Bill Gates, Elon Musk e Mark Zuckerberg, além de serem magnatas da tecnologia e ocuparem posições entre as 10 pessoas mais ricas do mundo no ranking da Forbes, eles compartilham outro aspecto em comum: o diagnóstico de autismo na fase adulta. No Brasil, personalidades como a atriz Letícia Sabatella, de 53 anos, e o apresentador Danilo Gentili, de 45 anos, revelaram em 2023 terem sido diagnosticados tardiamente. Uma realidade cada vez mais comum na vida de muitas pessoas.
Conhecido como Transtorno do Espectro Autista (TEA), o autismo não é uma doença, mas uma condição caracterizada por alterações nas funções do neurodesenvolvimento, que afetam a capacidade de comunicação, linguagem, interação social e comportamento. Os sintomas são diversos e sua intensidade varia, manifestando os primeiros sinais geralmente na infância, nos primeiros meses de vida, com o diagnóstico estabelecido por volta dos 2 a 3 anos. No entanto, também pode ocorrer mais tarde, na adolescência ou na fase adulta.
“Quando o diagnóstico é realizado entre 0 e 3 anos, o cérebro da criança apresenta maior flexibilidade para substituir e formar novos circuitos sinápticos, como aponta a neurociência. Isso permite corrigir atrasos e falhas no desenvolvimento por meio de estimulações adequadas”, explica a psicóloga Renata Salles de Moraes.
“Na fase adulta, o diagnóstico de autismo pode ser desafiador, pois os sinais e sintomas muitas vezes se manifestam de forma sutil. Além disso, muitos indivíduos desenvolvem mecanismos adaptativos que ajudam a esconder ou disfarçar os sintomas. Embora estejam presentes desde os primeiros anos de vida, nem sempre o diagnóstico é realizado de maneira adequada”, ressalta a psicóloga Daniela Barbosa Dias, do Hospital da Criança e Maternidade (HCM).
Segundo a especialista, o diagnóstico precoce é fundamental para uma intervenção mais efetiva e funcional. “Durante os primeiros anos de vida, o cérebro infantil possui uma grande capacidade de adaptação e desenvolvimento. Intervenções precoces podem aproveitar essa plasticidade para promover habilidades de comunicação, sociais e comportamentais. Além disso, o diagnóstico precoce possibilita a introdução de terapias que minimizam e previnem comportamentos desafiadores, permitindo que as famílias recebam apoio e informações sobre como ajudar o paciente”, afirma Daniela.
Renata destaca a importância de compreender que o autismo se manifesta de formas muito diversas em cada indivíduo, justificando o uso do termo “espectro autista”, por abranger uma ampla gama de sintomas e variações na gravidade, tornando cada caso único. No entanto, ela salienta que, apesar das diferenças individuais, todas as pessoas com autismo enfrentam um desafio comum: o preconceito. “A falta de conhecimento sobre o assunto tem causado muito desconforto para essas pessoas e seus familiares. É preciso entender para saber lidar da melhor forma possível”.
Conforme ressalta a profissional, a terapia é a abordagem mais eficaz para enfrentar os desafios do autismo na vida adulta, ao favorecer o autoconhecimento e auxilia no desenvolvimento de estratégias mais saudáveis para lidar com dificuldades, como angústias e traumas. “Percebo que, muitas vezes, quando recebe o diagnóstico de autismo, o adulto se sente aliviado, pois finalmente consegue entender o motivo por trás de alguns de seus comportamentos”, destaca Renata.
https://www.paho.org/pt/topicos/transtorno-do-espectro-autista

