresse, mindfulness, efetividade interpessoal); coaching telefônico e equipe de supervisão dos terapeutas.

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